CONTACT ME
Caio Brito
  • About
  • Fieldwork
    • Birdwatching Expeditions >
      • Ceará
      • Bahia
      • Paraíba
      • Sergipe
      • Tocantins
      • Goiás
      • Suggested Itineraries
      • Testimonials
    • Gallery
    • Videos
  • Publications
    • In Events
    • Books >
      • Um Caderno e Uma Moto (PT) >
        • Releases and Testimonials
    • Science >
      • Articles
      • Events Organized
      • Lectures/Workshops
  • Blog
  • Contact

Super Lua (14.11.2016)

16/11/2016

0 Comments

 
Sem palavras...

(em ordem cronológica)

OBS: A "Super Lua" foi dia 14, mas só consegui fotografá-la no dia 15.

Picture
Antes do pessoal conseguir "chegar até a lua"...
A Lua como protagonista da noite...
A Macaco conseguiu chegar antes da galera... bem antes...
A GALERA CHEGOUUU!!
Picture
​...
0 Comments

Tour Nordeste - Agosto/Setembro de 2016

15/9/2016

4 Comments

 
DIA 0
Icapuí – CE, 24 de agosto de 2016 (Quarta-feira)
(The Pusher – Steppenwolf)

Início de mais uma grande expedição pelo nordeste brasileiro, agora, com o gaúcho Paulo Fernando Bertagnolli. Paulo é agrônomo, trabalha na EMBRAPA e mora em Passo Fundo-RS. Membro do Wikiaves desde 2012, já viajou por diversas localidades do Brasil em busca de lifers. Agora foi a vez do Nordeste; com mais de 250 possíveis lifers durante o roteiro, vamos ver o que o Paulo conseguirá de novidade. Já está com uma excelente marca de 840 espécies já fotografadas.

Para quem fotografa esses seres alados, sabe do tempo e paciência que é exigido para atingir tal marca.

Boa sorte para mim, boa sorte para o Paulo...

DIA 1
Guaramiranga – CE, 25 de agosto de 2016 (Quinta-feira)
(Bicho do Mato – Som Nosso de Cada Dia)
Para iniciar a viagem, a maré não nos favoreceu muito. A seca máxima seria às 3h40min, ou seja, para pegarmos o restinho de maré seca, tivemos que acordar muito cedo. Acordamos bem cedo e saímos do hotel juntamente com os primeiros raios de sol. Chegamos na praia da Requenguela (praia de Icapuí) já com sol.

Primeiro dia é aquele negócio né? Nervosismo e ansiedade à mil. Quem é guia e se preocupa com os clientes, sabe muito bem do que estou falando.

Para me acalmar de vez, logo no início, tivemos um GRANDE SHOW das saracuras-do-mangue (Aramides mangle). Para mim, isso já é iniciar a viagem com pé direito. “Teremos uma ótima viagem!”, eu pensei. Ao total, apareceram mais de 4 indivíduos bem na beira do mangue, no limpo. Acho que haviam pelo menos 5, mas, ao mesmo tempo, só vi 4. O Paulo fez um baita registro com sua 600mm só para iniciar a viagem. Eu consegui um mero registro, mas já fiquei muito emocionado. Nunca havia tido a possibilidade de fotografá-las tão bem. Eram tantas que houve até foto com dois indivíduos no mesmo quadro. Que maravilha!
Picture
Continuamos passarinhando pelos arredores e conseguimos fotografar também o maçarico-de-bico-torto (Numenius hudsonicus). 

Haviam diversas espécies no local, mas como o Paulo está bem focado em fotografar “lifers”, não perdemos muito tempo com espécies que ele já possui fotografia. Mesmo assim, conseguiu boas fotos de outras espécies também, como a garça-azul (Egretta caerulea). Antes de voltar ao hotel para um delicioso café da manhã, conseguimos garantir uma foto do sabiá-da-praia (Mimus gilvus). No caminho para o hotel, já no asfalto, também fotografou um rapazinho-dos-velhos (Nystalus maculatus), que também era lifer.

Tomamos nosso café da manhã na calma e, durante o café da manhã, decidimos passar na Serra da Aratanha para tentar fotografar a Araponga-do-nordeste (Procnias averano). Originalmente este bicho nem estava na rota devido à dificuldade e grande desvio que teria na viagem. Mas como tinha ido dois dias antes com o amigo Leandro Ribeiro e vimos que elas já estavam cantando, vi que seria possível e então, qualquer possibilidade valeria a tentativa.

Depois do café da manhã, pegamos a estrada...

​No meio do caminho paramos em uma lagoa no município de Aracati, que estava repleto der aves. Todas comuns para a região, mas já foram mais 2 lifers: Balança-rabo-de-chapéu-preto (Polioptila plumbea) e casaca-de-couro (Pseudoseisura cristata). Um corrupião (Icterus jamacaii) passou voando, mas não deu para fotografar. 95% de chance de que o veremos novamente, 90% que o fotografaremos.
Picture
Continuamos por mais meia hora e paramos em outra praia (Parajuru) para tentar mais dois bichinhos que estavam na lista do Paulo: batuíra-bicuda (Charadrius wilsonia) e maçariquinho (Calidris minutilla). Havia ido nessa praia final de semana passado com meu amigo Felipe Braga (Bob) e registramos esses dois bichos, então já sabia que teria uma boa possibilidade de eles estarem por lá.

Quando chegamos no local onde havíamos registrado essas espécies, tomei um susto! Não tinha nada. Contive meus sentimentos e tive confiança e firmeza para continuar tentando achar. Andamos até o outro lado de uma salina desativada às margens do Rio Pirangi e, aos poucos, comecei a ver alguns movimentos na lama. Fomos chegando mais perto e vendo mais bichos. Resumindo, conseguimos as duas espécies! Beleza!

...ainda bem que o Paulo tem uma 600mm, porque os bichos estavam longe viu?

