(For what it’s Worth – Buffalo Springfield)*
Depois do almoço, arrumei minhas malas, coisa que já era para eu ter feito há muito tempo, já que passarei quase, ou até mais, de um mês fora de casa. A Marilia, grande amiga da época do colégio, também passou lá em casa para pegar algumas sementes de urucum (Bixa orellana) para o carnaval de Olinda. Com certeza esse negócio em Olinda vai ser bom!
Por volta das 14h30, Marcel Lucena chegou lá em casa para que fôssemos atrás do primeiro bicho da expedição, a Araponga-do-nordeste (Procnias averano). Até então, nunca havia conhecido e nem falado virtualmente com o Marcel. Nos conhecemos assim que ele entrou pelo portão da casa da minha mãe. O que acontece é que a equipe original seria eu, Leandro Rodrigues, Cecília Licarião e Jackson Forte, mas, por motivos maiores, os dois últimos tiveram que desistir de última hora.
Quando o Marcel chegou, ainda estava terminando de arrumar minhas malas então só fomos sair depois das 15h. Além de tudo, ainda tive que fazer um “curativo” para uma tatuagem que fiz no braço no dia anterior. Olha o que eu vou inventar um dia antes de uma viagem longa e cansativa dessas. Sei não viu...
Dirigimos por volta de uma hora para chegar no pé da serra onde ficam as arapongas. Agora é que está a parte ruim; logo no início, tivemos que fazer nossa primeira decisão, direita ou esquerda. E foi nessa parte que erramos, pegamos para a direita.
Não peguem para a direita!
Fizemos isso porque à esquerda tinha uma grande placa dizendo “propriedade particular, não entre”, mas pode entrar, só dizer que é amigo do Caio Brito, o cabeludo (ninguém sabe nem quem eu sou).
Enfim, as duas estradas são péssimas e só é possível se for com carro 4x4. De longe, o pior trecho de toda a viagem! Só soubemos que estávamos no caminho errado, quando, lá em cima, já no topo, perguntamos para uma mulher e ela nos informou. Estávamos em um lugarejo chamado Mariana. Nunca saberia que isso existia aqui no Ceará.
Voltamos TUDO de novo e acertamos o caminho, chegando ao ponto das arapongas, que o amigo Lindemberg me passou, no limite da luz solar (por volta de 17h30).
Foi uma sensação EMOCIONANTE! Primeiro, só de ouvi-las já me arrepiei. Depois de uns 10 minutos de procura, quando finalmente a localizei, ai... realmente uma sensação indescritível!
Essa viagem começou com pé direito!
Saímos do açaí, passamos na casa do Leandro, fizemos algumas compras no supermercado e fomos para Guaramiranga.
Lista do dia com cerveja em Guaramiranga, com direito a Terezópolis e tudo mais!
- Motivo: Primeira foto que faço do bicho e lifer para o Marcel!
Listas do dia:
- Serra da Aratanha: lista
Assim que levantei da cama, corri para a cozinha para preparar um bom café. Enquanto esquentava a água, começou a chover. Tomamos um cafezinho com alguns petiscos até a hora em que a chuva parou, por volta das 4h50, e fomos direto para um dos dormitórios dos periquitos-de-cara-suja (Pyrrhura griseipectus). Deu certo! Derem show! Com pouca luz para fotografias, mas deram show.
Passarinhamos em mais dois locais, que, juntos, nos rendeu TODAS as espécies-alvo da serra:
- Hotel Remanso: Tovaca-campanhia (Chamaeza campanisona), Chupa-dente-do-Ceará (Conopophaga cearae), Saripoca-de-gouldi (Selenidera gouldii).
- Parque das Trilhas: Vira-folha-cearense (Sclerurus cearensis), Saíra-militar/Pintor (Tangara cyanocephala cearensis), Uirapuru-laranja/Guaramiranga (Pipra fasciicauda scarlatina), Pica-pau-anão-da-caatinga (Picumnus limae), Arapaçu-rajado-do-nordeste (Xiphorhynchus atlanticus), Maria-do-nordeste (Hemitriccus mirandae) e o raríssimo Uru (Odontophorus capueira plumbeicollis).
Saímos por volta das 15h rumo à Potengi, com paradas ao longo do caminho em algumas lagoas para procurar por bichos aquáticos.
