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Caio Brito
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Tour Norte/Nordeste - Março/Abril de 2016

19/7/2016

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Deixarei que o Bill Simpson conte sobre esta viagem em seu Trip Report.

A seguir, vou colocar o Trip Report (relatório de campo) sobre esta viagem escrito por ele.

Para quem quiser ver outros relatos sobre tours no Nordeste, procure na categoria “Tour Nordeste” na aba à direita da tela.
brazil_march_12th-_april_12th_2016.pdf
File Size: 7845 kb
File Type: pdf
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FOTOS
Fotos realizadas por mim durante a expedição.

Parte I
Icapuí - Pacatuba - Guaramiranga - Quixadá - Potengi - Crato
Guaramiranga-CE
Guira Tanager (Hemithrapis guira)
Red-Cowled Cardinal (Paroaria dominicana)
Masked Water-Tyrant (Fluvicola nengeta)
Palm Tanager (Tangara palmarum)
Burnished-buff Tanager (Tangara cayana)
Red-necked Tanager (Tangara cyanocephala cearensis)
Blue Dacnis (Dacnis cayana)
Gray-breasted Parakeet (Pyrrhura griseipectus)
Gray-breasted Parakeet (Pyrrhura griseipectus)
Quixadá-CE e Potengi-CE
Pygmy Nightjar (Hydropsalis hirundinacea)
Pygmy Nightjar (Hydropsalis hirundinacea)
White-naped Xenopsaris (Xenopsaris albinucha)
White-naped Xenopsaris (Xenopsaris albinucha)
Spotted Piculet (Picumnus pygmaeus)
Spotted Piculet (Picumnus pygmaeus)
Caatinga Antwren (Herpsilochmus sellowi)
Ceara Leaftosser (Sclerurus cearensis)
Burrowing Owl (Athene cunicularia)
Caatinga Cachalote (Pseudoseisura cristata)
Barbalha-CE
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Araripe Manakin (Antilophia bokermanni)
Parte II
João Pessoa - Santa Rita - Areia - Canudos - Lençóis - Mucugê - São Domingos - Palmas - Lagoa da Confusão - Pium

João Pessoa-PB, Santa Rita-PB e Areia-PB
Seven-colored Tanager (Tangara fastuosa)
Rufous Gnateater (Conopophaga lineata)
Canudos-BA
Pectoral Antwren (Herpsilochmus pectoralis)
Bill Simpson e André Grassi fotografando a Arara-azul-de-lear
Lear's Macaw (Anodorhynchus leari)
Chapada Diamantina-BA
Hooded Visorbearer (Augastes lumachella)
San Francisco Sparrow (Arremon franciscanus)
São Domingos-GO
Pfrimer's Parakeet (Pyrrhura pfrimeri)
Helmeted Manakin (Antilophia galeata)
Palmas-TO
Southern Antpipit (Corythopis delalandi)
Bill in the Cerrado
Blue Finch (Porphyrospiza caerulescens)
Russet-crowned Crake (Laterallus viridis)
Bill and the Eared Puffbird (Nystalus chacuru)
Crested Black-Tyrant (Knipolegus lophotes)
Pium-TO
Searching for Kaempfer's Woodpecker
Kaempfer's Woodpecker (Celeus obrieni)
Searching for Kaempfer's Woodpecker
Large-billed Tern (Phaetusa simplex)
Amazonian Tyrannulet (Inezia subflava)
Hoatzin (Opisthocomus hoazin)
Riverside Tyrant (Knipolegus orenocensis)
Araguaia Cardinal (Paroaria baeri)
Black-banded Owl (Strix huhula)
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Tour Nordeste - Setembro de 2015

15/7/2016

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O primeiro trabalho oficial como Guia de Birdwatching a gente nunca esquece...
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Guaramiranga – CE, 20 de setembro de 2015 (Domingo)
(Amor e outras cositas mas – Saulo Duarte e a Unidade)
Do nada, estou aqui em Guaramiranga. Pensando bem, até que foi um pouco previsível. Mas eu poderia estar em qualquer outro lugar desse mundo. Se tivessem me chamado para o Rio Grande do Sul com hospedagem e alimentação inclusos, eu com certeza iria também. Mas essa oportunidade de hospedagem e alimentação inclusos surgiu para outras localidades e aqui estou eu. E não poderia ter sido melhor.

Estou aqui guiando dois japoneses e um americano (Bryan Shirley). O americano é um guia mundial especializado em guiar observadores de aves japoneses. Será que o trabalho do cara poderia ser mais específico? Como ele nunca veio ao nordeste, me contrataram para acompanha-los. Daqui, vou com eles até o Crato e depois Canudos, na Bahia. De lá, eles continuam e eu volto para casa (Fortaleza-CE).

Dizem que as coisas acontecem por um motivo e/ou que depois de algo ruim, vem coisas boas. Sei nem se essas frases são assim mesmo, mas isso aconteceu comigo e tem me deixado mais crente nesses últimos dias.

Foi mais ou menos assim; eu ia para uma consultoria ambiental na Praia da Baleia (litoral cearense), mas, devido a algumas burocracias (nojentas, que não detalharei aqui), eu não fechei contrato com a empresa sob aquelas medidas. Infelizmente, em alguns casos, é assim: ou faz errado ou cai fora.

Caí fora!

(Quer saber? No texto original do meu diário, eu não detalhei, mas vou detalhar, nem que seja um pouco)

A empresa de consultoria ambiental me chamou para esse trabalho e tinha no contrato o seguinte (vou resumir sem citar palavra por palavra): Eu faria 15 dias de campo sem receber nada e teria que fazer um relatório para ser aprovado pelo órgão ambiental. Caso o relatório não fosse aprovado por qualquer motivo, eu não receberia o pagamento nem pelos dias que trabalhei em campo. Caso o relatório fosse reprovado devido a ocorrência de alguma espécie rara ou ameaçada de extinção naquela localidade, eu teria que modificar o relatório (ou seja, dizer que essas espécies não existiam lá) para que o mesmo fosse aprovado e eu pudesse receber meu pagamento integral. Isso é um ABSURDO! Vale ressaltar que as diárias que eu seria pago eram vergonhosas, no limite do RIDÍCULO. Com relatório e tudo incluso. Estou até com medo de estar expondo essas coisas dessa maneira, mas já cansei desse Brasil, que, para todo lado que você olha tem corrupção e coisa errada.

(Eu tentei negociar, e, depois de mais de 20 e-mails trocados, eles insistiram no ABSURDO e no RIDÍCULO)

Caí fora!

Uma bela noite, acho que foi numa terça ou quarta-feira, o Jefferson Bob me liga, perguntando se eu não queria guiar esse pessoal.

– O que? É claro que eu quero né? – Eu respondi sem nem pensar no caso (como faço com 90% das coisas que decido).

Ele me passou o contato e tudo foi resolvido em menos de uma hora. O que não foi resolvido em mais de uma semana (consultoria ambiental), resolvi em menos de uma hora (guiada). Menos complicações, mais divertido, menos trabalho pós-campo, mais bem pago... tenho um leve pressentimento que vou preferir ficar fazendo isso daqui em diante.

Quinta-feira eu subi a serra com uma amiga passarinheira, a Cecília. Fiz isso mais ou menos como uma forma de treino, para verificar quais bichos estariam bons de ver com este grupo que estou agora. Na sexta-feira, passamos o dia passarinhando com o Fábio Nunes, da Aquasis, e descemos no sábado bem cedinho (6h).

Até que deu para ver e fotografar alguns bichinhos legais:
Northern Lesser Woodcreeper (Xiphorhynchus atlanticus)
Rufous-bellied Thrush (Turdus rufiventris)
Sábado, assim que cheguei, fui ao Shopping Iguatemi para comprar algumas coisas que seriam uteis nessa viagem e que eu estava precisando; cabos p2-p2 (sempre quebram, então é sempre bom ter mais de um), carregador para minha caixa de playback e um laser (apontador).

Depois das compras, fui em casa deixar as coisas e sai para almoçar com o Bob e Natalia na casa da Luciana, uma amiga de faculdade. Revi alguns amigos que não via a muito tempo, inclusive a Val, que não via a mais de 5 anos. A Val foi minha professora na UECE.

A casa da Luciana é muito massa, muito aconchegante. E o almoço estava uma delícia! Antes de almoçar, tomamos aquela cerveja e umas doses de cana também. Deu até para ficar meio bêbado. 

Por volta das 4 e meia, a mãe da Natalia foi nos pegar e fomos para a casa dela, ajudar a preparar umas comidas para o “encontro das meninas” que a Natalia estava organizando com amigas do colégio. Demos uma grande agilizada nas coisas e deu para terminar tudo a tempo.

Umas 18h, o irmão do Bob foi nos pegar. Deixou o Bob na casa do George e depois fomos conversando até chegar na minha casa. Queria muito ter ido para a casa do George, mas ainda tinha muita coisa para organizar antes de iniciar esta viagem. Tive que baixar milhares de arquivos de áudio (cantos de aves) para fazer playback e ainda tive que fazer as malas.

Acordei hoje às 5 e só fui acabar de organizar tudo perto das 11. No limite. Ainda bem que deu tudo certo. 

Almocei um pouco mais cedo e sai de casa para encontrar com eles no aeroporto às 12h40. Enquanto esperava, tomei um café.

Assim que eles chegaram, pegamos o carro na locadora e pegamos a estrada para Guaramiranga. Como chegamos ainda de dia, decidi garantir logo o cartão de visita da serra; o periquito-cara-suja (Pyrrhura griseipectus). Foi sucesso! Quando chegamos ao local, os bichos já estavam cantando por perto. Os japoneses viram e conseguiram fotografar. Entre um periquito e outro, ainda fotografaram outras espécies: lavadeira-mascarada (Fluvicola nengeta), bentevizinho-de-penacho-vermelho (Myiozetetes similis), saíra-militar (Tangara cyanocephala cearensis), saí-azul (Dacnis cayana).
Variable Antshrike (Thamnophilus caerulescens cearensis)
Masked Water-Tyrant (Fluvicola nengeta)
Gray-breasted Parakeet (Pyrrhura griseipectus)
Red-cowled Cardinal (Paroaria dominicana)
Quando começou a escurecer, viemos ao hotel Alto da Serra para fazer o nosso Check-in.

Check-in.

Cada um para seu lugar.

Jantar às 19h00.

Encontramos com o Thiago Piloto.

Nota #1: Os japoneses não gostaram da pizza de frango com catupiry (acho (tenho quase certeza) que foi por causa do frango).

Voltamos.

​Sono às 21h30.
Guaramiranga – CE, 22 de setembro de 2015 (Terça-feira)
(Pais e filhos – Tim Maia)
Agora são 4h30. Acordei às 4h10, tomei um banho, dei uma organizada geral nas coisas e estou escrevendo um pouco antes de descer para o café da manhã. Combinamos de sair por volta das 6 e meia para ter tempo de sobra e poder parar no caminho caso apareça algo bacana.

Ontem acordei 4 e meia e escrevi um pouco antes de sair para passarinhar com o pessoal. Às 5 e meia nos encontramos, passarinhamos durante uns 15 minutos em frente aos chalés e fomos para o Hotel Remanso. 

Já decidi: não vou mais no Remanso. Achei muito fraco e que perdemos 2 horas da nossa manhã. Não que lá seja ruim, mas os bichos ficam mais nas copas das árvores, não descendo com facilidade, o que torna a fotografia [deles] bem complicada. Me lembra, um pouco, passarinhar na Amazônia.

O Parque das Trilhas tem todas as espécies que o Remanso tem (com exceção da tovaca-campanhia) e é bem mais fácil de conseguir boas fotos, pois tem mais bordas e as trilhas são mais largas.

Para não ir ao café da manhã “de mãos vazias”, decidi dar uma rápida passada no Parque. Na verdade, ia levar eles no comedouro que fica de frente para os chalés, mas quando cheguei, estava sem frutas, então improvisei e fui para a entrada do parque. Em 20 minutos, vimos por volta de 20 espécies, e os caras fotografaram umas 10.

Acho que nem falei ontem, mas esses japoneses andam “armados” até os dentes: um anda com uma lente de 500mm (talvez seja até uma 800mm) com um conversor e o outro anda com umas 3 câmeras (utiliza uma 300mm para fotografia de aves). 

Umas 8, voltamos ao hotel para tomar café da manhã. Quando estávamos prestes a sair para o Parque novamente, o Thiago Piloto chegou no hotel em que estávamos. Ainda conseguimos ver o chupa-dente-do-nordeste (Conopophaga lineata cearae) bem rápido antes de sair.
Quando chegamos lá, eles já conseguiram fotografar cardeal-do-nordeste (Paroaria dominicana), fim-fim (Euphonia chlorotica) e sanhaço-de-coqueiro (Tangara palmarum) no comedouro dos chalés. A passarinhada no parque foi mais que vantajosa. Muito bicho e, de acordo com o Bryan, vimos todas as espécies-alvo. Só conseguimos sair do Parque, com muito esforço, às 14h00. 

Um dos rapazes é fascinado por piprídeos e, aqui na serra, para ele, o bicho mais importante seria o Guaramiranga (Pipra fasciicauda). Esses caras não só viram o nosso amigo “Pipra fasciicauda”, como faltaram beijar de tão perto que ele chegou de nós. Os dois conseguiram fotos sensacionais! Que maravilha! Ficaram tão felizes que ganhei cerveja a noite.