Picture
Seguimos viagem, pois já estava tarde e precisávamos chegar no topo da serra antes do sol baixar muito. Acabou que nem almoçamos nesse primeiro dia para não perder tempo e poder chegar logo.

Chegamos ao local relativamente cedo, por voltas das 16h.

Não gosto de ir à araponga com clientes porque fico EXTREMAMENTE nervoso. É algo muito incerto. Muito mesmo. E como o caminho é muito complicado (só tem acesso com carro 4x4), fica naquela situação de querer muito uma recompensa à altura da dificuldade do caminho. Toquei o som da Araponga e ela demorava muito para responder. Quando respondia era de muito longe! Para ser franco, estava totalmente sem esperança de que ela fosse aparecer. E o local em que eu já a vi pousada não serviria para o Paulo fotografar pois seria muito longe. Eu acho que daria, mas cada um tem seu padrão de qualidade. Depois de quase uma hora esperando e ela cantando bem longe, eu viro as costas e começo a caminhar em direção ao carro. Quando virei para o horizonte novamente, chega aquela coisa branca voando e pousa a menos de 15m de nós. 

- MEU DEUS DO CÉU!

- AI MEU DEUS!

- OLHA!

Eu gritava baixinho para o Paulo. Ele fotografou, eu fotografei.

​Eu fiquei muito emocionado! Extremamente feliz! Nunca havia avistado uma araponga tão de perto! Sensacional! Valeu cada minuto de tensão.
Picture
Chegamos em Guaramiranga e jantamos na Fernanda (Studio 70). Se forem por lá algum dia, digam que mandei um abraço. Pode falar que foi o Caio, filho do Serginho, neto do Major Hugo.

​Nos alojamos. Que amanhã seja um dia repleto de bons pássaros.

Lifers do dia para o Paulo:
- Araponga-do-nordeste (Procnias averano) – Maranguape-CE (1)
- Balança-rabo-de-chapéu-preto (Polioptila plumbea) – Aracati-CE (2)
- Batuíra-bicuda (Charadrius wilsonia) – Parajuru-CE (3)
- Bico-chato-amarelo (Tolmomyias flaviventris) – Maranguape-CE (4)
- Casaca-de-couro (Pseudoseisura cristata) – Aracati-CE (5)
- Chorozinho-de-chapéu-preto (Herpsilochmus atricapillus) – Maranguape-CE (6)
- Maçarico-de-bico-torto (Numenius hudsonicus) – Icapuí-CE (7)
- Maçariquinho (Calidris minutilla) – Parajuru-CE (8)
- Rapazinho-dos-velhos (Nystalus maculatus) – Icapuí-CE (9)
- Sabiá-da-praia (Mimus gilvus) – Icapuí-CE (10)
- Saracura-do-mangue (Aramides mangle) – Icapuí-CE (11)
DIA 2
Guaramiranga – CE, 26 de setembro de 2016 (Sexta-feira)
(E então – Academia da Berlinda)

Fui pegar o Paulo no hotel por volta das 5h30min e já iniciamos o dia com algumas boas aves no espaço do hotel (Alto da Serra), como o tico-tico-de-bico-preto, pica-pau-anão-da-caatinga, rabo-branco-rubro e poiaieiro-de-pata-fina. 

Passarinhamos no Hotel Remanso e voltamos para o Alto da Serra para tomarmos café da manhã antes de irmos para o Parque das Trilhas.

No Parque das Trilhas foi muito bom! Senti falta de alguns bichinhos (que acabamos pegando no outro dia), mas no geral foi ótimo. O Paulo conseguiu até foto da subespécie raríssima de Uru (ssp. plumbeicollis). Não ficou uma “fotaça”, mas para certos bichos, só de ter um registro já é grande coisa. Acabamos pegando também o garrinchão-pai-avô (Pheugopedius genibarbis), beija-flor-vermelho (Chrysolampis mosquitos) e a maria-do-nordeste (Hemitriccus mirandae), além de melhorar algumas fotografias de espécies já registradas.

Picture
Maria-do-nordeste (Hemitriccus mirandae)
Só fomos sair do Parque por volta das 13h e já fomos direto almoçar. Almoçamos lá no bigode. Se forem por lá, digam que o biólogo cabeludo, neto do Major Hugo, mandou um abraço... e um beijo naquele bigode dele.

Descansamos e saímos para passarinhar novamente às 15h. Conseguimos fotografar o assanhadinho-de-cauda-preta (Myiobius atricaudus), canário-do-mato (Myiothlypis flaveola), pica-pau-ocráceo (Celeus ochraceus) e a tão esperada tiriba-de-peito-cinza (Pyrrhura griseipectus), xodozinho da Serra de Baturité. Não pode sair daqui sem fotografar o famoso periquito-de-cara-suja (como a chamamos na região).

Gray-breasted Parakeet (Pyrrhura griseipectus)
Ochre-backed Woodpecker (Celeus ochraceus)
Variable Epaulet (Icterus pyrrhopterus)
Depois da passarinhada vespertina, passamos no Sítio do Seu Edson e esperamos anoitecer para fotografar a Murucututu... Sucesso total!

Jantar novamente na Fernanda.