Jantamos pizza e planejamos o dia de amanhã.
Chegando no hotel, tomamos banho, fizemos a lista de espécies do dia e capotamos na cama.
- Motivo: Além de ser um bicho fantástico, a subespécie que ocorre no Maciço de Baturité é criticamente ameaçada e passou quase UM ANO SEM SER REGISTRADA no maciço até este dia. Fizemos quatro boas gravações, mas infelizmente não conseguimos foto. A situação desta população está FEIA!
Listas do dia:
- Guaramiranga: lista
- Quixadá: lista
- Estrada 1: lista
- Estrada 2: lista
Pela manhã, passarinhamos na Reserva Florestal do Sítio Nascente e no Sítio Pau Preto. Ambos com uma certa pressa, sem nos dedicar tanto à fotografia, pois ainda iriamos no soldadinho-do-araripe antes de uma longa viagem para Canudos. Mesmo assim, conseguimos algumas boas fotografias (principalmente o Marcel) e boas gravações.
Nos despedimos de todos e seguimos nosso caminho para Barbalha, deixando a Aline (esposa do Bob) no Crato para ela ir à faculdade.
Ficamos no Arajara Park até 3 e meia. O Marcel conseguiu fotos muito boas da estrela principal e eu, finalmente, gravei o bicho!
Deixamos nossos pertences no Hotel Brasil e fomos jantar uma pizza no Restaurante Doce Mel.
Acabei indo dormir quase meia noite. Ô dia longo!
- Motivo: Não há como discutir...
Listas do dia:
- Araripe: lista
- Potengi: lista
- Barbalha: lista
Chegamos no alojamento da reserva às 04h10min e só saímos de lá às 4 e 50 pois encontrei com os amigos Marcos Holanda, Ester Ramirez e Sergio Gregório. Depois curta, mas boa conversa, pegamos o rumo do buraco, o dormitório das araras, com o Dorico (Guia florestal da reserva).
Chegando lá: ARARA-AZUL-DE-LEAR! E não há nem o que falar. Vou apenas mostrar:
Chegamos em Patos às 17h30min depois de uma longa viagem de 600Km.
Chegando lá, foi só alegria: cerveja e bons papos com o velho amigo Arnaldo Vieira, que eu não via há tempos. Muito orgulho dele e da Clarinha (sua esposa) que estão numa casa maravilhosa em Patos. Parabéns meus queridos!
- Motivo: dispensa qualquer tentativa de explicação.
Listas do dia:
- Reserva Biológica de Canudos: lista
- Posto Fiscal em Penaforte-CE: lista
- Patos-PB: lista
Um café da manhã maravilhoso colocando várias conversas em dia com o Arnaldo.
Almoço na estrada, em Santa Luzia.
Antes de almoço, já estávamos com vontade de tomar um banho de lagoa na beira da estrada, pelo menos foi isso que os meninos me falaram. Eu queria! Depois do almoço, a minha vontade continuou forte, então mantive um olhar atento para os corpos d’água na beira da estrada. Quando, finalmente, achei um que me agradasse (tamanho, cor e transparência da água, acessibilidade, vegetação aquática, vegetação circundante e vontade à primeira vista), puxei a direção para chegar nessa lagoa. É nesse momento da puxada de direção que você vê quem realmente queria e quem estava apenas colocando lenha na fogueira.
- Tu tava falando sério Cabritin? – Leandro perguntou meio assustado sem crer que eu realmente queria tomar um banho de lagoa.
- Oura mais. E num era sério não? – respondi.
Quando estávamos saindo da pista, percebi dois bichos estranhos voando acima e, quando dei mais atenção, vi que eram dois biguatingas (Anhinga anhinga) voando alto. Descemos rapidamente do carro e garantimos algumas fotos de registro.
Estacionei o carro em uma sombra e, quando começamos a andar em direção a onde os biguatingas tinham voado, um homem estranho, sem camisa, se aproximou do meu carro e me chamou em um tom quase inaudível. Um cara muito estranho com comportamento suspeito.
- O que cê quer aqui? – limpo e seco, assim mesmo como está escrito, ele me perguntou.
- Rapaz... eu vim tomar um “banhzin” de lagoa aqui para refrescar a cabeça. Sol ta quente né? – eu respondi tentando ser simpático, como sempre.