Almoçamos no K-labar, em Pacoti, e, umas 15h30 fomos para o comedouro que o Thiago nos levou. Consegui algumas boas fotos de Euphonia chlorotica.
Os destaques que registramos na serra:

- Murucututu (Pulsatrix perspicillata);
- Beija-flor-de-garganta-azul (Chlorostilbon notatus);
- Saripoca-de-gouldii (Selenidera gouldii);
- Pica-pau-anão-da-caatinga (Picumnus limae);
- Periquito-cara-suja (Pyrrhura griseipectus);
- Choca-da-mata (Thamnophilus caerulescens cearensis);
- Chupa-dente-do-nordeste (Conopophaga lineata cearae);
- Vira-folha-cearense (Sclerurus cearensis);
- Arapaçu-rajado-do-nordeste (Xiphorhynchus atlanticus);
- João-de-cabeça-cinza (Cranioleuca semicinerea);
- Poiaieiro-de-patas-finas (Zimmerius acer);
- Maria-do-nordeste (Hemitriccus mirandae);
- Enferrujadinho (Lathrotriccus euleri);
- Uirapuru-laranja (Pipra fasciicauda scarlatina);
- Saíra-militar (Tangara cyanocephala cearensis);

Só ficou faltando o pica-pau-ocráceo (Celeus ochraceus), a tovaca e o uru, mas o pica-pau podemos ver em outras localidades e os outros dois, os japoneses não fizeram um pingo de questão de ver, já que são bichos não tão coloridos.

Agora são 5h10 e eu vou descer para pegar uma internet antes de tomar café da manhã. Espero que possamos ver uns bichos aquáticos bem legais hoje.

*** CRATO ***
Chegamos aqui por volta das 18h, depois de quase 10 horas de viagem. Paramos mais de 5 vezes só para ver algumas aves no caminho. A lista de espécies da viagem saiu de 80 para 123 espécies. Muitos bichos associados a água e alguns de caatinga.

* Agora são 21h30 e vou dormir.
** Um pouco puto porque perdi o carregador do meu celular.
*** Encontrei com o Jefferson Bob aqui.
Crato – CE, 23 de setembro de 2015 (Quarta-feira)
(Bleed through – S.O.J.A)
Engraçado, você com “25 anos no couro” acha que já aprendeu tudo nessa vida. Parece que não...
Hoje cometi mais um erro para meu histórico, mas que ficou como aprendizado: xampu e condicionador de hotel é só de enfeite!

Cheguei do campo hoje pensando “hoje vou lavar meu cabelo, já fazem dois dias que não lavo”. Era melhor ter passado 10 dias sem lavar do que ter feito isso! No momento que coloquei o xampu no cabelo, já vi que tinha algo de errado. O arrependimento já começou aí. Instantaneamente meu cabelo ficou duro. Juro por deus. O negócio ficou duro mesmo, e seco. Como já estava ali, continuei. 

– O condicionador vai resolver essa parada – eu pensei – sempre resolve (parece até milagre).

Eu sei que não é milagre, que na verdade são centenas e centenas de testes em animais indefesos, mas que parece milagre, parece. Para quem quiser poupar (proteger) esses animais indefesos, é só utilizar esses xampus e condicionadores de hotel. COM CERTEZA não passam por teste algum. 

Depois de me acalmar um pouco, fiquei até pensando nisso. Será que todo mundo já sabe disso menos eu? Nunca vi ninguém reclamando. Será que sou a única pessoa que conheço que tentei fazer isso? Se sim, porque meus pais não me ensinaram isso. É questão básica de sobrevivência. Enfim.

Pois bem, tirando esse incidente dos cosméticos “pró-vida” do hotel, o dia foi muito bom! Muito bicho legal.

Às 5, nos encontramos no saguão, comemos umas bolachas com café e partimos para Potengi, onde encontramos com o Bob. A passarinhada no Sítio Pau Preto foi muito proveitosa, com direito a muitos lifers e muitas fotos bacanas. Os caras mandaram muito bem, principalmente na foto do farinheiro (Myrmorchilus strigilatus). Iniciamos a passarinhada um pouco tarde, por volta de 7 e pouco, e, mesmo assim, conseguimos registrar 55 espécies. Boas espécies. Destaco: alegrinho-balança-rabo (Stigmatura budytoides gracilis), papa-moscas-do-sertão (Stigmatura napensis bahiae), farinheiro (Myrmorchilus strigilatus), garrinchão-de-bico-grande (Cantorchilus longirostris), azulão (Cyanoloxia brissonii) entre vários outros.
Depois da manhã de passarinhada, passamos na casa do tio do Bob para tomar uma água de pote e ficar debaixo da sombra, antes de ir até a cidade para almoçar na casa de sua mãe. Pense num almoço bom! Vale a visita.
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De lá, seguimos para o soldadinho-do-araripe (Antilophia bokermanni). Saímos 11h de Potengi e chegamos no soldadinho 13h. Não vou contar para ninguém, mas errei o caminho, o que acrescentou 1 hora no percurso! Que vacilo! Ao invés de ir pelo Crato, fui por Juazeiro do Norte. É isso aí, vivendo e aprendendo. Depois dessa, nunca mais! 

Ao chegar no Arajara Park e entrar na trilha, não demoramos nem 5 minutos para achar o nosso alvo... mas era fêmea. Fêmea de piprídeo não vale (não presta/não funciona/não canta/café com leite)! Tem que ser macho.

Com aproximadamente 10 minutos de muita tensão (principalmente para quem está guiando), o macho apareceu! Sem playback, sem nada. Só espera e paciência. Se bem que nem precisa ter tanta paciência para esperar 10 minutos. Tem gente que espera mais naquele trânsito caótico de Fortaleza.

Por volta das 15h, saímos da trilha e fomos para o carro. 

​Porém, antes de irmos embora, uma moça (Dona Fabíola) quis nos mostrar os novos chalés do Arajara que foram concluídos a pouco tempo. Os chalés são fantásticos! Talvez um pouco caro para meros mortais, mas se for pagar em dólar, sai bem no preço.

Antes de chegar no hotel, passamos no centro para eu comprar uma fonte nova para carregar meus equipamentos. Comprei logo duas fontes, só para garantir.

Quando chegamos no hotel (16h30), eles foram para os quartos e eu fui para o saguão pedir um misto quente com cappuccino para aguentar até o jantar. Enquanto esperava, fiquei conversando com a Gerlidiana sobre coisas da vida. Para quem não conhece, Gerlidiana é minha mais nova amiga. Trabalha aqui no hotel. Gente boa.

Agora são 20h40 e eu acabei de jantar com a galera.

Sabe o que eu estava pensando agora? Acho que agora, depois dessa que aconteceu comigo, não vou mais poder doar o meu cabelo... lamentável. Eu sei que pode até ser paranoia minha, talvez até seja mesmo, mas depois que voltei do jantar, percebi uma parte da minha cabeça que está bem sem cabelo. Bem mesmo. Vou aguardar um tempo e, espero muito que seja só paranoia mesmo.

O Bryan chegou no Crato com uma lista de espécies-alvo com 17 espécies. Hoje, vimos 7 e amanhã ele quer as outras 10. As 10 que faltam são: Hylopezus ochroleucos, Picumnus fulvescens, Penelope jacucaca, Megaxenops parnaguae, Thamnophilus capistratus, Hylophilus amaurocephalus, Synallaxis hellmayri, Sakesphorus cristatus, Anopetia gounellei, Herpsilochmus sellowi.

Acho que desses acima, amanhã veremos 70%.

Veremos.
Crato – CE, 24 de setembro de 2015 (Quinta-feira)
(Venus in furs – Velvet Underground)
Pense num santo forte esse que eu tenho. Das espécies-alvo que o Bryan queria ver, vimos 7 delas hoje, ou seja 70%. Acertei na mosca. Vimos Hylopezus ochroleucos, Picumnus fulvescens, Megaxenops parnaguae, Thamnophilus capistratus, Hylophilus amaurocephalus, Sakesphorus cristatus, Herpsilochmus sellowi. O que deu mais mole, com certeza foi a choca-do-nordeste (Sakesphorus cristatus), que rendeu fotos magníficas do Shiga San. E o que deu mais trabalho foi o torom-do-nordeste (Hylopezus ochroleucos).

Saímos hoje do hotel por volta de 5h10, chegando ao ponto da passarinhada às 5h30. Em menos de uma hora, 5 lifers já foram garantidos. Isso já tirou grande parte da pressão. Fomos para outro ponto, do outro lado da pista de asfalto, onde conseguimos o pica-pau-anão-canela (Picumnus fulvescens).

Às 9, saímos em direção ao hotel e tomamos café da manhã assim que chegamos. Tiramos uma hora de intervalo e fomos novamente para o Arajara Park tentar melhorar o registro do soldadinho-do-araripe. Ontem eles conseguiram fotos melhores do que hoje. Passamos duas horas e meia tentando e, 14h, voltamos para o hotel. Comemos um sanduiche e 16h fomos passarinhar. Um pouco fraco, mas o Komori San ficou feliz por ter conseguido uma boa foto da choca-do-nordeste. E ainda teve mais um lifer, a choca-barrada-do-nordeste (Thamnophilus capistratus). Até que ficaram bem contentes. Pelo menos é o que me parece.

Voltamos por volta das 5 e meia.

​Tenho que conferir e organizar as listas que estou fazendo no e-bird. Tentar fazer isso aqui antes do jantar.
Canudos – BA, 25 de setembro de 2015 (Sexta-feira)
(Won’t come easy – Sweeny)
Dia de deslocamento.

Saímos do hotel no Crato às 7h, passando por Pernambuco na BR-116 para chegar até aqui.

A viagem foi tranquila e relativamente rápida, se for comparada com a viagem de Guaramiranga para o Crato. Paramos para almoçar às 12h, depois de Ibó, e chegamos aqui um pouco depois das 13h.

​Descansamos um pouco e saímos para passarinhar às 16h. Vimos 4 bichos novos para a lista da viagem: Falco femoralis, Thectocercus acuticaudatus, Synallaxis hellmayri, Saltatricula atricollis.
Inclusive Thectocercus acuticaudatus e Synallaxis hellmayri foram lifers para mim. 

​Estou sentindo que vou curtir muito essa viagem.

Amanhã o Ciro irá dormir aqui (no Hotel Brasil) com o grupo que ele está guiando. Vai ser legal encontrar com meu mestre em campo.
Canudos – BA, 26 de setembro de 2015 (Sábado)
(Glory Box – Portishead)
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É... acho que quero ser guia mesmo.

Sabe quando acontece uma situação em nossas vidas que parece que ascendeu uma luz na nossa cabeça (na verdade a luz é sobre a cabeça né? Como nos desenhos). Pois é, isso aconteceu comigo hoje.

Isso já havia acontecido comigo antes, em uma viagem em 2012, com o Ciro Albano e Luciano Lima, pelo Nordeste (Ceará, Maranhão e Piauí), onde, um dia, depois de uma bomba de adrenalina, decidi que seria ornitólogo! Lembro como se fosse antes de ontem, o arrepio ao ver as anhumas sobrevoando acima de nós com aquele canto alto e desengonçado que elas têm. Sensacional! E talvez tenha sido por isso que estou aqui hoje.

E hoje aconteceu algo parecido. Acordei às 3h30 e saímos do hotel às 4 para encontrar com o Dorico, guia-florestal que nos levaria até um dos dormitórios das araras.

Chegamos no dormitório por volta das 5h e a algazarra já estava grande. Você escuta o som e vê centenas de araras “pretas” sobrevoando. À medida que o sol vai saindo, o azul das araras vai aparecendo proporcionalmente. Pense numa cena: centenas de araras-azul-de-lear gritando e sobrevoando a menos de 50m de você. Sensação única! E o arrepio fica ainda maior ao lembrar que a população dessa espécie, um dia, já chegou a aproximadamente 40 indivíduos (contagem realizada por volta de 1978). Realmente ficaram à beira da extinção (para saber mais da história da arara, clique AQUI).

E quando você para e observa a reação das pessoas (dos clientes), chega a ser ainda mais emocionante. Quero poder sentir essa sensação mais vezes, quero ser guia.
Depois de ver as araras, fomos para outra parte do dormitório, onde vimos um Cauré (Falco rufigularis).  Demos mais uma breve passarinhada em frente ao alojamento da Biodiversitas e seguimos para o hotel por volta das 9h. Tomamos café da manhã e, por volta das 13h, almoçamos para passarinhar às 14h.

O correto seria ter dormido entre o almoço e o café da manhã, mas não consegui! Foda. Talvez porque tomei café demais? Não sei. Já que não consegui dormir, lixei uma banda da semente de licuri (Syagrus coronata), que o Dorico me deu, para fazer um colar de lembrança. E enquanto estou aqui escrevendo, estou escutando as aves da chapada diamantina para me familiarizar mais um pouco.

...12h40: me arrumar para almoçar e ir à campo logo em seguida.

Resumindo o restante do dia:

- Passarinhada a tarde (bem produtiva), com dicas preciosas do João da Vila e auxílio do Raimundinho.

- Jantar com a galera na Pizzaria Doce Mel.

​- Cerveja e reunião de negócios com o papai Ciro Albano na Pizzaria Doce Mel.
Lençóis – BA, 27 de setembro de 2015 (Domingo)
(Alucinação – Belchior)

​Feliz é aquele que trabalha com uma coisa que não sabe mais nem que dia é hoje. Aquele trabalho que você não fica anotando os dias, as horas, os minutos e, às vezes, até os segundos para que chegue logo o final de semana. Tem até um programa de rádio em Fortaleza que é com esse intuito (é algo como “fecha tudo e vamos embora”). E o pior é que quando você fica contando os segundos, o tempo parece que passa mais devagar. Tem uma explicação física para isso, mas não sei bem como é que isso funciona. Não sei se está relacionado com a rotação, velocidade e translação da terra. Enfim.