Lembrando agora, quem deu muita bobeira pra foto hoje foi o "Joãozinho" lá do Alto da Serra:

Picture
Golden-crowned Warbler (Basileuterus culicivorus)
Lifers do dia:
- Assanhadinho-de-cauda-preta (Myiobius atricaudus) – Guaramiranga-CE (12)
- Beija-flor-vermelho (Chrysolampis mosquitus) – Guaramiranga-CE (13)
- Canário-do-mato (Myiothlypis flaveola) – Guaramiranga-CE (14)
- Casaca-de-couro-amarela (Furnarius leucopus) – Guaramiranga-CE (15)
- Garrinchão-pai-avô (Pheugopedius genibarbis) – Guaramiranga-CE (16)
- Maria-do-nordeste (Hemitriccus mirandae) – Guaramiranga-CE (17)
-  Murucututu (Pulsatrix perspicillata) – Guaramiranga-CE (18)
- Pica-pau-anão-da-caatinga (Picumnus limae) – Guaramiranga-CE (19)
- Pica-pau-ocráceo (Celeus ochraceus) – Guaramiranga-CE (20)
- Poiaieiro-de-pata-fina (Zimmerius gracilipes) – Guaramiranga-CE (21)
- Rabo-branco-rubro (Phaethornis ruber) – Guaramiranga-CE (22)
- Tico-tico-de-bico-preto (Arremon taciturnus) – Guaramiranga-CE (23)
- Tiriba-de-peito-cinza (Pyrrhura griseipectus) – Guaramiranga-CE (24)
- Uru (Odontophorus capueira plumbeicollis) – Guaramiranga-CE (25)

DIA 3
Quixadá – CE, 27 de agosto de 2016 (Sábado)
(Cosmos e Damião – Novos Baianos)

Alguns bichos deram trabalho ontem e acabamos não os achando. 

A natureza é assim mesmo: 

- “Se fosse fácil, não teria graça”, como diz nosso amigo André Grassi. 

- “A natureza não é nenhum Shopping Center”, como diz nosso amigo Ciro Albano.

Como ainda tínhamos um tempinho hoje, antes de viajar, decidimos dedicar uma manhã para tentar achar os bichos que só poderíamos pegar aqui, como o arapaçu-rajado-do-nordeste (Xiphorhynchus atlanticus) e garantir outros para ganhar tempo e lifers.

Como sempre, o Parque das Trilhas superando expectativas e salvando nos últimos minutos do segundo tempo. Conseguimos o que precisávamos e um pouco mais: arapaçu-beija-flor (Campylorhamphus trochilirostris), arapaçu-rajado-do-nordeste (Xiphorhynchus atlanticus), cardeal-do-nordeste (Paroaria dominicana), jacucaca (Penelope jacucaca) e saí-canário (Thlypopsis sordida). Para os amigos que vão muito em Guaramiranga ou que andam bastante pelo Nordeste sabem que a Jacucaca não dá mole, então registrar esse bicho, ainda mais com uma BELÍSSIMA foto, é um baita prêmio do acaso! Cris? Já fotografou a Jacucaca? Já foi quantas vezes à serra? Não é mole não ein!? Já vi algumas vezes, mas até hoje não tenho uma boa foto. Parabéns Paulo! Ficou muito boa.

Depois de uma breve caminhada matinal pelo Parque, voltamos para o hotel, tomamos café da manhã, arrumamos nossas malas e pegamos a estrada rumo Quixadá.

Picture
Paramos duas vezes no caminho para tentar fotografar o taperuçu-de-coleira-falha (Streptoprocne biscutata), até conseguir em Caio Prado-CE (se não me engano faz parte do município de Itapiúna).
Biscutate swift (Streptoprocne biscutata)
Biscutate swift (Streptoprocne biscutata)
Biscutate swift (Streptoprocne biscutata)
Almoçamos em Quixadá, no Hotel Pedra dos Ventos (onde passamos a noite) e fomos descansar.

Como é que descansa?

Quando chego no meu quarto o Paulo me diz que tem um bando de periquitos-da-caatinga (Eupsitulla cactorum) e um gaviãozinho (Gampsonyx swainsonii) ao lado da varanda do nosso quarto. Bastou colocar o tripé e clicar até dar uma dor! Até que saiu umas fotos legais:

Pearl Kite (Gampsonyx swainsoni)
Cactus Parakeet (Eupsittula cactorum)
A passarinhada vespertina foi muito fraca, mas, mesmo assim, conseguimos garantir duas espécies, o bacurauzinho-da-caatinga (Hydropsalis hirundinacea) e garrinchão-de-bico-grande (Cantorchilus longirostris). Ainda vimos as Jacucacas novamente. Duas vezes em um dia!? Esse Paulo está com sorte mesmo. Deve estar pensando que essa “galinha” é comum por aqui. Que nem o grupo de americanos que vieram em dezembro de 2015; falamos repetidamente que seria MUITO difícil ver as Jacucacas e acabamos vendo elas umas 3-4 vezes em bandos de pelo menos 3 indivíduos. Que pena que não é sempre assim. Seria bom sempre poder mostrar essa maravilha de “galinha” para os que visitam nossa região. 
Jantamos e fomos descansar

Conheci um casal bem legal no jantar. Até hoje falo com a moça (Ilka), que me manda fotos de aves todos os dias. E pense numas fotos extraordinárias. Valeu Ilka! Prazer imenso conhecer vocês.

Um dos melhores sonos da viagem é aqui. Que pena que dura tão pouco.

​Olha um bichinho que deu uma boa aparecida hoje:

Picture
Lifers do dia:
- Arapaçu-beija-flor (Campylorhamphus trochilirostris) – Guaramiranga-CE (26)
- Arapaçu-rajado-do-nordeste (Xiphorhynchus atlanticus) – Guaramiranga-CE (27)
- Bacurauzinho-da-caatinga (Hydropsalis hirundinacea) – Quixadá-CE (28)
- Cardeal-do-nordeste (Paroaria dominicana) – Guaramiranga-CE (29)
- Garrinchão-de-bico-grande (Cantorchilus longirostris) – Quixadá-CE (30)
- Gralha-cancã (Cyanocorax cyanopogon) – Quixadá-CE (31)
- Jacucaca (Penelope jacucaca) – Guaramiranga-CE (32)
- Saí-canário (Thlypopsis sordida) – Guaramiranga-CE (33)
- Taperuçu-de-coleira-falha (Streptoprocne biscutata) – Caio Prado-CE (34)
DIA 4
Potengi – CE, 28 de agosto de 2016 (Domingo)
(Não Quero Entrar – Adoniran Barbosa)

Saímos para passarinhar antes mesmo do sol nascer.  Em regiões de mata seca, prefiro fazer desta maneira pois o sol esquenta muito logo nas primeiras horas do dia.

