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O Medo em Campo

24/3/2015

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ImagemFoto: Arapaçu-do-nordeste (Xiphocolaptes falcirostris) - Guadalupe-PI.
Engraçado; sempre há uma primeira vez para tudo né? 

Pois é, essa foi a minha primeira experiência de desespero em campo. Desespero de verdade! Estresse mesmo! Aquele que cê sabe que perdeu, pelo menos, dois anos de vida e acrescentou, pelo menos, 10 cabelos brancos para a coleção. 

Tive o “agradável” privilégio de me “perder” em campo. Coloquei entre aspas porque, na verdade, eu não me perdi. Eu estava muito bem localizado, mas pensava que minha dupla, o Bruno, havia se perdido (ou pior; topado em algum tronco e quebrado a perna em uma local bem longe, impossibilitando-o de voltar sozinho, ou batido a cabeça e desmaiado, descarregado o GPS e ter se perdido ou ter sido picado por uma cobra e morrido...). 

Enfim, pensei em umas dez possibilidades de coisas que poderiam ter dado errado. E infelizmente, aquela regra de que “notícia ruim chega logo”, não vale em campo, quando você está isolado a, pelo menos, 30 quilômetros da civilização mais próxima (civilização esta que só foi colocada no Googlemaps a pouquíssimo tempo).

O fato foi o seguinte:
Eu e Bruno estamos a trabalho aqui no Piauí e temos uma metodologia bem rigorosa a ser seguida. Para fazer a metodologia juntos (em dupla) teríamos que trabalhar seis horas de manhã e seis horas à tarde, aproximadamente. 
Quem passarinha sabe muito bem que nas horas mais quentes do dia, as atividades avifaunísticas caem bastante, então trabalhar de 10h00 às 14h00min é perda de tempo e exagero. 

Para “evitar a fadiga” e ter um resultado de maior qualidade optamos por nos separar para conseguir realizar a metodologia nas melhores horas para passarinhar (5h30 às 9h00 e 15h00 às 18h00). O único problema é que no primeiro dia ainda não nos conhecíamos e não tínhamos ainda um “feeling” de equipe em campo, ou seja, deu merda!
Quando chegamos ao local de amostragem daquele dia, fomos até o ponto de início, fizemos umas listas de espécies juntos e nos separamos para fazer a tal metodologia. O combinado era de se encontrar no mesmo local às 17h30min (no máximo!).

Sai para passarinhar (trabalhar) e quando ficou perto do horário (faltando meia hora), comecei a voltar para o ponto de encontro, mesmo não tendo acabado os pontos da metodologia. Quem me conhece sabe que eu me preocupo muito com horários combinados e não costumo me atrasar para as coisas (a não ser que algo sério mesmo tenha acontecido). 

Cheguei às 17h17min e fiquei esperando o Bruno. Pensava que ele já estaria lá, mas fiquei tranquilo porque ainda nem estava no horário combinado. Oito minutos depois, eu decidi dar uma primeira chamada e comecei a dar uns assobios e gritos (Ieiiiii!, tipo isso mesmo). 

Sei que ainda não estava na hora, mas pensei: se ele irá chegar aqui às 17h30min, então 5min antes da hora combinada, ele já pode me escutar (teoricamente): NÃO FOI ASSIM (nem perto)! Passaram 2, 4, 7, 10, 15 minutos e NADA do Bruno aparecer. A preocupação começou a ficar séria...

...apareceram duas maracanãs-pequenas (Diopsittaca nobilis) para passar minha preocupação durante 3 minutos completos...

...mas quando volto para a realidade parece que piora! Gritei mais! Assobiei MAIS! E nada!

– “Sabia que aquele lifer não tinha vindo à toa” – eu pensei ao lembrar que mais cedo eu havia fotografado uma ave INCRÍVEL que eu nunca havia fotografado antes (Foto) (chamamos isso de “lifer” em nosso mundo de observadores de aves).


– “Se essa fosse a consequência, preferiria ficar sem o arapaçu-do-nordeste (Xiphocolaptes falcirostris)... por enquanto” – continuei com meus pensamentos.

Quando deu 18h00min, voltei para o carro e esperei uns 10min por lá também. 

– “Pronto. Beleza! Vou ficar aqui mesmo esta noite, pois o Bruno morreu e a chave do carro está com ele” – Eu pensei enquanto juntava galhos para “tentar” fazer fogo. Tentando fazer fogo daquele jeito: friccionando uma madeira na outra até esquentar o suficiente e pegar fogo. Dois minutos depois, cansei e desisti. Pior que antes deu viajar minha mãe estava pegando no meu pé para eu sempre andar com um canivete e um kit fogo talvez. Se só os filhos escutassem as suas mães (talvez o mundo fosse um lugar melhor).

Fui andando até o acesso onde os meninos da outra equipe (Herpetologia: cobras, lagartos e sapos) teriam a possibilidade de passar. Quando chego perto de lá, milagrosamente chega uma mensagem no meu celular de que alguém havia tentado me ligar (Valeu pai!). Só assim, pude saber que havia sinal naquele raio de 1m onde havia passado. 
Fui voltando em passos lentos até chegar nesse raio novamente e liguei para a coordenadora da expedição falando o que havia acontecido e pedindo para ela avisar a alguém da outra equipe onde eu estava. Deixei também aqueles velhos recados de despedida: “diz pra minha mãe que eu a amo”, “deixo todos os meus livros científicos com o Doutor Leandro”, “Diga para o meu pai que eu não atendia meu celular por falta de crédito, mas que eu amo ele também”. Enfim, essas coisas...

Preparei-me para uma longa noite no mato, quando, 10min depois vejo luzes de carros se aproximando (eu já estava com a capa de chuva e tudo mais. Já ia me preparar para dormir). 

ERAM ELES! 

Fiquei no meio da pista. Eles pararam.

Fomos até o ponto onde estava o carro e começamos a agir: buzinar, gritar etc.
Quando estávamos prontos para “quebrar a mata nos peito” indo atrás do Bruno, ele chega!

Ele alega que não estava perdido.

Tudo bem então. Com isso aprendemos algumas lições.

Lição #1: Nunca ande só nos matos
Lição #2: Sempre chegue no horário combinado
Lição #3: Sempre ande com alguma coisa para fazer fogo
Lição #4: Sempre ande com alguma coisa que corte
Lição #5: Escute os conselhos da sua mãe!

Moral da história
“O combinado não sai caro” – Isabel Cristina Fernandes (Bel)
Essa frase/ditado pode muito bem ser de um sábio chinês lá “dos cafundó das India”, mas como é a Bel que sempre me fala isso, dou os créditos a ela.

Conclusão geral
O Xiphocolaptes falcirostris não foi de graça!

Para críticas e/ou sugestões: contato

Imagem
Foto: Pica-pau-de-topete-vermelho (Campephilus melanoleucos). Um bichinho interessante que apareceu para fotografar neste mesmo dia.
Imagem
E para aqueles que se perguntaram "onde diabos é Guadalupe"? (Imagem da internet)
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    Caio Brito

    Ornitólogo, escritor e aventureiro. Mestre em Zoologia e aprendiz da vida.

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