Esta expedição, como muitas outras coisas que acontecem em minha vida, surgiu “do nada”! Estava na Paraíba, em João Pessoa, e, enquanto trabalhava na reforma do meu site, conversava virtualmente com o André Grassi para que pudéssemos fazer alguns roteiros de Birdwatching em parceria.
Eis que surge uma excelente ideia...
- Ô meu amigo, vou fazer uma viagem de prospecção em Tocantins no mês de março, cê não quer ir junto? – André falou por mensagem.
- Rapaz, olha que eu vou mesmo! – Eu respondi.
Conversa vai, conversa vem, estou aqui no avião, pronto para mais uma expedição.
Chego em Palmas hoje por volta das 16h30 e meu voo de volta para Fortaleza-CE é no dia 16, à noite, saindo de Salvador. O plano é chegar em Fortaleza no dia 17 de madrugada e já inicio um trabalho no dia 18 de madrugada.
Passei os 3 últimos dias com um sentimento muito estranho, acho que ansiedade misturada com estresse. Cabeça leve, respiração meio ofegante e até algumas tonturas. Agora esse sentimento parece estar passando aos poucos.
O objetivo principal desta viagem, pelo menos para mim, é conhecer novas localidades, procurar por espécies raras e/ou endêmicas e passar duas semanas curtindo com um amigo.
Simbora!
(Histórias em Guadalupe: 1 e 2)
Ontem já iniciamos a viagem com pé direito; nos perdemos nas vastas estradas de terra de Tocantins. Sem asfalto, sem placas, sem pessoas por perto para pedir informação, apenas quilômetros e quilômetros de areia vermelha de cerrado. Estávamos perdidos no Jalapão... à noite! Por sorte (ou não), estávamos com GPS no carro e GPSKit no Smartphone e, depois de uns 40Km, decidimos voltar para tentar outro caminho. Acertamos o caminho nessa segunda tentativa, mas perdemos, pelo menos, uma hora e meia de viagem. Só chegamos aqui depois das 22h.
Chegamos em um local tão especial que, até de noite, no escuro, nos chocou com tamanha beleza. Estamos no JALAPÃO ECO LODGE.
No caminho até o Eco Lodge já começamos a tomar umas latinhas de Heineken para comemorar o início do que seria uma bela expedição. O importante é que, mesmo nos perdendo, rimos e conversamos bastante.
Combinamos com o funcionário daqui, Guilherme, o café da manhã e de nos deixar em um ponto específico para iniciar nossa “missão”, mas, infelizmente, ele não acordou e tivemos que mudar nosso plano. Acabamos passarinhando na estrada mesmo, em um cerrado bacana. O plano era de passar a manhã passarinhando em uma vereda que tem aqui na propriedade, mas... não deu... hoje não. Depender dos outros tem dessas coisas mesmo; nunca se sabe. Quem sabe amanhã.
Mesmo hoje não tendo saído como planejado, tive alguns lifers: Picumnus albosquamatus (só escutei), Herpsilochmus longirostris (só escutei), Tyrannus albogularis (fotografia) e Polioptila dumicola (gravação e fotografia), além de algumas boas fotos de outros bichos legais.
Depois que chegamos: passarinhada vespertina, cerveja pós-passarinhada, jantar, conversa e sono.
Relembrar aqui o dia 02 de março de 2016, em outras palavras, ontem:
Acordamos por volta das 5h e nos encontramos com o Guilherme no salão comum. Ele acordou. Tomamos café da manhã e ele foi nos deixar no início da vereda. Vários bichos interessantes nesta manhã, como Melanopareia torquata (foto), Anodorhynchus hyacinthinus (foto), Berlepschia rikeri (foto), Antilophia galeata (foto), Herpsilochmus longirostris (foto e gravação). Além disso, recebemos, quase no final da trilha, companhia de duas meninas que conhecemos no dia anterior (Bruna e Laura) e do Guilherme. Curtiram bastante esse negócio estranho de observar aves.
Por volta das 11, fomos para a casa do Renato tomar banho e preparar as coisas para dormir. O plano era voltar para o bar, mas depois de um banho quente, não teve como vencer o sono. André acabou não voltando para o bar também.
Passamos mais ou menos meia hora por lá; admirando a paisagem, conversando e observando aves. Antes de ir à casa do Renato, passamos em um posto para abastecer o carro. Aproveitamos e colocamos quase 40 litros de diesel em um tambor para levarmos conosco na viagem. Assim fica mais barato para nós.
O almoço na casa do Renato foi sensacional; começamos com uma dose de São Paulo (cachaça que eu trouxe da Paraíba) e depois passamos para Cachaça do Jaime (de Frutal-MG) e cerveja Tupiniquim antes do almoço. A Milena cozinha muito bem! O negócio é gourmet mesmo! Não vejo a hora de trazer o Bill para provar a comida dela com uma boa cerveja. Ainda teve de sobremesa um doce de buriti.
Já chegamos aqui no final do dia para falar com o Seu Lorenço. Queríamos conversar com o proprietário da mata onde andaremos amanhã. Quando chegamos aqui, conversamos com ele e sua família e fomos na fazenda ao lado para falar com outro proprietário, grande amigo da família, o Seu Sebastião. O mato em que vamos passarinhar amanhã é dele na verdade. Fomos em sua propriedade falar com ele e na volta fomos convidados para ficar por aqui mesmo. Eles já haviam nos convidado antes de irmos conversar com o Tião, mas o Seu Lorenço reforçou o convite dizendo que era muito agradável nos receber por aqui e que sua família (filhos) estavam muito felizes com a nossa presença. Legal demais.
A janta estava uma delícia também; galinha caipira. Essa viagem está quase sendo mais gastronômica do que ornitológica.