Quando chegamos ao local, esperamos uns 6 minutos antes de iniciar a passarinhada. Confesso que estava difícil. Tudo MUITO SECO, os bichos respondendo pouquíssimo. Como diz o ditado, tiramos leite de pedra para conseguir fotografar os bichos que fotografamos em Quixadá. Nunca havia passarinhando em Quixadá para estar tão fraco assim. Mesmo fraco, conseguimos o que eu havia imaginado para esta localidade. Um pouco menos, claro, mas as espécies que faltaram podem ser vistas em diversas outras localidades durante a viagem.
Ferruginous Pygmy-Owl (Glaucidium brasilianum)
Eared Dove (Zenaida auriculata)
Caatinga Barred Antshrike (Thamnophilus capistratus)
Saímos do hotel bem na calma, umas 10h, depois de tomar um bom café da manhã.

Nunca tinha parado tanto em lagoas e pequenas poças de água durante uma viagem de Quixadá para Potengi. Mas é porque o Paulo estava destinado a achar os bichinhos de água que ele queria. Resumindo, a única que vale dar uma parada é uma lagoa depois da ponte de Quixelô. Pelo menos no período seco sim. Essa foi a conclusão que chegamos.

Mas é engraçado como as coisas acontecem por acaso, e depende muito da interação entre os envolvidos. Cinco minutos antes, já havíamos parado em uma lagoa bem grande em Quixelô e passamos por volta de meia hora procurando os alvos que ele queria (pato-de-crista, marreca-de-bico-roxo e paturi-preta), sem sucesso. Quando estávamos passando por essa lagoa em que paramos, acho que se eu estivesse só, não pararia, mas quando vi o Paulo esticando o pescoço para olhar, parei o carro e desci para fazer uma varredura.

Passei nada mais que 5 minutos e conclui que não havia nada de importante. Entrei no carro e comecei a seguir viagem, quando vejo um pato escuro, maior que os outros. Parei o carro novamente (100m depois) e coloquei o binoculo no bicho: era uma paturi-preta! 

- Paulo! Paulo! Paturi-preta! Paturi-preta!

Depois que o Paulo começou a fotografar a Paturi-preta...

- Caio! Caio! Marreca-de-bico-roxo! Marreca-de-bico-roxo!

Que maravilha! Dois pombos numa pedrada só, ou melhor, dois patos numa lagoa só.

Com certeza uma lagoa que vale a parada. Se tiver uma luneta então, melhor ainda.

Como minhas fotos ficaram PÉSSIMAS, vou colocar aqui o link para as fotos do Paulo:
- Paturi
- Marreca

Paramos para almoçar por volta das 14h em Iguatu.

Chegamos em Potengi no finalzinho da tarde e fomos direto no Sítio Pau Preto para tentar fotografar o bacurauzinho nos últimos raios de sol. Lá, encontramos com o Jefferson Bob e o Ian Thompson, rapaz que o Bob está guiando aqui na região.

Fizemos algumas fotos mais ou menos e fomos para o hotel para deixar nossas coisas e tomar banho.

Jantamos na casa da mãe do Bob, como sempre faço quando passo pela região. Comida maravilhosa, feita com muito amor e cuidado. Valeu dona Ivete!
Lifers do dia:
- Acauã (Herpetotheres cachinnans) – Assaré-CE (35)
- Asa-de-telha-pálido (Agelaioides fringillarius) – Quixadá-CE (36)
- Bacurauzinho (Chordeiles pusillus) – Potengi-CE (37)
- Choca-barrada-do-nordeste (Thamnophilus capistratus) – Quixadá-CE (38)
- Corrupião (Icterus jamacaii) – Assaré-CE (39)
- Formigueiro-de-barriga-preta (Formicivora melanogaster) – Quixadá-CE (40)
- Golinho (Sporophila albogularis) – Quixadá-CE (41)
- Maria-cavaleira-de-rabo-enferrujado (Myiarchus tyrannulus) – Quixadá-CE (42)
- Marreca-de-bico-roxo (Nomonyx dominica) – Quixelo-CE (43)
- Paturi-preta (Netta erythrophthalma) – Quixelo-CE (44)
- Rolinha-de-asa-canela (Columbina minuta) – Quixadá-CE (45)
- Tico-tico-rei-cinza (Lanio pileatus) – Quixadá-CE (46)
DIA 5
Potengi – CE, 29 de agosto de 2016 (Segunda-feira)
(Whole Lotta Love – Led Zeppelin)

Hoje o dia começou mais tarde para nós. Bom que pudemos tirar um pouquinho o sono atrasado. Além de acordar cedo e passarinhar o dia inteiro, gosto de manter minhas escritas atualizadas, apagar as fotos ruins (quase todas) que fiz durante o dia, passar fotos para o computador e organizá-las etc. Tudo isso acaba fazendo com que eu durma mais tarde. 

Começou mais tarde pois fomos tomar café da manhã às 6h na casa do Jefferson Bob. Ao meu ver é um pouco tarde pois estou acostumado a sair para passarinhar ainda um pouco escuro. 

Uma coisa é certa: confio 100% no Bob. Ele sabe o que está fazendo; foi nascido e criado aqui e conhece os bichos como ninguém. Se ele está falando é porque é assim! Nunca falhou! “Para que ir no escuro se o que as pessoas querem é fotografar”, ele me fala. Acho que estou mais acostumado com apenas observadores de aves e não somente fotógrafos de aves. 

Aqui eu faço do jeito dele, mas nos outros locais vou continuar indo antes do sol nascer. Para quem não gosta de acordar cedo, em 70% da viagem, o bicho pega.

Hoje passamos o dia inteiro passarinhando por Potengi mesmo. O Bob não pôde ir conosco pois estava guiando outro casal, que foram embora hoje. Amanhã ele estará conosco para dar um apoio especial.