Hoje acordamos em Canudos e já estou aqui em Lençóis, pronto para dar aquela cochilada. Muito doido isso. 

Tomamos café da manhã às 5h30 e pouquinho depois das 6h já iniciamos nossa viagem. Pegamos o caminho por Feira de Santana e conseguimos chegar em 9 horas. Foi bom. Hoje o Bryan se garantiu no volante. Tirando o momento em que ele derramou refrigerante no chão do carro, o resto foi sossegado. Até essa parte do refrigerante foi relativamente sossegada. Digo que foi “relativamente sossegado” porque tenho uma gastura/aflição imensa com coisas grudentas, pegajosas, oleosas (acho herdei essa parte do meu pai). Então, quando a lata derramou, já vi uma cena 10x pior do que realmente foi; imaginando TUDO grudado e como seria para dirigir depois com os pés grudando no tapete etc. Mas consegui me segurar bem e ainda o ajudei a limpar.

Deixamos nossas coisas aqui no hotel e fomos passarinhar no Morro do Pai Inácio. Infelizmente, não conseguimos foto do Augastes lumachella. Conseguimos de dois outros bichos bem legais (Embernagra longicauda e Knipolegus nigerrimus), mas não do Augastes, uma das maiores estrelas da chapada diamantina. Pior que carreguei o equipamento do Komori (uma lente bem pesada de 500mm) até o topo do morro e nada. Estou até com as pernas doendo agora (ácido lático pra caramba).
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É isso, os principais foram esses mesmo. E uma águia-chilena que passou sobrevoando por nós quando estávamos no morro.
Lençóis – BA, 28 de setembro de 2015 (Segunda-feira)
(Revelação – Fagner)
Pense numa noite animada essa de hoje. Saímos para jantar na rua e estava tendo, acho que era um ensaio da banda de um colégio. Umas 50 pessoas de uniforme tocando aquelas músicas de bandinha, que toca em Olinda. Até arrepiei só de lembrar de Olinda, dos bons carnavais que já passei por lá. As risadas, as bebidas, os amigos, as mulheres, o cheiro de mijo no ar, do vômito, das risadas, dos perdidos, enfim, de Olinda. 

Os japoneses gostaram muito (vou chamar eles pelo nome mesmo: Shiga San e Komori San, gostaram muito) e o Bryan também curtiu. Outra coisa que eles curtiram bastante hoje foi a Devassa. Desde quando chegaram aqui, estão tomando Skol e estão amando. Quando falei que não tinha Skol nesse estabelecimento, ficaram até tristes, mas a Devassa deu para agradá-los. A tradução de “Devassa” seria “Naughty Girl” mesmo? Foi assim que traduzi para o Bryan.

Acordamos cedo para sair do hotel às 4h30. Chegamos ao ponto por volta das 5 e 40. A passarinhada foi bem proveitosa, mas senti muita falta de algumas espécies importantes, como Euscarthmus rufomarginatus, Heliactin bilophus, Arremon franciscanus. Mesmo assim, vimos outras espécies legais, como Colibri serrirostris, Thamnophilus torquatus, Picumnus pygmaeus, Anopetia gounellei e Saltator similis.

Ficamos nesse ponto, em Palmeiras, até umas 10 e pouco e voltamos para Lençóis. Abastecemos o carro, passamos no hotel Casa da Geleia para ver como eram os comedouros de passarinho e fomos almoçar no Bode. Na Casa da Geleia, conheci a Lia e conversamos um pouco. Depois do almoço não aguentei, dormi e muito. Ia dormir de uma até duas, mas o cansaço estava muito grande. Hoje foi o dia em que eu estava mais cansado, dando cochilos no banco do passageiro, coisa que raramente faço. Acho que eu nem falei, mas quem está dirigindo durante toda a viagem é o Bryan, então está bem tranquilo para mim em relação a isso.
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Quando o despertador tocou às 2, coloquei mais meia hora para dormir mais um pouco.

A passarinhada da tarde até que foi produtiva. Faltaram algumas espécies-alvo, mas paciência né Caio!? Como diz o Ciro, a natureza não é um Shopping Center, não há previsibilidade. E como diz o André, se fosse fácil, não teria graça. Vimos Lepidocolaptes squamatus, Pyriglena leucoptera, Buteo brachyurus, Trogon surrucura e Synallaxis scutata, que era lifer para o Bryan. Expressou bem sua felicidade no jantar, quando apertou meu braço, arregalando os olhos quando viu que o S. scutata era lifer. Massa!

Foi mais ou menos isso. Amanhã fazer uma passarinhada matinal antes de partir para tentar as espécies que ainda faltam.
Gravações dos bichos gravados nesse dia:

- Pyriglena leucoptera;

- Trogon surrucura;

- Synallaxis scutata.
Boa Nova – BA, 29 de setembro de 2015 (Terça-feira)
(Tunnel of Love – Dire Straits)
O cansaço está grande, mas vou fazer um rápido resumo.

Como o Ciro sempre fala, mas ninguém quer acreditar: “rapadura é doce, mas não é mole não”. Muito bom esse negócio de guiar, mas cansa muito também. É muita pressão. Não é apenas uma passarinhada que se faz com amigos, sem muito compromisso, sem tensão, sem pressão, só por diversão. Afinal, você está trabalhando né?

Pois bem, eu já estava bem decepcionado com o nosso desempenho na chapada diamantina. Até que pegamos alguns bichos, mas senti que os principais estavam ficando de fora, como, por exemplo, o Augastes lumachella e o Formicivora grantsaui.

Hoje de manhã, decidimos tentar esse e outros bichinhos mais uma vez antes de irmos embora, então saímos da pousada 5h00 e chegamos no ponto às 5 e meia. Chegando ao ponto, estava me sentindo bem, como se fosse conseguir tudo e um pouco mais. Depois de 10 minutos, esse sentimento foi mudando. O tempo estava nublado e NENHUM bicho estava respondendo ao playback (puta merda!). Tentei umas 6 espécies-alvo e NADA! Vimos outros bichos, claro, mas espécie-alvo, que é bom, nada. Bichos até bem legais, mas como não havia visto nem UM dos alvos, NADA tinha graça. Por que é assim? Não sei, mas é assim. Se tiver UM bicho que é o mais importante e não conseguir o ver, TODOS os outros se tornam sem graça, mesmo sendo muito importantes também.

Mais 10 minutos se passaram...

E eu cada vez mais ansioso né!? Qualquer coisa que eu ouvia cantando de dentro de um arbusto, pensava que era o Formicivora grantsaui ou um Polystictus superciliaris ou um Euscarthmus rufomarginatus.

Quando ia ver: Zonotrichia capensis. 

Qualquer coisa que passava voando, pensava que era o Augastes. Na maioria das vezes, nem ave era. Apenas uma abelha. E assim segui, mais longos 6 minutos, quando, de repente, vejo um Formicivora pulando nos arbustos. Antes de gritar alguma coisa e ter a possibilidade de ser um alarme falso, me certifiquei da espécie com meu binóculo e depois chamei o Bryan, o Komori e o Shiga.

Conseguimos boa foto.
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Senti um leve ar de felicidade após esse momento fantástico que tivemos. Ainda mais, depois de um soco carinhoso de “parabéns” que o Bryan me deu no braço. Que sentimento bom! Como diz o Ciro, “É assim Cabrito, do inferno ao céu, em questões de segundos”. Vai vendo.

Continuamos andando pela trilha e encontrando algumas espécies que ainda não haviam entrado na lista geral da viagem. Enquanto andávamos, não parei de tentar “chamar” o gravatinha (Augastes lumachella).

Com certeza tentei mais de 80 vezes. Sério mesmo, mais de 80 com toda certeza. Quando deu 7 e meia, decidimos voltar para não chegar muito tarde no hotel. Eu já havia desistido de tentar qualquer coisa (desliguei as duas caixas de playback), quando, de repente, o Bryan sussurra bem alto para mim – “right there, right by you/bem ai, bem do teu lado”. Quando virei para a direita: O GRAVATINHA!

Passamos, pelo menos, uns 10 minutos fotografando e observando, enquanto ele fazia o mesmo (nos observava). Deveria estar pensando “lá vem aqueles malucos de novo”. Ele “ascendeu” pouco, mas mesmo assim, deu um show. E o Komori San ainda conseguiu uma foto dele aceso, então está tudo beleza. Depois disso, foi só sorriso na cara e risadas frouxas. Tudo que fazia ou falava, era um sorriso na cara. E já falavam as coisas lá em japonês rindo. Não entendia nada do que falavam, mas devia ser algo bom.

O que UMA espécie não faz com uma pessoa né? Com 4 nesse caso.

Voltamos para o hotel, tomamos café da manhã e saímos 10 e pouquinho.

Chegamos aqui em Boa Nova por volta das 18h. Agilizei algumas coisas e saímos para jantar. Entre as “algumas coisas” que agilizei, uma delas foi para passar mais um dia aqui. Ao invés de ir para Estância no dia 1º, vamos somente no dia 2. Assim, teremos dois dias para passarinhar aqui em Boa Nova.

É lifer demais meu sinhô!

Ansiedade demais também.

Estou um pouco mais aliviado pelo fato do Josafá (guia local) estar no comando amanhã e depois. Estava precisando dessa folga mental. Tenho que me acostumar, eu sei, mas que essa folga vai ser boa, vai.

Boa Nova – BA, 30 de setembro de 2015 (Quarta-feira)
(Kody – Matchbox 20)
Nunca fui uma pessoa muito competitiva. Alguns podem pensar que sim, pois tenho minhas centenas de listas para ter uma noção de todos os números que passam pela minha vida. Mas a verdade é que não gosto de competição intraespecífica. A única competição que levo é comigo mesmo, uma competição intrapessoal. Um bom exemplo disso é que as minhas metas nunca dependem do desempenho do próximo, por exemplo; minha meta desse ano é “observar 800 aves em 2015”, e não “observar mais aves que o Joãozinho”. Outro bom exemplo: quando era mais novo e jogava videogames, às vezes, deixava a outra pessoa ganhar de propósito só para ela não ficar triste. É sério. Claro que, às vezes, eu nem precisava deixar (a pessoa ganhava por mérito mesmo). Enfim, quando pinta uma situação de competição, tento amenizar ao máximo. Se a vitória é tão importante para o próximo, e não for crucial para mim, então deixa...

Para os que não sabem, desde 2012, planejo em ser guia de Birdwatching, como o Ciro Albano, e, desde então, venho estudando para realizar esse sonho/plano. E hoje, praticamente 3 anos depois, acho que este momento está mais perto do que longe. Estou no 11º dia de expedição (Tour) com dois japoneses e um norte-americano, e estou gostando. Muito a aprender, muito a estudar, obviamente, mas está indo muito bem. Eles estão gostando, eu estou gostando.

Como não conheço essa região (Boa Nova) muito bem e como, a princípio, não vinha com eles até aqui, um guia local foi contratado, o Josafá. O cara é gente boa sabe? Só acho que ele está um pouco desconfiado. Acho que ele está me vendo como uma competição! Puta merda, só o que me faltava. A passarinhada de hoje foi muito boa, só achei que ele não sabe lidar com pessoas muito bem. Sabe dos pássaros, mas não é muito bom com gente talvez. Pode ser apenas impressão minha também. Quem me conhece sabe que sou meio estranho mesmo. Mas sei lá, é como se ele estivesse fazendo um favor para nós, como se não estivesse sendo pago para isso. Deixa isso para lá. 

Só sei de uma coisa; próximo grupo que eu trouxer, EU vou guiar. Eu vou saber como tratar meus clientes.

Pois é... mas hoje foi muito bom. 

Acho que tive aproximadamente 10 lifers.
Boa Nova – BA, 01 de outubro de 2015 (Quinta-feira)
(Meds – Placebo)
Perder a meia em campo é foda! Até hoje, isso nunca tinha acontecido comigo, mas sempre tem uma “primeira vez” para tudo né? Espero que seja a última também. Sei que não será, mas não custa sonhar.

“Como é que uma pessoa perde uma meia em campo”, muitos podem se perguntar. Perder a meia em casa, no dia-a-dia, é normal. Perdemos pelo menos uma meia do par a cada mês. Incrível isso... ninguém sabe para onde vão, apenas somem. Mas até que isso é normal, é comum. Mas a pessoa perder a meia em campo, durante uma passarinhada, uma caminhada? 

Vou explicar como foi o meu dia até esse momento para que possam compreender a situação.

Acordamos, ao meu ver, tarde, pois só saímos às 6h. Como estávamos sob o comando do guia local, quem estava ditando as regras era ele. Eu já estava um pouco impaciente com o sujeito, pois, no meu ponto de vista novamente, ele não estava tratando os meus clientes da maneira que eu julgo correta. Os clientes queriam ir para uma área nova, ele ignorava o pedido. O cliente queria ficar mais tempo fotografando um bicho, ele ignorava. O cliente queria qualquer coisa, ele ignorava, ou até pior, fazia o contrário. Na boa, o cara se fazia de doido! Não entrarei em detalhes de personalidade, ego, egoísmo, medo, ganância, ignorância etc.

Quer saber, não entrarei em detalhes, mas resumirei aos fatos; hoje de manhã fomos para a mata atrás de um bichinho (Anopetia gounellei) que ele nem sabia se queríamos e ainda é um bicho que não tem como garantir, pelo menos não nessa época do ano. Enfim, ele poderia ter tentado isso ontem. Acho que ele estava tentando enrolar no tempo. Mas beleza, passamos umas 2 horas na mata seca e, quando os japoneses finalmente estavam felizes com o bicho que estavam fotografando (Rhopornis ardesiacus), ele ficou perturbando, dizendo que já estava na hora de ir. Logo em seguida, fomos em direção à mata úmida (mata atlântica). Quando fui ver, paramos no MESMO EXATO LOCAL que ontem. Isso, depois de ter dito umas 4 vezes (no mínimo) que queríamos um local diferente. Aí é sacanagem né meu camarada!