Só uma observação que eu não posso deixar de ressaltar: é incrível como essas pessoas da roça sabem “apertar uma mão” e olhar nos olhos com firmeza. Uma das coisas que me deixa mais aflito é apertar uma mão mole. Sem sal, sem compaixão, sem firmeza, sem confiança são alguns pensamentos que passam pela minha cabeça ao apertar uma mão mole. Tenhamos mãos firmes meus amigos! Confiança, compaixão, força, coragem, honestidade.
Conversamos bastante antes, durante e depois do jantar.
Amanhã acordaremos às 5h para passarinhar.
Chegamos na mata por volta das 6 e o dia já iniciou com uma grande surpresa: Sclerurus macconnelli. Enquanto estávamos gravando um Emberizoides herbícola em um campo aberto, o André escutou o bicho cantando de dentro da mata. Muito bacana. E logo em seguida, boas fotos do famoso Pica-pau-do-Parnaíba (Celeus obrieni).
Passarinhada matinal: 80 espécies com destaque para Celeus obrieni, Pyrrhura amazonum, Cercomacra manu, Sclerurus macconnelli e Iodopleura isabellae.
Almoço: leitoa, galinha, abóbora, salada de maionese.
Cochilo
Passarinhada vespertina: quase 30 espécies com destaque para Crypturellus undulatus, Lurocalis semitorquatus e Sirystes sibilator.
Jantar: galinha (feijão, arroz, farofa, tomate)
Dormir agora (22h30min) para acordar amanhã às 5h30.
Depois de meia hora pela mata, decidimos voltar logo para arrumar nossas malas e sair cedo da Fazenda Alvorada em direção à onde estamos agora. Arrumamos tudo e colocamos no carro para tomar nosso último café da manhã com a linda família do Seu Lorenço e Dona Cristiane. Comemos, conversamos e nos despedimos.
A tarde não fomos passarinhar por causa de um temporal que caiu. Aproveitamos para passar a tarde no “laboratório”.
Comemos um churrasquinho do lado do hotel.
Sono.
Tomamos café da manhã às 6 e meia e, por volta das 7 e meia, partimos para Lagoa da Confusão. Passamos na casa da Preta para buscar nossas roupas que ela havia lavado, mas que não deram tempo de secar por causa da chuva (levamos tudo molhado dentro de sacolas mesmo). Colocamos o diesel do tambor no carro com uma mangueira que conseguimos com um cara no posto.
Chegamos na Lagoa da Confusão por volta das 13h, onde nos encontramos com o Eduardo Bernardon para que ele nos levasse até a pousada da sua família (Hotel Fazenda Praia Alta). Almoçamos por aqui: uma delícia!
Passarinhada vespertina despretensiosa com direito a 76 espécies registradas. Muitas das quais ainda não havíamos registrado nessa expedição.
Cerveja a noite.
Passarinhada matinal em Lagoa da Confusão. Deparei com muito desmatamento lá e pelo caminho até palmas.
...Entendo perfeitamente que o país precisa de "progresso" e que isso depende de diversos fatores que, infelizmente, envolvem o desmatamento, mas:
1- não concordo com o desmatamento de milhares de hectares de mata virgem só por desmatar (para "limpar" a área). Essa área, por exemplo, que foi desmatada e nem para o dito "progresso" está servindo. O matagal foi substituído por nada!!!
2 - acredito, e até já vi, que EXISTE progresso sustentável. Há maneiras de PRODUZIR ("progresso") e PRESERVAR!
...para uma pessoa apaixonada pela natureza e que viaja pelo Brasil em busca de espécies raras, dói muito no peito ver uma cena dessas e saber que, onde registravam-se pelo menos 100 espécies numa manhã, hoje só canta o tiziu e meia dúzia de espécies de campo aberto!
MUITO TRISTE!!
Enfim...
Suco e salgado integral no Pali Pallam (estabelecimento do Edu, amigo do André).
Cerveja muita na feirinha.
Viemos para a Fazenda Ecológica e chegamos aqui quase às 23h.
Mas, para falar a verdade, não sei se o cerrado estava sem muitos bichos cantando ou se minha vontade de voltar logo para o hotel e tomar uma cerveja estava maior. Sei lá, eu estava meio cansado, o sol estava quente, queria uma cerveja gelada para comemorar a vida.
Finalmente, depois de longos 37 minutos, voltamos para o hotel e tomamos aquela cerveja.
Saímos de Taquaruçu por volta das 6h e chegamos em Lençóis às 21h30. É, muita estrada.
Cenas alucinantes.
Lembro até que em 2012, quando estava fazendo a viagem de moto pelo Brasil, um caminhoneiro com quem conversei em Goiás, me convenceu a voltar por aqui. Ele disse que as paisagens eram deslumbrantes. Concordo!
De manhã fomos até Mucugê para procurar o Tapaculo-da-diamantina (Scytalopus diamantinensis), mas não obtivemos êxito.
Almoçamos no Bode, em Lençois.
Voltamos para o campo logo após o almoço para não perder tempo: Mata Úmida ao lado do centro de Lençóis, Trilha de campo rupestre perto do Morro do Pai Inácio e por fim, Morro do Pai Inácio.
Quando voltamos, fomos direto na rua tomar um “cavalo do cão”. Antes passamos na “Fazendinha e tal” e tomamos umas doses de cachaça (cajá, pitomba e junco). Enquanto estávamos bebendo, um cara que estava lá e pediu uma pizza nos ofereceu metade. Como não somos mal-educados, aceitamos fácil.
Depois de tomar umas, passamos na Biojóias para falar com a Bela e deixar a hospedagem paga.
Estrada.
Aeroporto.