​Está MUITO seco, mas ainda assim, deu para fotografar as espécies-alvo que estávamos precisando.

White-browed Antpitta (Hylopezus ochroleucos)
Spotted Nothura (Nothura maculosa)
Sick's Swift (Chaetura meridionalis)
Red-shouldered Spinetail (Synallaxis hellmayri)
Broad-tipped Hermit (Anopetia gounellei)
Least Nighthawk (Chordeiles pusillus)
Café da manhã, almoço e jantar na casa da Dona Ivete (mãe do Bob). Que maravilha! Estou no céu.

Lifers do dia:
- Alegrinho-balança-rabo (Stigmatura budytoides) – Potengi-CE (47)
- Bico-virado-da-caatinga (Megaxenops parnaguae) – Potengi-CE (48)
- Choca-do-nordeste (Sakesphorus cristatus) – Potengi-CE (49)
- João-chique-chique (Synallaxis hellmayri) – Potengi-CE (50)
- Papa-moscas-do-sertão (Stigmatura napensis) – Potengi-CE (51)
- Piu-piu (Myrmorchilus strigilatus) – Potengi-CE (52)
- Uí-pí (Synallaxis albescens) – Potengi-CE (53)
DIA 6
Crato – CE, 30 de agosto de 2016 (Terça-feira)
(Pequeno Perfil de Um Cidadão Comum – Belchior)
Como sempre, o Brejinho não decepciona. Mesmo com tudo seco do jeito que está, a passarinhada foi mais que agradável, com direito a 100% dos alvos garantidos. O único que faltou, mas que posso ver em outras localidades da viagem, foi o tiê-caburé (Compsothraupis loricata). É tanto que vimos um bando de 8 indivíduos na ponte de pedra em Nova Olinda. Infelizmente não conseguimos fotografar, mas ele está por aí. Acredito muito que o veremos em outras localidades da viagem. Estou apostando que o veremos em Boa Nova.

Passarinhamos até umas 10 e pouco e fomos almoçar. No caminho, ainda paramos para fotografar uns andorinhões-do-temporal (Chaetura meridionalis). Não era lifer para ninguém, mas acho que deu para todos nós fazermos boas fotos.

Depois do almoço, fomos para o hotel.

Às 15h30min saímos para passar na ponte de pedra e tentar mais uns bichinhos. Um bichinho bem interessante que vimos foi o bico-virado-carijó (Xenops rutilans). Pode-se dizer que é bem incomum no Ceará.
Picture
Chegamos aqui no hotel às 18h30min, tomamos banho e saímos para comer na rua às 19h.

Como sempre, uma viagem dessas sempre tem “ótimas” surpresas: quando chegamos para comer na praça central, onde tem uns restaurantes legais, estava tendo uma REVOLUÇÃO CATÓLICA! Acho que o nome é novena. Desculpe se ofender alguém, mas acho aquilo muito mal-educado. Não saio por aí com caixas amplificadoras chamando as pessoas para gostarem de pássaros. Acho que essas coisas podem ser feitas de uma maneira mais respeitosa. Enquanto comíamos nossa pizza e fazíamos nossa lista de espécies do dia, mal podíamos conversar. Puta sacanagem! Enfim, não entrarei em mais detalhes.

Voltamos e aqui estou, respondendo e-mails de roteiros a serem fechados, editando algumas fotografias etc.

Dormir aqui, que amanhã o dia é longo.

Lifers do dia:
- Chorozinho-da-caatinga (Herpsilochmus sellowi) – Araripe-CE (54)
- Estrelinha-preta (Synallaxis scutata) – Araripe-CE (55)
- Fruxu-do-cerradão (Neopelma pallescens) – Nova Olinda-CE (56)
- Pica-pau-anão-dourado (Picumnus pygmaeus) – Araripe-CE (57)
- Pica-pau-dourado-escuro (Piculus chrysochloros) – Araripe-CE (58)
- Rabo-branco-de-cauda-larga (Anopetia gounellei) – Araripe-CE (59)
- Torom-do-nordeste (Hylopezus ochroleucus) – Araripe-CE (60)
- Vira-folha-cearense (Sclerurus cearensis) – Araripe-CE (61)
- Vite-vite-de-olho-cinza (Hylophilus amaurocephalus) – Araripe-CE (62)

DIA 7
Canudos – BA, 31 de agosto de 2016 (Quarta-feira)
(Roadhouse Blues – The Doors)
Quando levantei da cama e sai do quarto, o Paulo já estava no bosque do hotel fotografando andorinhões-do-buriti (Tachornis squamata) que estavam sobrevoando. Me juntei a ele e fiz algumas fotografias também. Deu para melhorar um pouco o registro.

Depois de ficarmos tontos de tanto tentar fotografar os andorinhões, fomos para uma trilha que tem no próprio hotel. Assim que saímos do portão, ficamos observando o céu para tentar avistar algum dos rapinantes que o Paulo está precisando fotografar durante a viagem. Não tivemos nenhum dos que ele estava precisando, mas, na minha opinião, tivemos algo melhor: gavião-preto (Urubitinga urubitinga). Para o Paulo, nem tanto, mas para o Ceará, muito bom! Haviam apenas dois locais de registro com fotografia até hoje (no Ceará). Agora 3.

Entramos na trilha com o pica-pau-anão-acanelado (Picumnus fulvescens) como principal objetivo, mas não obtivemos êxito. Em compensação, o Paulo conseguiu ótimas fotos do tico-tico-rei-cinza (Lanio pileatus) e eu consegui fotografar o tico-tico-de-bico-preto (Arremon taciturnus).

Pectoral Sparrow (Arremon taciturnus)
Fork-tailed Palm-swift (Tachornis squamata)
Tomamos café da manhã, arrumamos nossas malas e partimos em direção à Canudos, com parada estratégica no soldadinho-do-araripe (Antilophia bokermanni). No Arajara Park, conseguimos inclusive mais dois lifers além do soldadinho: pica-pau-anão-canela (Picumnus fulvescens) e rabo-branco-acanelado (Phaethornis pretrei).
Picture
Seguimos viagem e paramos em Salgueiro-PE para almoçar.