Assim que chegamos nesse local, os clientes mesmo pediram para que voltássemos para casa e deixássemos o guia local na casa dele. Essa parte foi especialmente difícil para mim: ser o mediador dessa situação delicadíssima. Foi difícil, mas fui em frente e fiz. Ele ficou puto e também não vou entrar em mais detalhes, mas quer saber? Ô alívio! Foi a melhor decisão que fizemos. Mesmo eu não sabendo de muita coisa dessa região, os japoneses queriam que eu os guiasse. E não poderia ter dado mais certo. Ficaram muito felizes com o dia de hoje (depois que ficamos sozinhos). Por que não fizemos isso antes? Última coisa, juro: depois que eu disse que ia deixa-lo na cidade (o guia local), ele não queria ir não viu!? Foi relutante.

Está bem, parei. 

Pois é, o dia de hoje foi bem massa. É legal, cada piprídeo que eu mostro (desde o primeiro dia), o Komori San me agradece com um aperto de mão, um “Tank you” e vários sorrisos e risos frouxos. Principalmente se conseguisse uma boa foto. “Tank you very much Caio San”. Hoje isso aconteceu umas 3 vezes. Apesar de vermos menos espécies do que se estivéssemos com o guia local, pelo menos deu para curtir o momento, fotografar e, se quiser, fazer mais fotografias do mesmo bicho.
Mas é isso, hoje foi muito bom. Ontem foi bom porque tiveram alguns lifers e hoje porque passarinhamos sem pressão.

Na volta para casa, ainda tentamos o Gallinago undulata, mas não encontramos, mas encontramos o bacurau-rabo-de-tesoura (Hydropsalis torquata) e o Komori San tirou uma foto muito boa. Ele ficou bem feliz com essa foto. Se estivéssemos com o guia local, com certeza já estaríamos em casa nessa hora. Pronto, parei. Juro que não falo mais desse sujeito. É porque traumatizou mesmo. Sou um menino sensível.

Chegamos no hotel.

Banho.

Jantar no gravatazeiro (restaurante do hotel).

Fechamos e pagamos a conta de consumo.

Voltamos para a pousada.

Escritas

Tentar arrumar as malas daqui a pouco.

22h31min.
​Estância – SE, 02 de outubro de 2015 (Sexta-feira)
(Saw U leave – Lil Sad)
​Nada a declarar.

Último dia da viagem. Uma viagem memorável. Ficará para sempre na memória, ainda mais agora, com lembranças escritas: Minha primeira Tour Oficial (15 dias).

Agora são 21h21 e vou logo dormir pois amanhã acordo 4h30, vou passarinhar com a galera até umas 10, tomaremos banho, arrumaremos nossas coisas para almoçar em Aracaju e chegar no aeroporto por volta das 14h. Daí, deixo eles e pegarei a estrada para Campina Grande (uns 700Km de viagem). Devo chegar por lá quase meia noite. De boa. Tranquilo.

Hoje foi dia de deslocamento.

Teve almoço na estrada (fiquei na paranoia com um possível feijão estragado que TODOS nós comemos).

Teve passarinhada vespertina, com direito a 3 psitacídeos que não estavam na lista da viagem (Aratinga jandaya (híbridos), Diopsittaca nobilis, Aratinga aurea).

Jantar

Gorjeta de 400 pila (Ai meu deus do céu, tou rico pai!).

Sono.
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Expedição Rio Madeira 2015

23/6/2016

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Fortaleza – CE, 24 outubro de 2015 (Sábado)
(Folsom Prison Blues – Johnny Cash)
Hoje iniciou-se a “Expedição Rio Madeira” em Rondônia, próximo a Porto Velho. As “passarinhadas” (o trabalho) só inicia amanhã, mas a viagem já começa hoje. É uma convenção internacional de viajantes: o deslocamento faz parte do processo.

Nos próximos 16 dias, estarei acompanhado do amigo Felipe Arantes (Xilipe), um excelente profissional, com especialidade na Amazônia Rondoniense e Mata Atlântica do Sudeste do Brasil. Além de excelente profissional, uma ótima companhia durante esses dias de trabalho.

Como eu já havia dito antes, eu recebi essa proposta de trabalho no dia 17 deste mês e no e-mail que eu recebi estava escrito assim: “Olá Caio Brito, você poderia fazer um campo na Amazônia iniciando dia 18? ”. 

Engraçado né? Essa galera parece que está comendo maconha estragada. Quando eu vi o e-mail eu estava em Guaraciaba do Norte, na Serra Grande, Ceará, com o Wylde, em uma expedição de coleta de Hemitriccus mirandae (maria-do-nordeste) para a pesquisa de seu mestrado. Fiquei super empolgado com a ideia, obviamente, mas, tão obvio quanto isso, é que eu não iria no dia seguinte. Além dessa questão, envolveu também algumas questões éticas (“Ética Caio Brito”, que para muita gente é besteira, ou melhor ainda: NOIA).

Eu sabia que quem fazia esse trabalho há mais de quatro anos era um grande amigo. “O que será que aconteceu com ele? Por que que ele não iria nessa campanha? “, eu me indaguei. Entrei em contato com ele para descobrir o motivo, e não poderia ter um motivo melhor, ele seria pai em breve e queria curtir esse momento, desde o nascimento do pequeno. 

Ele me deu o maior apoio para que eu fosse nessa campanha. Fiquei mais empolgado ainda, mas ainda veio a terceira questão: não sou o maior especialista em aves amazônicas. Beleza, já fui para Rondônia duas vezes, já fui para a Floresta de Carajás e passei alguns dias em Manaus, mas, mesmo assim, eu não sei se eu seria a melhor pessoa para essa situação. Ah, tinha esquecido do empecilho nº 4, ou já é o 5º? São tantos... minha câmera estava no conserto e o cara só a entregaria no dia 30. Sem câmera na Amazônia não rola! Resolvendo esse empecilho e o nº 2 já estando resolvido, o 3º poderia ser resolvido também! 

Liguei para o rapaz da câmera e ele disse que poderia me entregar antes. Nesse mesmo dia, segunda-feira, dia 19, a moça do trabalho me avisou que daria para adiar a viagem até sexta (hoje). Já estava estudando, mas a partir do momento em que confirmaram a minha ida, redobrei a atenção e os estudos. Desde segunda-feira venho estudando de 8 a 12 horas por dia. Não é a solução e nem questão de milagre, mas já ajuda bastante. 

O dia em que mais estudei foi sexta: 12 horas! Acordado desde as 4h da matina. 
E nesse exato momento, a mais ou menos meia hora de Belém (dentro do avião) estou aqui escutando as vozes das aves da região no meu Ipod (acabou de tocar aqui o Celeus torquatus occidentalis). Será que o verei?

Agora é só ficar de boa, relaxar e curtir essa Amazônia espetacular (o pouco que ainda resta de Amazônia).

FOTOGRAFIAS da NATUREZA
A Amazônia pode chegar a ser um pouco complicada quando o assunto é fauna e flora. Há muitas espécies e muitos endemismos. Confesso que, depois de organizar algumas fotografias, gravações e escritas, ficaria um pouco difícil eu organizar todas elas nos respectivos dias em que elas foram feitas. Por este motivo, colocarei aqui, tudo de uma só vez, algumas das espécies que vi (e fotografei) durante esta expedição. Algumas delas, as mais marcantes, aparecerão mais adiante nos dias em que elas foram realmente feitas. Assim como alguns links de listas de espécies e gravações sonoras.
AS AVES
Broad-winged Hawk (Buteo platypterus) - Gavião-de-asa-larga
Red-necked Woodpecker (Campephilus rubricollis) - Pica-pau-de-barriga-vermelha
Amazonian Umbrellabird (Cephalopterus ornatus) - Anambé-preto
Amazonian Umbrellabird (Cephalopterus ornatus) - Anambé-preto
Red-headed Manakin (Ceratopipra rubrocapilla) - Cabeça-encarnada
Red-headed Manakin (Ceratopipra rubrocapilla) - Cabeça-encarnada
Ringed Antpipit (Corythopis torquatus) - Estalador-do-norte
Ringed Antpipit (Corythopis torquatus) - Estalador-do-norte
Green-and-rufous Kingfisher (Chloroceryle inda) - Martim-pescador-da-mata
Variegated Tinamou (Crypturellus variegatus) - Inhambu-anhangá
Black Caracara (Daptrius ater) - Gavião-de-anta
Madeira Stipple-throated Antwren (Epinecrophylla amazonica) - Choquinha-do-madeira
White-throated Antbird (Gymnopithys salvini) - Mãe-de-taoca-de-cauda-barrada
Double-toothed Kite (Harpagus bidentatus) - Gavião-ripina
Dot-backed Antbird (Hylophylax punctulatus) - Guarda-várzea
Peruvian Warbling-Antbird (Hypocnemis peruviana) - Cantador-sinaleiro
White-browed Hawk (Leucopternis kuhli) - Gavião-vaqueiro
White-browed Hawk (Leucopternis kuhli) - Gavião-vaqueiro
Ocellated Crake (Micropygia schomburgkii) - Maxalalagá
Short-crested Flycatcher (Myiarchus ferox) - Maria-cavaleira
Razor-billed Curassow (Pauxi tuberosa) - Mutum-cavalo
Short-tailed Pygmy-Tyrant (Myiornis ecaudatus) - Caçula
Buff-cheeked Tody-Flycatcher (Poecilotriccus senex) - Maria-do-madeira
Buff-cheeked Tody-Flycatcher (Poecilotriccus senex) - Maria-do-madeira
Madeira Parakeet (Pyrrhura snethlageae) - Tiriba-do-madeira
Madeira Parakeet (Pyrrhura snethlageae) - Tiriba-do-madeira
Long-tailed Potoo (Nyctibius aethereus) - Mãe-da-lua-parda
Green-tailed Goldenthroat (Polytmus theresiae) - Beija-flor-verde
White-breasted Antbird (Rhegmatorhina hoffmannsi) - Mãe-de-taoca-papuda
White-breasted Antbird (Rhegmatorhina hoffmannsi) - Mãe-de-taoca-papuda
Rufous-faced Antbird (Myrmelastes rufifacies) - Formigueiro-de-cara-ruiva
Rufous-faced Antbird (Myrmelastes rufifacies) - Formigueiro-de-cara-ruiva
Eastern White-bellied Antbird (Sciaphlylax pallens) - Formigueiro-de-cauda-baia
Ruddy-tailed Flycatcher (Terenotriccus erythrurus) - Papa-moscas-uirapuru
Rufescent Tiger-Heron (Tigrisoma lineatum) - Socó-boi
Rufescent Tiger-Heron (Tigrisoma lineatum) - Socó-boi
Cinereous Antshrike (Thamnomanes caesius) - Ipecuá
White-throated Tinamou (Tinamus guttatus) - Inhambu-galinha
Solitary Sandpiper (Tringa solitaria) - Maçarico-solitário
Dwarf Tyrant-Manakin (Tyranneutes stolzmanni) - Uirapuruzinho
Common Scale-backed Antbird (Willisornis poecilinotus) - Rendadinho
Spotted Puffbird (Bucco tamatia) - Rapazinho-carijó
OUTROS ANIMAIS
Tayra (Eira barbara) - Irara
Black Agouti (Dasyprocta fuliginosa) - Cutia
Tayra (Eira barbara) - Irara
White-lipped Pecary (Tayassu pecari) - Queixada
Amazon Red Squirrel (Sciurus sp.) - Esquilo-vermelho-da-amazônia
Peruvian Spider-Monkey (Ateles chamek) - Macaco-aranha-peruano
Butterfly
Butterfly
Butterfly
Nova Mutum, Porto Velho – RO, 25 de outubro de 2015 (Domingo)
(Wild Horse – Rolling Stones)
Na Amazônia... quem diria!

E no primeiro dia de passarinhada aquela mistura de sentimentos; uma alegria imensa de estar aqui, uma empolgação extraordinária por estar escutando bichos incomuns para a minha realidade, mas, ao mesmo tempo, uma grande frustação por não saber alguns bichos que estavam cantando. É uma sensação muito ruim não saber o que está ao seu redor. Quem é passarinheiro sabe bem do que estou falando. Às vezes, chega até a doer no peito de tanta angustia. Para amenizar essa sensação, estava gravando TUDO que escutava ao meu redor, até os bichos que eu já sabia. Vez por outra, alguma novidade acaba cantando no fundo da gravação do bicho conhecido. 

Em geral, o primeiro dia já foi sensacional e sinto que as coisas melhorarão. Vamos passarinhar alguns dias a tarde e em nossos dias de folga. Passarinhadas sem compromisso rendem bastante. Às vezes rendem até mais do que as que tem algum compromisso (metodologia, objetivos, alvo etc.). Hoje só não fomos passarinhar porque estávamos mortos de cansado de ontem e queríamos descansar. 

Depois do almoço descansamos até umas 16h00 e, a partir daí, começamos a planilhar os dados (listas) que coletamos (fizemos) hoje. Enquanto isso, o Felipe foi me ajudando com as gravações não identificadas. Ficamos fazendo isso até umas 20h00 e fomos jantar. Comi um açaí na tigela e uma tapioca com manteiga. Bom demais o açaí daqui. A parada é consistente mesmo. 

Depois que cheguei, terminei de planilhar os dados e agora vou dormir que amanhã acordo as 03h30. 