- Pode não! – ele respondei. Teve aqueles dois segundos imensos de silêncio enquanto eu imediatamente arregalei os olhos, sem entender bem a resposta grossa que ele me deu.
- Pronto, esse cara vai me matar! – eu apenas pensei. Enquanto isso, os meninos estavam longe e sem escutar nada. – ééé, por que não? Água muito suja é? – eu finalmente tive coragem de falar alguma coisa.
- Não, porque eu não quero!
- Filha da puta meu irmão! – Novamente, eu apenas pensei. Vou dá um soco nesse cara! Mentira! Eu estava morrendo de medo, isso sim! Antes que eu pudesse falar alguma coisa, acho que ele percebeu minha cara de primórdios de irritabilidade, ele incrementou à sua fala.
- É porque eu uso essa água para viver. Faço tudo com ela. Venha aqui, me siga, deixa eu te mostrar minha situação.
Olhei para os meninos com cara de surpresa e fiz um gesto para que eles viessem logo e nos seguissem. Quando dobramos o corredor de juremas (), já vi onde ele morava: debaixo da ponte. Chegamos mais perto e ele nos mostrou como vivia, como cozinhava e que só estava naquela situação por causa de mulher!
- Cuidado! Mulher só quer o cara quando ele está em cima, com dinheiro. Gastei tudo com cachaça e puta! E agora estou aqui, morando debaixo de uma ponte. Mulher é perigoso, mulher é o cão. – ele passou pelo menos uns 5 minutos falando de mulher e como tínhamos que tomar cuidado com esse negócio.
Até entendo o cara, mas acho uma merda essa cultura que 90% dos homens do país possuem: se tem grana, tem que torrar TUDO com cachaça* e puta! Só lamento. Prefiro gastar com livros e viagens. *cachaça: qualquer bebida alcoólica quente. Geralmente, quando esses caras estão endinheirados, vão de black, blue, green e gold label. Normal.
Passarinhamos no local, sem tomar banho, e registramos quase 40 espécies, inclusive algumas novidades para a viagem.
Quando chegamos em Areia, ainda estava claro, então demos uma breve parada na Mata do Pau Ferro para ver o que tinha de bom por ali antes de ir para o churrasco na casa do Professor Helder, meu orientador. Ainda conseguimos duas espécies raríssimas; o pintor-verdadeiro (Tangara fastuosa) e a Papa-taoca-de-pernambuco (Pyriglena pernambucensis).
Casa do Helder. Muita cerveja e um pouco de cachaça.
Churrascaria do Castelo. Muita cerveja.
Casa.
Fizemos a lista do dia.
Deitei meia noite e meia.
- Motivo: apesar de ser uma ave bem comum em várias regiões do Brasil, no Nordeste é uma ave vagante e incomum de se ver. Pela ave e pela surpresa, a escolhemos como "ave do dia".
Listas do dia:
- Santa Luzia: lista
- Santa Luzia: lista
- Estrada: lista
- Areia: lista
Levantei, fiz café e deitei de novo. Levantei, tomei o café e deitei mais uma vez. Levantei me vesti, tomei mais café e, finalmente, saímos de casa por volta das 6.
Dia intenso de passarinhada no Parque Estadual Mata do Pau Ferro. Muitos bichos legais, mas, infelizmente, o Tatac (Synallaxis infuscata) não apareceu.
Marcel passou mal no final da trilha. Péssimo lugar para isso acontecer, já que tem pelo menos 1km na volta... só de subida! O bichinho até vomitou. (Ainda não sabíamos, mas dois dias depois seria eu o “contaminado” e 4 dias depois seria a vez do Leandro. Ou foram as piabas que comemos ou é essa virose que todos estão falando mesmo).
Almoço na Vó Maria, comida regional. Sorvete no centro da cidade. Soneca após almoço.
Passarinhada vespertina na barragem de pitombeira e, quando voltamos para deixar o Wylde em Areia, comemos na padaria.
Chegamos em João Pessoa por volta das 8 e meia e fomos direto na casa do Tio Huguinho, falar com o pessoal e entregar as blusas que tinha encomendado.
Viemos para a casa do Tio Henrique e Tia Valerinha e fomos dormir por volta das 23h, eu, já com o estomago bem embrulhado.
Listas do dia:
- Areia: lista
- Alagoa Grande: lista