Na estrada entre Salgueiro e Cabrobró ainda vimos um gavião-asa-de-telha (Parabuteo unicinctus). Sempre muito bom vê-lo pelo aqui Nordeste. 

Depois de dobrar à esquerda, saindo da BR-116 em direção a Canudos, tivemos um prêmio extra para o nosso dia. Na estrada mesmo, fizemos uma bela fotografia do bico-de-pimenta (Saltatricula atricollis).

Picture
Decidimos não sair para jantar hoje à noite então só passamos na rua para comprar algumas besteiras no mercadinho e depois fomos ao alojamento da Reserva Biológica de Canudos.

Revisamos as espécies que havíamos registrados hoje e as localidades em que foram fotografadas, eu jantei uvas e macarrão instantâneo cru e fui dormir às 20h. Essa é uma das vantagens de não ter energia e internet no alojamento: é mais saudável. Se tivesse energia e internet, com certeza eu só iria dormir depois das dez. 

Lifers do dia:
- Pica-pau-anão-canela (Picumnus fulvescens) – Barbalha-CE (63)
- Rabo-branco-acanelado (Phaethornis pretrei) – Barbalha-CE (64)
- Soldadinho-do-araripe (Antilophia bokermanni) – Barbalha-CE (65)
- Bico-de-pimenta (Saltatricula atricollis) – Canudos-BA (66)

DIA 8
Lençóis – BA, 1 de setembro de 2016 (Quinta-feira)
(Child in Time – Deep Purple)

Acordamos às 4h20min e saímos do alojamento às 4 e meia. Passamos na casa do Cabôco, no caminho e chegamos ao buraco às 5h10, pouquíssimos minutos antes dos primeiros gritos das araras.

Esse é um dos momentos mais fantásticos da viagem: escutar as primeiras “gritarias” e, alguns minutos depois, ver os primeiros pontinhos pretos sobrevoando, sempre aos pares (quase sempre).

Para fotógrafos, é sempre um pouco mais tenso porque ficam ansiosos de conseguir logo uma foto (ou melhor, uma boa foto). Sempre digo a mesma coisa: 

– Relaxa que é IMPOSSÍVEL você sair daqui sem uma excelente foto! Tenha paciência, curta o momento.

Mas sempre parece que eu estou falando grego, ou qualquer outra língua que não é compreendida de maneira alguma. Essa ansiedade e tensão acaba passando um pouco para mim, mas no final dá tudo certo... mais que certo.

​Como havia sido esperado: o Paulo conseguiu EXCELENTES fotografias das araras. As fotos estão demais Paulo. Parabéns!

Além das araras, o cauré (Falco rufigularis) também deu um belo show, chegando a menos de 3 metros de nós, o que possibilitou fotos beirando a perfeição.

Picture
Picture
Saímos do buraco às 8 e fomos tomar um dos melhores cafés da manhã da viagem no alojamento. Iniciamos nossa viagem para a Chapada Diamantina às 10h e ainda paramos para fotografar o joão-chique-chique (Synallaxis hellmayri), um dos bichos que eu mais não gosto quando estou guiando. Com certeza está entre os Top 5 que não gosto de mostrar, principalmente para fotógrafos. É um bicho muito arisco e que dificilmente sai do emaranhado dos galhos secos da mata seca esturricada da caatinga nordestina. Um milésimo de segundo para focar faz a diferença no momento da foto. Nos últimos minutos do segundo tempo, conseguimos fotografar esta espécie, antes de seguir caminho para a chapada diamantina, onde mais lifers nos esperam. Que venham mais espécies... que venham mais raridades desse nosso Nordeste.

Na estrada ainda cruzamos por uma codorna-do-nordeste (Nothura boraquira), mas não saímos do carro a tempo para conseguir fotografá-la.

Fotografamos alguns bichinhos em uma lagoa no caminho situada em Itaberaba.

Chegamos na Chapada por volta das sete, bati um rápido papo com a Lia e com o Zé Carlos (donos da pousada em que ficaremos) tomando uma cerveja (fazia tempo que não bebia) e saímos para jantar.

Lifers do dia:
- Arara-azul-de-lear (Anodorhynchus leari) – Canudos-BA (67)
- Aratinga-de-testa-azul (Thectocercus acuticaudatus) – Canudos-BA (68)
- João-chique-chique (Synallaxis hellmayri) – Canudos-BA (69)

Picture
DIA 9
Lençóis – BA, 2 de setembro de 2016 (Sexta-feira)
(Brasileiramente Linda – Belchior)

Não acordamos tão cedo quanto estou acostumado aqui na Chapada pois o foco são as fotografias. Tomamos café da manhã apenas às 5 para sair às 5 e meia.

Primeira espécie do dia: tico-tico-do-são-francisco (Arremon franciscanus). Mais um que com certeza está entre o Top 5. Um bicho bem arisco e que muitas vezes não dá bobeira.

Depois que conseguimos fotografar o tico-tico-do-são-francisco e um azulão macho pousou bem em minha frente para que eu pudesse tirar uma boa fotografia, partimos para uma área de cerrado arbustivo mais à frente. Nessa localidade conseguimos muitos bichos e passamos a manhã inteira lá. Foi sensacional! Chapada Diamantina nunca decepcionando...

Picture
O clima estava um pouco complicado, mas ao mesmo tempo estava muito bom para fotografia. Passou a manhã inteira nublada e vez por outra dava uma boa chuviscada. Assim, foi ainda mais fácil conseguir ficar passarinhando confortavelmente até 11h.