​(Agora são 22h00)

Nova Mutum, Porto Velho – RO, 26 de outubro de 2015 (Segunda-feira)
(Gimme Shelter – Rolling Stones)
Segundo dia de campo e já estava demorando para acontecer algo comigo. Não foi maribondo, não foi abelha, mas inchou! Estava voltando do primeiro ponto de escuta hoje de manhã e me segurei num galho para me apoiar. Quando menos espero, uma pontada na parte de dentro do dedo indicador esquerdo. Olhei calmamente e vi que era uma formiga vermelha. Olhei por mais ou menos meio segundo antes de a retirar. 

1x0 para Amazônia. 

Para ser bem sincero, eu nem me incomodo muito com essas coisas. Contanto que a glote não feche, a dor a gente aguenta. 

Hoje de manhã, saímos pouco antes das 4h00 pois iriamos atravessar o Rio Madeira, e aí já é uma logística mais trabalhosa, que envolve atravessar de voadeira (barquinho). Esse negócio de rios extensos/antigos na Amazônia é uma loucura! Uma margem possui certas espécies enquanto a outra margem possui as espécies irmãs (ou próximo disso). Um bom exemplo é que ontem eu vi o Lepidothrix nattereri na margem direita e hoje eu vi seu “irmão”, o Lepidothrix coronata. Bichos que foram separados a milhões de anos e acabaram se especiando*.  Esse é um dos motivos pelo qual essa região que estamos estudando possui mais de 600 espécies registradas em uma área relativamente pequena.

Além de L. coronata, que foi um puto lifer para mim, e ainda deu para ver ele bem (o macho) e fazer algumas gravações, tive outros lifers simpáticos nos primeiros momentos da manhã: Pachyramphus minor, Selenidera reinwardtii, Myiozetetes luteiventris, dentre outros.

Depois do campo, almoçamos e viemos para casa “relaxar o esqueleto”, como diz o amigo Xilipe. Identificamos as gravações que fiz essa manhã, tomamos um café da tarde e fomos para uma mata aqui perto passarinhar sem compromisso (uma passarinhada despretensiosa). Para uma passarinhada despretensiosa de quase duas horas, até que rendemos bem, chegando a fazer uma singela lista de 50 espécies.

Vou marcar aqui no meu guia alguns bichos que vi hoje e vou já dormir.

Hora: 21h17min.
Nova Mutum, Porto Velho – RO, 28 de outubro de 2015 (Quarta-feira)
(Spectrum – Florence and The Machine)
Hoje foi nosso dia de folga (um dos nossos dias de folga). Ao total teremos quatro dias de folga nesses 15 dias de campo. É uma folga a cada três dias de campo. Acho que toda consultoria ambiental deveria ser assim. Não falo isso por preguiça nem nada, é tanto que hoje, mesmo sendo nosso dia de folga, acordamos de madrugada para passarinhar. Falo isso pois acho vantajoso em diversos aspectos: 

1. Temos a oportunidade de descansar o esqueleto que, querendo ou não, faz com que a gente vá a campo com mais gás nos dias de trabalho. Mais descansados; 

2. Nos dá mais tempo de planilhar os dados coletados nos censos; 

3. Temos a oportunidade de identificar as gravações duvidosas realizadas em campo; 

4. Podemos conhecer novas áreas durante as passarinhadas despretensiosas; 

5. E, para quem gosta, podemos tomar uma cervejinha de leve para amolecer os músculos. Querendo ou não, acaba sendo melhor do que tomar outras drogas como Dorflex©, Neosaldina©, etc.

E foi exatamente isso que fizemos ontem; tomamos umas cervejas de leve...

Ontem foi como um dia de campo qualquer. Saímos por volta das 4h, pegamos os auxiliares (Isac e Antônio) e fomos à luta. 

​Mas como qualquer bom ornitólogo de campo sabe: um dia de campo NUNCA é igual ao outro.

E assim foi: vi, pela primeira vez na minha vida, o Anambé-preto (Cephalopterus ornatus). Momento fantástico! O bicho é gigante! Pelo menos, bem maior do que eu via no guia de campo e do que eu imaginava. 
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Estava no segundo ponto de escuta observando um bando de mais ou menos quatro Anambés-pombo (Gymnoderus foetidus), que já é um bicho, desculpe os termos, foda, quando, sem querer, vi o Anambé-preto! Estava lá, os observando com meu binóculo, quando, de repente, bato os olhos em um Anambé-pombo maior que o normal, e, ainda por cima, com o olho brancão. “Esse Gymnoderus ta estranho” eu pensei... “Esse Gymnoderus é Cephalopterus!!”, eu pensei dois milésimos depois. Putz meu irmão! Tenho que fotografar esse bicho... ninguém vai acreditar em mim se eu falar. Nesse momento minha câmera estava guardada dentro da mochila por causa da longa caminhada que fizemos para chegar ao ponto antes do sol nascer. Por incrível que pareça ainda deu tempo de tirar a máquina da mochila e fotografar a espécie. No momento em que tirei a máquina, o bicho voou, mas fiz um playback e ele voltou. Macho e fêmea pousaram bem próximos um do outro. Bom demais! Pena que minha máquina está com o foco quebrado.
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Fiz o restante dos pontos e encontrei com o Felipe na estrada de terra onde cruza a estrada de ferro Madeira-Mamoré. Cheguei no ponto de encontro um pouco depois dele pois ainda tive que andar uns 3km do último ponto até chegar lá, na estrada.

Almoçamos.

Descansamos.

Acordamos.

Tomamos tereré enquanto identificamos as minhas gravações matinais e, por volta de 16h30 fomos passarinhar despretensiosamente na mata do Polo. Lista de espécies dessa passarinhada.

Voltamos para casa, tomamos um banho e fomos jantar. Tomamos uma cerveja na estação de trem (eu, ele e Lissa).

Entre os vários assuntos abordados o que mais marcou foi sobre a “Energia Limpa” dessas hidrelétricas, que não poderia ser mais SUJA; corrupção, ganancia, crueldade e desumanidade dessas obras e das “pessoas” que estão por trás. 

Esses assuntos me afetam de tal maneira, que passo dias remoendo. Às vezes é melhor nem saber... 

Depois do jantar, voltamos para casa, deixamos a Lissa e fomos para um bar tomar a "saideira" e jogar sinuca (2x1 para mim).

Fomos dormir 2h00 da manhã e acordamos hoje ás 05h00. Gravei um Troglodytes musculus clarus aqui em frente ao alojamento enquanto tomava aquele cafezinho para acordar.

Passarinhamos de 6h30 até umas 9h30 e voltamos para casa. Descansamos até a hora do almoço. Lista de espécies dessa passarinhada.

E agora, 16h30, já planilhei todas as minhas listas e gravações.

Ave do dia: Cephalopterus ornatus.
Nova Mutum, Porto Velho – RO, 29 de outubro de 2015 (Quinta-feira)
(Terral - Ednardo e o Pessoal do Ceará)
Nem tudo é sempre do jeito que queremos né? Se pudesse escolher, eu passarinharia todo dia e toda hora enquanto estivesse por aqui, mas como o universo não funciona assim, seria difícil de se concretizar.

​Que enrolação da porra para dizer: Hoje choveu!

Saímos aqui da base na maior chuva do mundo, mas, mesmo assim, fomos até o ponto na esperança de que lá não estivesse chovendo. E na verdade não é tão difícil quanto parece disso acontecer [está chovendo aqui e lá não] já que são quase 80 km de estrada para chegar. Depois de mais de uma hora de viagem chegamos na beira do Rio Madeira e, por incrível que pareça, não estava chovendo, não tinha chovido, e parecia que não choveria mais. Sendo assim, continuamos com a logística de cruzar o Madeira de barquinho e pegar o carro do outro lado. Encurtando a conversa: mal acabei o primeiro ponto de escuta e a chuva iniciou (eram 06h15). Ela começou fininha, mas foi engrossando e até 06h25, ela já estava com força total. Ainda no início, saquei minha capa de chuva e guardei todos os equipamentos na mochila. Coloquei a mochila e cobri tudo com minha capa. Deixei só minha cabeça do lado de fora do capuz para sentir a água fria amazônica no rosto. Emprestei minha outra capa de chuva para o Seu Antônio. 

Ficamos na trilha esperando o Felipe por uns 10 minutos, mas pense nuns 10 minutos bem aproveitados: relaxando na chuva da Amazônia Rondoniense (1ª vez que faço isso esse ano... até porque a última vez que vim à Rondônia foi em 2013). 

Depois que o Xilipe chegou, ainda esperamos quase 2h na margem esquerda para ver se a chuva passava para passarinharmos. O certo era voltar logo para casa, mas o verme de passarinhar é sempre maior.

A chuva não parou. 

Voltamos para casa. 

Cochilo antes do almoço.

Tombamento de gravações/planilhamento de dados.

Passarinhada vespertina.

Casa.

Mag-Nutre. 

Casa / Banho / Sono. 

Listas no E-bird:
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Nova Mutum, Porto Velho – RO, 30 de outubro de 2015 (Sexta-feira)
“Tem que rir enquanto tem dente...” frase que Xilipe falou na Estação de Trem (restaurante) hoje durante uma longa conversa que tivemos sobre a vida. 

Algo a se pensar... pensar com muita calma.

​Vou dormir que amanhã acordamos as 3h20 novamente.
Nova Mutum, Porto Velho – RO, 01 de novembro de 2015 (Domingo)
(Do I Wanna Know – Arctic Monkeys)
Acabei de receber um e-mail da minha mãe, respondendo um que eu havia enviado de manhã. O motivo do e-mail foi para explicar que passarei 7 dias sem comunicação com o mundo... 7 dias sem internet e sem celular. 

Neste e-mail que ela mandou, chamou atenção à minha obsessão por números: “Você está o verdadeiro homem que calculava! No bilhete, a vida se resume a números”. Talvez ela esteja certa, acho que sou muito ligado a números e contagens, mas com certeza, minha vida não se resume a isso. Há um pouco de sentimento entre um número e outro. Às vezes até uma reflexão acontece entre essas inúmeras contagens. Mas para ser bem sincero, muitas vezes, prefiro nem pensar. Pensar dói, refletir dói! Quanto mais eu conheço/aprendo/sei, mais nojo tenho dos seres humanos! A cada dia tenho mais nojo! Pensar que estão dispostos a colocar milhões/milhares de outras pessoas na miséria para ter mais dinheiro, mais poder! E aqui, em Nova Mutum, estou tendo uma pequena visão disto. Para quem não sabe, Nova Mutum foi construída pois a outra Mutum [Velha Mutum] está debaixo d’água. Está debaixo d’água por causa de usinas hidrelétricas, aquelas que geram energia limpa sabe? Só não sei o que significa esse “limpa”. Milhares de hectares de floresta amazônica de terra firme inundados, o extermínio de espécimes de espécies dependentes de várzea, igapó e terra firme, o bloqueio de percursos de espécies aquáticas (influenciando assim no ciclo de vida de algumas delas), o impacto social, o impacto ambiental, o impacto socioambiental, etc. Se esses e muitos outros impactos forem considerados “limpos”, então é isso mesmo. Usina hidrelétrica Jirau e Santo Antônio: a energia limpa do Brasil. 

Não vou prolongar este assunto agora pois pretendo falar sobre tudo isso com mais detalhes depois. Lembrar de falar também: 
- Como Nova Mutum vai ser uma cidade fantasma;
- Como as pessoas são tratadas como peças de uma grande máquina que, quando estiverem com defeito ou problema são jogadas fora e/ou trocadas. Se a peça “quebrar”, dá no mesmo; troca também e depois de meia hora a máquina já está funcionando novamente.

“Quebrar” que eu digo é “morrer” mesmo. Meia hora depois, tudo volta ao normal...

Me distrai um pouco. Acho que o assunto de uns dias atrás ainda está remoendo.

Hoje foi nosso dia de folga e acordamos um pouco mais tarde. A ressaca me pegou de jeito. Quem mandou tomar mais de meio litro de “Old César”? Começamos a tomar umas aqui em casa e depois fomos para um “piseiro” em Jaci-Paraná. Encurtando a história, o Xilipe foi ameaçado de morte e uns 10 minutos depois eu também fui ameaçado. A melhor opção seria voltar para casa mesmo. Se passamos uma hora foi muito. 

​No mais, é isso... daqui a pouco iremos para outro alojamento em Abunã. Como já falei, lá não terei internet nem rede de telefone. Talvez uma oportunidade para escrever mais?
Abunã, Porto Velho – RO, 02 de novembro de 2015 (Segunda-feira)
(Shine on You Crazy Diamond – Pink Floyd)
Engraçado, nem parece que amanhã é meu aniversário. Acho que era para eu estar um pouco chateado por não estar em casa com meus amigos e minha família. Mas a verdade é que eu estou bem tranquilo por aqui mesmo. Estou feliz por estar aqui, onde não tenho que dar satisfação a ninguém. Um lugar onde quem implora por “satisfação” sou eu... com os pássaros. Todo dia vou dormir pedindo para que o “amanhã” seja repleto de acasos e encontros. 

Falar em “encontros e desencontros”, hoje, eu e o Felipe fomos passarinhar despretensiosamente á tarde e vimos um dos bichos que eu mais queria ver por aqui, a “Maria-do-Madeira” (Poecilotriccus senex)! Com certeza está entre os “Top 5” bichos da viagem. Se duvidar, talvez o que tive a maior satisfação em ver e gravar.
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Para quem não entende, certamente verá um bicho pálido, sem graça e sem sal, mas para mim é (era) um dos bichos mais esperados do oeste amazônico (da “Amazônia ocidental”). Além de ter o visto, consegui gravar seu canto e chamado e ainda consegui uma fotografia mais ou menos. Acredito que o chamado que gravei ainda não era conhecido, pelo menos não publicamente. 