Depois do tico-tico, conseguimos a aracuã-de-barriga-branca (Ortalis araucuan) e o tiê-caburé (Compsothraupis loricata) no caminho para a área aberta e lá conseguimos fotografar a bandoleta (Cypsnagra hirundinacea), beija-flor-de-orelha-violeta (Colibri serrirostris), bico-de-veludo (Schistochlamys ruficapillus), campainha-azul (Porphyrospiza caerulescens), choca-de-asa-vermelha (Thamnophilus torquatus), cigarra-do-campo (Neothraupis fasciata), Guaracava-de-topete-uniforme (Elaenia cristata), maria-corruíra (Euscarthmus rufomarginatus), papa-formiga-vermelho (Formicivora rufa). Está bom né? Para mim, não poderia ter sido melhor. Uma manhã muito bem aproveitada. Acho que o clima realmente ajudou.

Chegamos em Lençóis por volta de meio dia e meio e fomos direto ao “Bode” almoçar. Almoço infalível meus amigos! Quem vier aqui, pode ir lá que não tem erro. Gosto e qualidade garantido sempre.

Descansamos até 14h30 e fomos para o Morro do Pai Inácio, atrás do “dito cujo”, da “estrela da Chapada”, do “gravatinha”, seja lá o que você quiser chamar. 

E para nossa felicidade (acho que principalmente a minha), o beija-flor-de-gravata-vermelha (Augastes lumachella) não só apareceu, mas deu show!

Picture
Picture
Lá no morro também conseguimos mais dois lifers além do Augastes, o canário-rasteiro (Sicalis citrina) e o rabo-mole-da-serra (Embernagra longicauda).

Devido ao cansaço, nem saímos para jantar. Fui na rua e trouxe dois sanduíches para comermos aqui mesmo na pousada.

Quase não consegui tomar banho de tão cansado que estava, mas hoje não foi o dia de vender o banho. Tomei meu banho e capotei em cima da cama sem precisar contar até 10 para adormecer e cair num sono profundo.

Lifers do dia:
- Aracuã-de-barriga-branca (Ortalis araucuan) – Palmeiras-BA (70)
- Bandoleta (Cypsnagra hirundinacea) – Palmeiras-BA (71)
- Beija-flor-de-gravata-vermelha (Augastes lumachella) – Palmeiras-BA (72)
- Beija-flor-de-orelha-violeta (Colibri serrirostris) – Palmeiras-BA (73)
- Bico-de-veludo (Schistochlamys ruficapillus) – Palmeiras-BA (74)
- Campainha-azul (Porphyrospiza caerulescens) – Palmeiras-BA (75)
- Canário-rasteiro (Sicalis citrina) – Palmeiras-BA (76)
- Choca-de-asa-vermelha (Thamnophilus torquatus) – Palmeiras-BA (77)
- Cigarra-do-campo (Neothraupis fasciata) – Palmeiras-BA (78)
- Guaracava-de-topete-uniforme (Elaenia cristata) – Palmeiras-BA (79)
- Maria-corruíra (Euscarthmus rufomarginatus) – Palmeiras-BA (80)
- Papa-formiga-vermelho (Formicivora rufa) – Palmeiras-BA (81)
- Rabo-mole-da-serra (Embernagra longicauda) – Palmeiras-BA (82)
- Tico-tico-do-são-francisco (Arremon franciscanus) – Palmeiras-BA (83)
- Tiê-caburé (Compsothraupis loricata) – Palmeiras-BA (84)

DIA 10
Lençóis – BA, 3 de setembro de 2016 (Sábado)
(The Unforgiven – Metallica)

Hoje tomamos café da manhã ainda mais tarde (5 e meia), mas mesmo assim, não adiantou nada! Passou a manhã chovendo. Quando eu digo “passou a manhã chovendo”, é no sentido literal mesmo: passou a manhã chovendo. Ainda fui na fé até o ponto de passarinhada com a esperança de que a chuva parasse pouco tempo depois, mas não foi isso que aconteceu. 

Voltamos para a pousada e ficamos trabalhando no computador. O Paulo revezava entre computador e fotografar os bichos no comedouro daqui da casa da geleia. Conseguiu belíssimas imagens.

Íamos almoçar no Bode novamente, mas fomos convidados pela Lia para almoçar com eles uma moela no molho do Suriname. Ficou bom ein Lia?

Logo depois do almoço, por volta das 13h30, o céu abriu e aproveitamos a oportunidade para passarinhar. Para não pegar um sol muito quente no campo rupestre, antes passamos em uma mata úmida aqui perto da cidade mesmo. Não vimos nenhum lifer para o Paulo, mas ele conseguiu boas fotografias do tangará-falso (Chiroxiphia pareola) e do surucuá-variado (Trogon surrucura aurantius), que é uma subespécie diferente.

Por volta das 3 saímos em direção ao campo rupestre, atrás de uma das últimas raridades da Chapada Diamantina, o papa-formiga-do-sincorá (Formicivora grantsaui).

Conseguimos ele e um pouco mais. 

Quando chegamos no hotel, o Paulo ficou em seu quarto organizando algumas fotos e eu fiquei tomando uma cerveja e conversando com a Lia sobre coisas da vida. Um ótimo e importante diálogo. 

Conversa vai, conversa vem, fomos convidados também para o jantar, que não poderia ter sido melhor. Ela fez uma farofa deliciosa com pedaços de carnes fritas. Comemos isso com bananas. Ficou muito bom!

Valeu por toda sua bondade de hoje e sempre Lia. Com certeza o local em que me sinto melhor durante toda a viagem.

Lifers do dia:
- Gavião-bombachinha-grande (Accipiter bicolor) – Lençóis-BA (85)
-  Papa-formiga-do-sincorá (Formicivora grantsaui) – Lençóis-BA (86)
- Patativa (Sporophila plumbea) – Lençóis-BA (87)
- Saíra-douradinha (Tangara cyanoventris) – Lençóis-BA (88)
- Tapaculo-de-colarinho (Melanopareia torquata) – Lençóis-BA (89)

DIA 11
Poções – BA, 4 de setembro de 2016 (Domingo)
(No Morro da Casa Verde – Adoniran Barbosa)

Hoje foi dia de deslocamento. Sem muita pressa e agonia, ficamos na Casa da Geleia de manhã, até o café da manhã sair, por volta das 7 e meia. Um dos melhores cafés da manhã da minha vida. Não me arrependo nada de ter investido esse tempo para o café da manhã.