Gravação 1
Gravação 2
Gravação 3

Vou tentar descrever este sentimento fazendo uma analogia: é como se fosse a Disney para uma criança de 10-12 anos, ou ir para o show daquela sua banda favorita, ou conseguir “ficar” com aquela menina que você desejava a algum tempo, e por aí vai. 

​Sim, pois é, acho que meu aniversário aqui vai ser tranquilo. No dia seguinte temos folga, então vamos ver o que pode acontecer. Por enquanto vou “escovar o marfim” (como diz o Xilipe) e me preparar para dormir.

São 21h45min.

Outra coisa boa que esqueci de dizer é que vou estar sem internet e sem sinal de celular por pelo menos mais cinco dias, ou seja, no dia do meu aniversário, estarei incomunicável. 

Que beleza...

Ave do dia [e da viagem]: Poecilotriccus senex.
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​Abunã, Porto Velho – RO, 03 de novembro de 2015 (Terça-feira)
(Machine Head – Bush)
Às vezes fico na dúvida se afinal tenho sangue ruim ou se meu sangue é bom. Geralmente quando vou a campo com colegas, muitos, se não todos, pegam carrapato e eu muitas vezes saio limpinho ou, no máximo com um ou dois. Hoje já catei o segundo da viagem, então espero que seja o último. O engraçado é que o Felipe não pegou nada, ou seja, o cara é pior do que eu! Um tirei do quadril enquanto planilhava os dados de campo no computador e o outro tirei hoje, no banho, enquanto passava sabonete nas costas. 

Hoje, enquanto apagava as fotos que tirei em campo pela manhã, perdi um pouco a paciência com a câmera. Tirei 879 fotos desde a recarga de ontem e tenho que optar entre a foto ruim e a menos ruim. Faz algum tempo que estou tendo problemas técnicos com ela, acho que desde que comprei o corpo novo (Canon 7D Mark II).  Acredito muito que ela veio com defeito de fábrica. Não importa o que a pessoa faça, a câmera não “fecha o foco”. Vários amigos já testaram e concordam. Dessa vez não é problema com “a peça que está atrás da câmera”. 

Enquanto apagava as fotos ruins (quase todas), decidi, por vez, escrever uma carta para a Canon. Agora ela já está escrita e só vou esperar um local com internet para enviar (depois da minha mãe dar aquela velha revisada no texto, é claro). Geralmente os gringos respeitam bem o consumidor. Não é essa palhaçada do Brasil que, se a câmera vier com defeito, o problema é do cliente. Mas também tem a questão dos consumidores gringos não serem “espertinhos”. Enfim, deixa isso para lá. Até agora já passei por mais de 20 situações no Brasil onde “perdi” em todas! E já passei por umas três nos EUA onde resolveram tudo da melhor maneira possível. 

Ah, deixa isso quieto, vamos esperar para ver no que vai dá (acredito muito que tudo será resolvido da melhor maneira possível).

Amanhã é meu aniversário. 

Ave do dia: Ceratopipra rubrocapilla. 

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Abunã, Porto Velho – RO, 04 de novembro de 2015 (Quarta-feira)
(Time – Pink Floyd)
São 23h, hoje ainda é meu aniversário (grande coisa) e amanhã acordarei ás 5h para irmos passarinhar na fazenda Santa Carmem (uma mata de terra firme bruta que fomos averiguar hoje). Amanhã é nosso dia de folga e, por isso, vamos passarinhar nesse local. Levarei meus equipamentos como de praxe, mas, sinceramente? A minha vontade era de deixar a minha máquina fotográfica aqui no alojamento. Hoje ela conseguiu me tirar do sério de verdade! Na verdade, ela e o cabo do meu gravador me tiraram do sério, mas com certeza ela foi o motivo principal. 

Hoje o dia foi um pouco mais puxado que os outros: acordamos as 3h30 para podermos fazer tudo, sair de casa as 4h07 e estar no ponto as 4h50. Fizemos isso, pois hoje queríamos começar pelo final do transecto. Ao invés de fazer como sempre, começar em 50m e acabar os pontos de escuta perto dos 2250m, fizemos de outra maneira. Chegamos no início do transecto uma hora antes para poder andar até o 4000m ainda no escuro e começar os pontos de escuta de lá. Em outras palavras fiz um “cooper” na Amazônia de pelo menos, 8km. Estou bem! 

Geralmente, as pessoas só veriam coisas negativas em tudo isso que falei: 
1. Acordar cedo (acordar muito cedo); 
2. Andar pra caramba; 
3. Tudo isso num calor dos infernos (se é que o inferno chega a ser tão úmido assim). 

Mas a verdade é que SEMPRE há recompensas nisso tudo. Se não fosse difícil, não teria graça! 

Hoje tive como recompensa e presente de aniversário, ainda no escuro, as 5h15, um TATU-CANASTRA!!! Acho que dispensa qualquer explicação né? O bicho é gigante! Nunca parei para imaginar. Pense num susto grande. Enquanto estávamos andando (eu e Lalá) numa passada rápida para chegarmos aos 4000m antes de clarear, um vulto grande sai do mato para dentro da trilha. Quando joguei a luz da lanterna, era o bicho! Fantástico! Quando essas coisas acontecem comigo, fico pensando um monte de coisas: quantas pessoas na face da terra já viram um bicho desses em vida livre? Quando será que verei um bicho desses novamente? Será que um dia vejo esse bicho de novo? Às vezes penso que nunca mais. A verdade é que não tem como saber. O Felipe já veio para essa região mais de 15 vezes, ou seja, já passou, pelo menos, 230 dias em campo nesta região e nunca viu. 

Não sei se um dia o verei novamente, mas por enquanto prefiro pensar que foi um presente de aniversário. Agradeço ao acaso pelo presente. 

Por outro lado, também tive alguns contratempos no meu aniversário. Basicamente relacionados aos meus equipamentos de trabalho. A algum tempo ando insatisfeito com o meu equipamento fotográfico. Como já falei, ele não está “fechando o foco” no assunto. Não foca, não crava, não espoca! Para resolver esse problema levei-a para um cara em Fortaleza para consertar. O foda é que depois que a peguei, além dela continuar com o mesmo problema, agora, vez por outra, enquanto eu estou tentando focar ela trava! E hoje apareceu uma novidade só para acrescentar mais problemas; apareceu uma mensagem que nunca havia visto antes: “Err 01: Comunicação entre câmera e objetiva incorreta. Limpar contatos objetiva”. O pior é que isso aconteceu umas 3 vezes só hoje! Me tirou do sério para caramba. E como se isso já não bastasse, nas cinco últimas gravações que fiz, começou a dar mal contato no cabo do microfone. Fiquei muito puto quando juntou tudo isso. Vou até parar de falar disso para não lembrar...

Mesmo assim, a vontade é nem levar a máquina amanhã.

Bicho do dia: Tatu-canastra (Priodontes maximus).

Almoço porreta!

Cochilo maciço.

Gravações tombadas.

Passarinhada na fazenda Santa Carmem!

Compra de cervejas no Mota!

Jantar na dona Rute (Dona Roots).

Birita em casa.

Dormi: 23h40.
Abunã, Porto Velho – RO, 05 de novembro de 2015 (Quinta-feira)
Hoje foi o dia dos mamíferos! 

Impressionante como nós, ornitólogos/observadores de aves “temos sorte” para ver os mamíferos em campo. E na minha opinião, não podíamos registrar de maneira melhor (de maneira mais completa/efetiva): sempre que possível, fotografamos o máximo possível, e se o bicho estiver vocalizando, aproveitamos para fazer umas gravações, além de observar o comportamento do animal com binóculo. 

​Na passarinhada dessa manhã, além das mais de 60 espécies de aves observadas, registramos dois mamíferos, com fotografias e gravações; a Queixada (Tayassu pecari) e o Macaco-aranha aqui da região (Ateles chamek). Fiz umas quatro gravações de mais de 3min de um filhote de Macaco-prego que estava chamando pelos pais em uma árvore isolada. Sei que eram os pais pois o Felipe conseguiu boas fotografias dos dois adultos que estavam em outra árvore. Sei que era um macho e uma fêmea pois um tinha pênis e outro tinha as mamas mais desenvolvidas. E sei que eram os pais por causa do olhar de preocupação que só um pai e uma mãe tem pela cria. Juntando as fotos do Felipe com minhas gravações, o registro não poderia ter ficado mais completo (na minha opinião, isso vale ainda mais que uma coleta).
Na volta para o carro nos deparamos com um bando de, pelo menos, umas 100 queixadas. Naturalmente registramos com fotos e gravações. Fiz uma foto e duas gravações, uma de 3min e outra de quase 7min, onde é possível escutar os “estalos” que elas fazem e dá para ouvir grunhidos e o barulho que eles fazem correndo pelo mato, quebrando tudo pela frente. 

Quando finalmente conseguimos sair do mato, já eram quase 13h. O Felipe ainda parou no caminho, ainda dentro da fazenda Santa Carmem, para dar um mergulho rápido num córrego de água limpa. Para ter uma noção do tamanho desta fazenda, depois que entramos na porteira principal ainda andamos mais de meia hora de carro para chegar onde queríamos passarinhar, numa área de manejo de retirada de madeira legalizada. Essa área tem mais ou menos 12km de “fundura” e pelo menos quatro vezes maior em comprimento. É uma área gigantesca de floresta Amazônica de terra firme. E é isso que os bichos que encontramos lá nos indicam (Ex: Rhegmatorhina hoffmannsi). 

Antes de sair da fazenda, falamos com o Sandro, o rapaz que cuida da propriedade e que nos deixou (permitiu) entrar. Agradecemos e aproveitamos para mostrar um mutum que havíamos fotografado no início da trilha. (Quando chegamos hoje bem cedo ele falou meio num tom de desafio: “quero ver uma foto de mutum, viu”).

Chegamos em Abunã, almoçamos e cochilamos até o final da tarde, aproveitando bem o nosso dia de folga. Eu acordei as 16h10 e o Felipe mais ou menos meia hora depois. 

Passamos o resto do dia tomando tereré, planilhando dados, conversando e escutando músicas.

Bicho do dia: Tayassu pecari.

Para muita gente teria sido o macaco-aranha. Para mim também seria, mas é porque a situação, o momento com as queixadas foi tão forte. Além de ver uma fêmea com uns 3 filhotes por mais de um minuto, deu para sentir o cheiro fortíssimo do bando passando bem perto de nós e teve o “boom” de adrenalina que senti. O medo que já tenho de porco selvagem... e eles poderiam ter corrido em nossa direção e sem querer ter nos atropelado. No final da segunda gravação talvez dê para sentir isso um pouco. 

Abunã, Porto Velho – RO, 06 de novembro de 2015 (Sexta-feira)
(Ain’t no Sunshine – Bill Withers)
De todos os dias de campo, talvez hoje tenha sido o dia mais improdutivo por causa do tempo. Estava aquele famoso “chove e não molha”. Não estava chovendo o suficiente para encerrar a metodologia, mas também não estava no tempo ideal para tirar o microfone da mochila para fazer algumas gravações. É tanto que hoje, infelizmente, não fiz nenhuma gravação. Mas mesmo tendo sido um dia “improdutivo”, vi algumas espécies que ainda não tinha visto nessa campanha, e também vi uma que nunca havia registrado antes; o Martinho-pescador-do-mato (Chloroceryle inda). Além de ter visto e fotografado ele, consegui ver e fotografar pela primeira vez, o Inhambú-anhangá (Crypturellus variegatus). 
Não fomos passarinhar a tarde porque desde a hora do almoço até mais ou menos umas 15h, não parou de chover. Dormi de 12h10 até umas 14h30, planilhei os dados do campo de hoje, escrevi um pouco e comecei a organizar umas gravações que fiz em Rondônia em 2013, quando vim para a Amazônia pela primeira vez com o Arnaldo. Já estava na hora de dedicar um tempinho para elas. O Felipe está me ajudando para caramba com isso. Para se ter uma noção tem bicho que gravei que eu nem sabia que um dia tinha chegado tão perto, como o Gavião-miudinho (Accipiter superciliosus) e o Saurá-de-pescoço-preto (Phoenicircus nigricollis), que, na época, gravei pensando que era algum papagaio. Foi muito massa (legal) “descobrir” essas novidades. 

Organizei mais de 80 gravações hoje. E acabei tomando umas cervejas também. O tereré não bastou para essa quantidade de trabalho.

Jantei na Sorveteria da Dona Roots e vou anotar aqui os lifers que consegui fotografar até agora.

1.    Tyrannopsis sulphurea
2.    Hypocnemis peruviana
3.    Myiozetetes luteiventris
4.    Bucco tamatia
5.    Corythopis torquatus
6.    Notharchus tectus
7.    Polytmus theresiae
8.    Philydor sp.
9.    Poecilotriccus senex
10.    Rhytipterna immunda
11.    Gymnopithys salvini
12.    Drymophila devillei
13.    Myrmeciza hemimelaena pallens
14.    Crypturellus variegatus
15.    Gymnoderus foetidus
16.    Selenidera reinwardtii
17.    Cephalopterus ornatus
18.    Attila citriniventris
19.    Schistocichla rufifacies
20.    Cyanerpes nitidus
21.    Heliomaster longirostris
22.    Galbula cyanescens
23.    Myrmotherula menetriesii
24.    Campephilus rubricollis
25.    Epinecrophylla haematonota amazonum 
26.    Mitu tuberosum
27.    Chloroceryle inda

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Ave do dia: Crypturellus variegatus.
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Abunã, Porto Velho – RO, 08 de novembro de 2015 (Domingo)
Último dia em Abunã e o último dia de campo. 

O último dia de todas as expedições são assim, principalmente quando é em um local ermo desse mundo, como as terras remotas da Amazônia rondoniense. É uma mistura de saudade (de casa, da Dona Roots, do sorvete da Dona Roots, dos pássaros) com alívio de estar voltando para casa, para a família, para a mamãe, para o papai, para a Liz, para o Otto. 

Ontem não escrevi para mostrar que eu conseguiria ficar sem planilhar e sem escrever por um dia! Confesso que não fiquei muito bem. É tanto que demorei bem mais para adormecer. Demorei por volta de 6–8min. Mas eu tenho que treinar essas coisas: “ficar mais de boa”, como diria o meu amigo Bob.

Como hoje foi meu dia de despedida, eu e o Felipe estamos bebendo até agora (23h20) para comemorar os dias de campo, as aves e os momentos.

Amanhã acordarei as 5h00 para passarinhar em algum canto, afinal estou na Amazônia meu amigo! Espero fazer pelo menos umas 10 gravações amanhã. Se uma ficar boa, está ótimo! 
Tentamos passarinhar na fazenda Santa Carmem, mas não conseguimos falar com o Sandro. 

Lifers restantes: 

28.    Synallaxis rutilans 
29.    Tinamus guttatus 
30.    Heliornis fulica 
31.    Nyctibius aethereus
32.    Terenotriccus erythrurus
33.    Micropygia schomburgkii
34.    Buteo platypterus
35.    Myrmotherula sp. 
36.    Sciaphylax hemimelaena
37.    Hydropsalis nigrescens
38.    Trogon melanurus
39.    Tangara velia
40.    Tringa solitaria
41.    Leucopternis kuhli 
42.    Pyrrhura snethlageae

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Expedição Carnaval 2016

15/2/2016

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A Equipe
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Caio Brito, Marcel Lucena e Leandro Rodrigues
O Trajeto
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Fortaleza-CE (A); Serra da Aratanha-CE; Guaramiranga-CE (B); Quixadá-CE (C); Potengi-CE (D); Barbalha-CE (E); Canudos-BA (F); Patos-PB (G); Areia-PB (H); João Pessoa (I); Santa Rita.
O Plano
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Dia 01 – 03 de fevereiro de 2016 (quarta-feira) – Guaramiranga-CE

(For what it’s Worth – Buffalo Springfield)*
O dia começou como qualquer outro; estudos, edição de fotografias e sons e ajudando com alguns afazeres domésticos na casa da minha mãe em Fortaleza.

Depois do almoço, arrumei minhas malas, coisa que já era para eu ter feito há muito tempo, já que passarei quase, ou até mais, de um mês fora de casa. A Marilia, grande amiga da época do colégio, também passou lá em casa para pegar algumas sementes de urucum (Bixa orellana) para o carnaval de Olinda. Com certeza esse negócio em Olinda vai ser bom!

Por volta das 14h30, Marcel Lucena chegou lá em casa para que fôssemos atrás do primeiro bicho da expedição, a Araponga-do-nordeste (Procnias averano). Até então, nunca havia conhecido e nem falado virtualmente com o Marcel. Nos conhecemos assim que ele entrou pelo portão da casa da minha mãe. O que acontece é que a equipe original seria eu, Leandro Rodrigues, Cecília Licarião e Jackson Forte, mas, por motivos maiores, os dois últimos tiveram que desistir de última hora.

Quando o Marcel chegou, ainda estava terminando de arrumar minhas malas então só fomos sair depois das 15h. Além de tudo, ainda tive que fazer um “curativo” para uma tatuagem que fiz no braço no dia anterior. Olha o que eu vou inventar um dia antes de uma viagem longa e cansativa dessas. Sei não viu...

Dirigimos por volta de uma hora para chegar no pé da serra onde ficam as arapongas. Agora é que está a parte ruim; logo no início, tivemos que fazer nossa primeira decisão, direita ou esquerda. E foi nessa parte que erramos, pegamos para a direita. 

Não peguem para a direita! 

Fizemos isso porque à esquerda tinha uma grande placa dizendo “propriedade particular, não entre”, mas pode entrar, só dizer que é amigo do Caio Brito, o cabeludo (ninguém sabe nem quem eu sou).

Enfim, as duas estradas são péssimas e só é possível se for com carro 4x4. De longe, o pior trecho de toda a viagem! Só soubemos que estávamos no caminho errado, quando, lá em cima, já no topo, perguntamos para uma mulher e ela nos informou. Estávamos em um lugarejo chamado Mariana. Nunca saberia que isso existia aqui no Ceará.

Voltamos TUDO de novo e acertamos o caminho, chegando ao ponto das arapongas, que o amigo Lindemberg me passou, no limite da luz solar (por volta de 17h30). 

Foi uma sensação EMOCIONANTE! Primeiro, só de ouvi-las já me arrepiei. Depois de uns 10 minutos de procura, quando finalmente a localizei, ai... realmente uma sensação indescritível! 

Essa viagem começou com pé direito!
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Um pouco antes de escurecer, descemos a serra e paramos em um posto para comer açaí. Foi exatamente o tempo suficiente para o Leandro dar algum sinal de vida. Enquanto estávamos terminando nosso açaí, ele nos ligou dizendo que estava chegando em casa. 

Saímos do açaí, passamos na casa do Leandro, fizemos algumas compras no supermercado e fomos para Guaramiranga.

​Lista do dia com cerveja em Guaramiranga, com direito a Terezópolis e tudo mais!
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Comemorando o primeiro dia de expedição
* Ave do dia: Procnias averano (araponga-do-nordeste).
- Motivo: Primeira foto que faço do bicho e lifer para o Marcel!

Listas do dia:
- Serra da Aratanha: lista

Dia 02 – 04 de fevereiro de 2016 (quinta-feira) – Potengi-CE
Acordamos às 04h10min. Ressaca grande meu amigo! Vontade maior ainda de não levantar! Mas a gente acaba levantando né? Se fosse fácil, não teria graça.

Assim que levantei da cama, corri para a cozinha para preparar um bom café. Enquanto esquentava a água, começou a chover. Tomamos um cafezinho com alguns petiscos até a hora em que a chuva parou, por volta das 4h50, e fomos direto para um dos dormitórios dos periquitos-de-cara-suja (Pyrrhura griseipectus). Deu certo! Derem show! Com pouca luz para fotografias, mas deram show.

Passarinhamos em mais dois locais, que, juntos, nos rendeu TODAS as espécies-alvo da serra:

- Hotel Remanso: Tovaca-campanhia (Chamaeza campanisona), Chupa-dente-do-Ceará (Conopophaga cearae), Saripoca-de-gouldi (Selenidera gouldii).

- Parque das Trilhas: Vira-folha-cearense (Sclerurus cearensis), Saíra-militar/Pintor (Tangara cyanocephala cearensis), Uirapuru-laranja/Guaramiranga (Pipra fasciicauda scarlatina), Pica-pau-anão-da-caatinga (Picumnus limae), Arapaçu-rajado-do-nordeste (Xiphorhynchus atlanticus), Maria-do-nordeste (Hemitriccus mirandae) e o raríssimo Uru (Odontophorus capueira plumbeicollis).
Glaucis hirsutus
Hemitriccus mirandae
Pipra fasciicauda
Platyrinchus mystaceus
Viajamos até Quixadá e almoçamos uma bela panelada no Hotel Pedra dos Ventos. Em uma rápida passarinhada, registramos o Pica-pau-ocráceo (Celeus ochraceus), Águia-chilena (Geranoaetus melanoleucos) e o Bacurauzinho-da-caatinga (Hydropsalis hirundinaceus), entre outros.

Saímos por volta das 15h rumo à Potengi, com paradas ao longo do caminho em algumas lagoas para procurar por bichos aquáticos.

Tringa flavipes
Hydropsalis hirundinaceus
Chegamos em Potengi por volta das 8 e fomos direto para um ponto de encontro com o Jefferson Bob. Enquanto esperávamos, tomávamos uma cerveja para relaxar.

Jantamos pizza e planejamos o dia de amanhã.

​Chegando no hotel, tomamos banho, fizemos a lista de espécies do dia e capotamos na cama.
Estrada de acesso para o Hotel Remanso
Sempre bate aquele sono
Fantástica panelada do Hotel Pedra dos Ventos
Por-do-sol na estrada
Recarregando as baterias
* Ave do dia: Odontophorus capueira (Uru)
- Motivo: Além de ser um bicho fantástico, a subespécie que ocorre no Maciço de Baturité é criticamente ameaçada e passou quase UM ANO SEM SER REGISTRADA no maciço até este dia. Fizemos quatro boas gravações, mas infelizmente não conseguimos foto. A situação desta população está FEIA!

Listas do dia:
- Guaramiranga: lista
- Quixadá: lista 
- Estrada 1: lista 
- Estrada 2: lista

Dia 03 – 05 de fevereiro de 2016 (sexta-feira) – Canudos-BA
Acordamos 05h10 e encontramos com o Jefferson Bob às 5 e meia em frente à sua casa. Aproveitamos que o estabelecimento do Seu Menino estava aberto para tomarmos um cafezinho com tapioca antes da passarinhada.

​Pela manhã, passarinhamos na Reserva Florestal do Sítio Nascente e no Sítio Pau Preto. Ambos com uma certa pressa, sem nos dedicar tanto à fotografia, pois ainda iriamos no soldadinho-do-araripe antes de uma longa viagem para Canudos. Mesmo assim, conseguimos algumas boas fotografias (principalmente o Marcel) e boas gravações.

Picumnus pygmaeus
Myrmorchilus strigilatus
Stigmatura napensis
Xenopsaris albinucha
Depois de registrar mais de 120 espécies pela manhã nessas duas localidades, paramos na casa da mãe do Bob para almoçar uma deliciosa galinha caipira.

Nos despedimos de todos e seguimos nosso caminho para Barbalha, deixando a Aline (esposa do Bob) no Crato para ela ir à faculdade.

​Ficamos no Arajara Park até 3 e meia. O Marcel conseguiu fotos muito boas da estrela principal e eu, finalmente, gravei o bicho!
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Antilophia bokermanni
Após uma longa viagem para Canudos, cruzando o Rio São Francisco e um lindo pôr-do-sol, conseguimos chegar às 8 e meia da noite.

Deixamos nossos pertences no Hotel Brasil e fomos jantar uma pizza no Restaurante Doce Mel.

​Acabei indo dormir quase meia noite. Ô dia longo!

Sítio Pau Preto
Sais minerais para a vaquinha
Potengi: as aves aguentam o sol. O passarinheiro aguentar é outra história
Por-do-sol a caminho de Canudos-BA
Indo ao encontro com o Soldadinho-do-Araripe
Sobre o Rio São Francisco
Ponte sobre o Rio São Francisco
Por-do-sol a caminho de Canudos-BA
* Ave do dia: Antilophia bokermanni (Soldadinho-do-Araripe)
- Motivo: Não há como discutir...

Listas do dia:
- Araripe: lista
- Potengi: lista 
- Barbalha: lista 

​Dia 04 – 06 de fevereiro de 2016 (sábado) – Patos-PB
Acordei 3h15 para fazer café, me arrumar e sair do hotel às 3h50min.

Chegamos no alojamento da reserva às 04h10min e só saímos de lá às 4 e 50 pois encontrei com os amigos Marcos Holanda, Ester Ramirez e Sergio Gregório. Depois curta, mas boa conversa, pegamos o rumo do buraco, o dormitório das araras, com o Dorico (Guia florestal da reserva).

​Chegando lá: ARARA-AZUL-DE-LEAR! E não há nem o que falar. Vou apenas mostrar:
Cafézinho é sempre bom!
Cafézinho é sempre bom!
Marcel, Ester e Sergio
Dorico, Ester, Marcos, Sergio, Leandro e Marcel.
Andando em marte
Eu, Ester, Marcos, Sergio, Marcel e Leandro
Galera no buraco
Marcel fotografando araras em voo
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hVoltamos ao Hotel Brasil para tomar café da manhã, arrumar nossas malas e pegamos a estrada às 10.

Chegamos em Patos às 17h30min depois de uma longa viagem de 600Km.

​Chegando lá, foi só alegria: cerveja e bons papos com o velho amigo Arnaldo Vieira, que eu não via há tempos. Muito orgulho dele e da Clarinha (sua esposa) que estão numa casa maravilhosa em Patos. Parabéns meus queridos!
Anodorhynchus leari
Na estrada
Confraternização
Falco rufigularis
* Ave do dia: Anodorhynchus leari (Arara-azul-de-lear)
- Motivo: dispensa qualquer tentativa de explicação.

Listas do dia:
- Reserva Biológica de Canudos: lista
- Posto Fiscal em Penaforte-CE: lista 
- Patos-PB: lista 


Dia 05 – 07 de fevereiro de 2016 (domingo) – Areia-PB
DIA DE FOLGA! Cada um acordou na sua hora (Eu: 07h00min; Leandro: 09h30min; Marcel: 10h00min).

Um café da manhã maravilhoso colocando várias conversas em dia com o Arnaldo.

Almoço na estrada, em Santa Luzia.

Antes de almoço, já estávamos com vontade de tomar um banho de lagoa na beira da estrada, pelo menos foi isso que os meninos me falaram. Eu queria! Depois do almoço, a minha vontade continuou forte, então mantive um olhar atento para os corpos d’água na beira da estrada. Quando, finalmente, achei um que me agradasse (tamanho, cor e transparência da água, acessibilidade, vegetação aquática, vegetação circundante e vontade à primeira vista), puxei a direção para chegar nessa lagoa. É nesse momento da puxada de direção que você vê quem realmente queria e quem estava apenas colocando lenha na fogueira.

- Tu tava falando sério Cabritin? – Leandro perguntou meio assustado sem crer que eu realmente queria tomar um banho de lagoa.

​- Oura mais. E num era sério não? – respondi.

Quando estávamos saindo da pista, percebi dois bichos estranhos voando acima e, quando dei mais atenção, vi que eram dois biguatingas (Anhinga anhinga) voando alto. Descemos rapidamente do carro e garantimos algumas fotos de registro.

Estacionei o carro em uma sombra e, quando começamos a andar em direção a onde os biguatingas tinham voado, um homem estranho, sem camisa, se aproximou do meu carro e me chamou em um tom quase inaudível. Um cara muito estranho com comportamento suspeito.

- O que cê quer aqui? – limpo e seco, assim mesmo como está escrito, ele me perguntou.

- Rapaz... eu vim tomar um “banhzin” de lagoa aqui para refrescar a cabeça. Sol ta quente né? – eu respondi tentando ser simpático, como sempre.

- Pode não! – ele respondei. Teve aqueles dois segundos imensos de silêncio enquanto eu imediatamente arregalei os olhos, sem entender bem a resposta grossa que ele me deu. 

- Pronto, esse cara vai me matar! – eu apenas pensei. Enquanto isso, os meninos estavam longe e sem escutar nada. – ééé, por que não? Água muito suja é? – eu finalmente tive coragem de falar alguma coisa.

- Não, porque eu não quero!

- Filha da puta meu irmão! – Novamente, eu apenas pensei. Vou dá um soco nesse cara! Mentira! Eu estava morrendo de medo, isso sim! Antes que eu pudesse falar alguma coisa, acho que ele percebeu minha cara de primórdios de irritabilidade, ele incrementou à sua fala.

- É porque eu uso essa água para viver. Faço tudo com ela. Venha aqui, me siga, deixa eu te mostrar minha situação.

Olhei para os meninos com cara de surpresa e fiz um gesto para que eles viessem logo e nos seguissem. Quando dobramos o corredor de juremas (), já vi onde ele morava: debaixo da ponte. Chegamos mais perto e ele nos mostrou como vivia, como cozinhava e que só estava naquela situação por causa de mulher!

- Cuidado! Mulher só quer o cara quando ele está em cima, com dinheiro. Gastei tudo com cachaça e puta! E agora estou aqui, morando debaixo de uma ponte. Mulher é perigoso, mulher é o cão. – ele passou pelo menos uns 5 minutos falando de mulher e como tínhamos que tomar cuidado com esse negócio.

Até entendo o cara, mas acho uma merda essa cultura que 90% dos homens do país possuem: se tem grana, tem que torrar TUDO com cachaça* e puta! Só lamento. Prefiro gastar com livros e viagens. *cachaça: qualquer bebida alcoólica quente. Geralmente, quando esses caras estão endinheirados, vão de black, blue, green e gold label. Normal.

Passarinhamos no local, sem tomar banho, e registramos quase 40 espécies, inclusive algumas novidades para a viagem.

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Antes de Areia, tivemos que passar em Campina Grande para resolver algumas missões que tinha que cumprir: trouxe uma mala com pertences da minha avó e deixei na casa da minha tia e peguei uma sacola de blusas para entregar ao meu primo em João Pessoa. Para resolver tudo, não durou mais que meia hora. Tranquilo.

Quando chegamos em Areia, ainda estava claro, então demos uma breve parada na Mata do Pau Ferro para ver o que tinha de bom por ali antes de ir para o churrasco na casa do Professor Helder, meu orientador. Ainda conseguimos duas espécies raríssimas; o pintor-verdadeiro (Tangara fastuosa) e a Papa-taoca-de-pernambuco (Pyriglena pernambucensis).

Casa do Helder. Muita cerveja e um pouco de cachaça.

Churrascaria do Castelo. Muita cerveja.

Casa.

Fizemos a lista do dia.

​Deitei meia noite e meia.
* Ave do dia: Anhinga anhinga (Biguatinga)
- Motivo: apesar de ser uma ave bem comum em várias regiões do Brasil, no Nordeste é uma ave vagante e incomum de se ver. Pela ave e pela surpresa, a escolhemos como "ave do dia".

Listas do dia:
- Santa Luzia: lista 
- Santa Luzia: lista 
- Estrada: lista 
- Areia: lista


Dia 06 – 08 de fevereiro de 2016 (segunda-feira) – João Pessoa-PB
Acordamos 5 e meia. Acho que hoje foi a pior ressaca de todas! Não queria acordar por nada nesse mundo. Cabeça levemente dolorida. Essas coisas comuns para quem bebe muito na noite anterior e quer acordar de madrugada. Parece que eu nunca aprendo.

Levantei, fiz café e deitei de novo. Levantei, tomei o café e deitei mais uma vez. Levantei me vesti, tomei mais café e, finalmente, saímos de casa por volta das 6.

Dia intenso de passarinhada no Parque Estadual Mata do Pau Ferro. Muitos bichos legais, mas, infelizmente, o Tatac (Synallaxis infuscata) não apareceu.

Marcel passou mal no final da trilha. Péssimo lugar para isso acontecer, já que tem pelo menos 1km na volta... só de subida! O bichinho até vomitou. (Ainda não sabíamos, mas dois dias depois seria eu o “contaminado” e 4 dias depois seria a vez do Leandro. Ou foram as piabas que comemos ou é essa virose que todos estão falando mesmo).

Almoço na Vó Maria, comida regional. Sorvete no centro da cidade. Soneca após almoço.

Passarinhada vespertina na barragem de pitombeira e, quando voltamos para deixar o Wylde em Areia, comemos na padaria.

​Chegamos em João Pessoa por volta das 8 e meia e fomos direto na casa do Tio Huguinho, falar com o pessoal e entregar as blusas que tinha encomendado.

Viemos para a casa do Tio Henrique e Tia Valerinha e fomos dormir por volta das 23h, eu, já com o estomago bem embrulhado.

Hora do descanso
Tangara fastuosa
* Ave do dia: Leptodon forbesi (Gavião-de-pescoço-branco)

Listas do dia:
- Areia: lista 
- Alagoa Grande: lista 

Dia 07 – 09 de fevereiro de 2016 (terça-feira) – João Pessoa-PB
Acordei péssimo! O cansaço me pegou de jeito.
* Ave do dia: Rhytipterna simplex (Vissiá)

Listas do dia:
- Santa Rita: lista
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Fortaleza-CE

19/1/2016

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Fortaleza – CE, 9 de setembro de 2015 (Quarta-feira)
(No toca fita do meu carro – Bartô Galeno)*

* Lembrete pessoal:  “ Se um dia eu for preso, não levar sabonete Phebo.”

Acabei de voltar do aeroporto. Fui deixar a Fernanda (Fernanda Fernandex)...

Vão completar 15 dias que estou todo entupido. Aqueles sintomas de quando a pessoa está entupida a muito tempo sabe?  Dores nos sinos, pressão nos olhos, leve dor de cabeça, quando espirra, parece que o cérebro vai explodir, essas coisas.

Tirando essa parte, está tudo tranquilo; tive um feriado sensacional em Guaramiranga-CE, registrei, junto com Leandro e Fernanda, mais de 100 espécies de aves, e estou escutando Bartô Galeno enquanto escrevo. Só faltou agora uma dose de cana e praia. Acho que a praia vou resolver em breve, mas vou ficar sem a dose mesmo, melhor assim.

Para os interessados em observação de aves, segue as listas realizadas durante os dias em Guaramiranga-CE:
* Lista 1 (com Leandro Ribeiro)
* Lista 2 (com Leandro Ribeiro)
* Lista 3 (com Leandro Ribeiro)
* Lista 4 (com Fernanda Fernandex)
* Lista 5 (com Fernanda Fernandex)
* Lista 6 (com Fernanda Fernandex)

Para quem for olhar as listas, sugiro que apertem o "play" na música acima. É outra experiência.
***
Subi a serra no sábado com o Leandro e a Suzy. Almoçamos um peixe frito na “casa do peixe”, antes de Baturité, e, quando chegamos em Guaramiranga, só deixamos os pertences no chalé e já fomos passarinhar.

Podemos dizer que o feriado foi mais ou menos isso:  passarinhar, comer tapioca, passarinhar, comer tapioca de novo, dormir, acordar cedo, passarinhar. E por aí vai...

​Como a Fernanda iria passar uma manhã comigo em Guaramiranga e queria ver alguns bichos que nunca havia visto antes (lifers), eu e o Leandro fomos atrás dos melhores pontos para observar esses bichos, para otimizar o tempo em que eu estivesse com a Fernanda. O Leandro é meu parceiro dos matos, sempre que tenho uma missão que envolve “mata”, o Leandro está lá para fazer a melhor companhia possível. E essa boa companhia não deu em outra; fizemos o primeiro registro fotográfico do Gavião-bombachinha-grande (Accipiter bicolor) no Maciço de Baturité, e melhor ainda, no Parque das Trilhas. Realmente, não tem segredo, o negócio é estar nos matos.
Accipiter bicolor (Gavião-bombachinha-grande)
O Leandro foi embora na 2ª-feira (07 de setembro) a tarde, 10 minutos depois que a Fernanda chegou. Assim que ela chegou, deixamos suas coisas no chalé e fomos dar uma volta rápida no Parque das Trilhas para ver alguns bichinhos que ela ainda não havia visto. Em mais ou menos uma hora já conseguimos ver 4 lifers [para ela]: bico-chato-amarelo (Tolmomyias flaviventris); João-de-cabeça-cinza (Cranioleuca semicinerea); Chorozinho-de-cabeça-preta (Herpsilochmus atricapillus) e Pica-pau-anão-da-caatinga (Picumnus limae).
Tolmomyias flaviventris (Bico-chato-amarelo)
Cranioleuca semicinerea (João-de-cabeça-cinza)
Herpsilochmus atricapillus (Chorozinho-de-cabeça-preta)
Picumnus limae (Pica-pau-anão-da-caatinga)
Quando o sol esfriou mais um pouco, fomos em busca dos Caras-sujas (Pyrrhura griseipectus) que é praticamente a espécie mais importante de se ver na serra, devido ao seu grau de ameça e à sua distribuição restrita. 

Chegando ao local onde geralmente encontro-os, a tensão cresce à medida que o tempo passa sem que os bichos apareçam:

- 16h00min: nada... 

- 16h30min: nada...

- 17h00min: nada...

Só bandos cantando e voando longe. 

- 17h10: pousaram do nosso lado! 

Obrigado Senhor! Nessas horas até eu fico meio religioso!
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Essa é a parte louca de guiar pessoas nessas atividades de “birdwatching”, essa tensão/emoção que não existe nas consultorias ambientais. Quando você está guiando, você se envolve, quer que a pessoa veja TUDO!  Quando o bicho não aparece, começa a bater um leve nervosismo por dentro, ainda mais quando é um bicho importante como o cara-suja. Ainda bem que esses caras apareceram... e apareceram bem. Pena que já estava com pouca luz. Mas deu certo. 

No outro dia de manhã vimos muitos bichos e muitos que ela queria. Mais 11 para a lista de lifers da Fernanda:  Chorozinho-de-chapéu-preto (Polioptila plumbea), Taperuçu-de-coleira-falha (Streptoprocne biscutata), Andorinhão-do-temporal (Chaetura meridionalis), Pica-pau-ocráceo (Celeus ochraceus), Beija-flor-vermelho (Chrysolampis mosquitus), Arapaçu-rajado-do-nordeste (Xiphorhynchus atlanticus), Maria-do-nordeste (Hemitriccus mirandae), Vira-folha-cearense (Sclerurus cearensis), Surucuá-de-barriga-vermelha (Trogon curucui), Guaracava-grande (Elaenia spectabilis), Tovaca-campainha (Chamaeza campanisona). E muitos outros com fotos maravilhosas, parabéns Fernanda.
Na volta comemos o velho e bom peixe frito na “casa do peixe”.

Devolvemos o carro que ela havia alugado e esperamos a prima dela chegar no aeroporto para sairmos todos juntos de taxi aqui para casa.

...sim, sobre o sabonete phebo...

Viajo constantemente e já tenho uma certa experiência em o que levar e o que não levar para uma viagem. Sei o que levar em uma viagem longa, em uma viagem curta, o que levar dependendo do objetivo da viagem (fotografia, passarinhos, festas, férias). Mas às vezes, no meu caso, muitas vezes, eu esqueço uma coisa ou outra, e nessa viagem foi a vez de esquecer o sabonete. Como não iria ficar sem usar sabonete, peguei o primeiro que vi ali por cima. Mas quando se trata de objetos de terceiros, tenho o maior cuidado, ainda mais quando é um artigo de higiene pessoal. Faço o máximo para que a pessoa não perceba: faço espuma utilizando só as mãos (sem passar ele no corpo), tento deixar ele limpinho e uso pouco.

Como eu estava tendo todo esse cuidado para não ser percebido, TUDO deu errado! O sabonete caiu no chão umas 7 vezes, sem exagero. Toda vez que caia, voltava como um sabonete esfoliante. E quando eu estava conseguindo tirar a ultima pedrinha do sabonete phebo-esfoliante, ele caia de novo. Na ultima vez que caiu, ele já estava na metade do tamanho de tanto eu passar água pra limpar.

​Foda-se meu amigo.

Deixei o sabonete sendo esfoliante mesmo... pela metade.

Peço desculpas ao dono. Vou comprar um novo e deixo no mesmo cantinho que achei.

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    Caio Brito

    Ornitólogo, escritor e aventureiro. Mestre em Zoologia e aprendiz da vida.

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