Saímos do hotel às 8 e meia e fomos até a estrada de terra que liga Palmeiras à Mucugê, passando por Guiné, onde fizemos nossa primeira parada para tentar fotografar o formigueiro-do-nordeste. Sem sucesso.

Seguimos caminho fazendo algumas paradas para tentar algumas espécies que ainda não havíamos conseguido achar. Só nessa brincadeira, conseguimos o chifre-de-ouro (Heliactin bilophus), tapaculo-da-chapada-diamantina (Scytalopus diamantinensis) e o papa-capim-de-costas-cinzas (Sporophila ardesiaca).

Picture
Pegamos estrada de terra no início da viagem e nos últimos 120Km. Seria tranquilo demais, se meu carro não estivesse com um problema de vedação. As estradas estavam ótimas, mas entrou muita poeira. Nossas malas ficaram cobertas de poeira e tivemos que ir o caminho de terra com vidros abertos para não ficarmos sufocados. Tenho que ver isso o quanto antes. Acho que vou deixar para ver isso só em Espírito Santo, talvez lá as pessoas sejam mais honestas.

Chegamos em Poções já à noite e saímos para comer uma pizza.

Deixamos tudo combinado com o Mateus para amanhã.

Lifers do dia:
- Chifre-de-ouro (Heliactin bilophus) – Palmeiras-BA (90)
- Gavião-de-rabo-barrado (Buteo albonotatus) – Ibicoara-BA (91)
- Papa-capim-de-costas-cinzas (Sporophila ardesiaca) – Palmeiras-BA (92)
- Tapaculo-da-chapada-diamantina (Scytalopus diamantinensis) – Ibicoara-BA (93)

DIA 12
Poções – BA, 5 de setembro de 2016 (Segunda-feira)
(Balada da Calma – Lula Cortês)

Hoje foi o dia de tortura com o Mateus Gonçalves. Pense num pique que o menino tem. Não vou falar pelo Paulo, mas me botou para sofrer. Não tenho biótipo de gordo, mas a mentalidade com certeza. Não costumo fazer longas caminhadas. Até aguento sabe? Mas não tenho esse costume. Tudo na vida é costume/condicionamento.

Saímos por volta das 6 para pegar o Mateus em casa e fomos para a “Serra do Arrepio”. Quase morro da subida. Brincadeiras à parte, foi uma passarinhada muito proveitosa, com direito a lifers para mim e tudo. O grande lifer foi o fruxu-baiano (Neopelma aurifrons). Não consegui fotografar, mas valeu a pena a visualização com o binóculo. Muito bom! E melhor ainda: o Paulo conseguiu uma grande foto.

Passamos a manhã por lá. O tempo não estava nada bom, com alguns momentos de chuva. Inclusive, em um momento, tivemos que tirar minha capa de chuva para passar 10min esperando a chuva passar. Foi difícil, mas deu tudo certo, conseguimos ótimos e difíceis lifers. Alguns escaparam por pouquíssimo, como o piolhinho-serrano (Phyllomyias griseocapilla) e o inhambu-chororó (Crypturellus parvirostris). O piolhinho passou uns 15 minutos cantando no topo de uma árvore do outro lado do vale enquanto o Paulo estava fotografando o gravatazeiro (Rhopornis ardesiacus) e nada de se aproximar. E o inhambu saiu no limpo, de frente para nós, mas não passou mais que um segundo e já disparou num voo explosivo para dentro dos arbustos.

Em compensação, pegamos outros bichos bem chatinhos, como o formigueiro-assobiador (Myrmoderus loricatus). Paulão que o diga. Chatinho até demais. Chegamos a desistir dele duas vezes antes de, finalmente, conseguir a foto. Não ficou essas coisas todas, mas está lá o registro.

Quando chegamos no pé da serra do arrepio novamente, já havia passado da hora do almoço. Decidimos pular o almoço para ir direto em outra área. Chegamos bem cedo e com o sol ainda quente, por voltas das 13h. Começamos a passarinhado tentando ir ao máximo pela sombra e já garantindo algumas espécies, como o tachuri-campainha (Hemitriccus nidipendulus), nossa primeira espécie fotografada no período da tarde. Uma das aves mais fofinhas que existe, juntamente com os “Todirostrum” (Teque-teque, ferreirinho-relógio etc.). 

Nesse período da tarde é que o Mateus finalizou a tortura. Sem brincadeiras, hoje andamos mais de 8Km, entre subidas e descidas muito íngremes. Foi difícil, mas valeu o esforço.

Voltamos para a cidade no finalzinho da tarde, já no escuro.

Deixamos o Mateus em casa, onde conheci rapidamente os seus pais e fomos para o hotel, depois de passar por um posto de gasolina e abastecer o carro.

Jantamos pela pousada mesmo, enquanto listamos as espécies fotografadas hoje.

Amanhã, em Boa Nova, vou dar uma boa incrementada nas espécies que faltaram hoje. Mas hoje foi muito bom porque pegamos muitas espécies difíceis, incertas e chatas de fotografar.

Pedi um filé à parmegiana, que estava uma delícia. Disso não podemos reclamar do hotel. Dos quartos sim, mas da comida...

Lifers do dia:
- Anambezinho (Iodopleura pipra) – Poções-BA (94)
- Formigueiro-assobiador (Myrmoderus loricatus) – Poções-BA (95)
- Gravatazeiro (Rhopornis ardesiacus) – Poções-BA (96)
- Jandaia-de-testa-vermelha (Aratinga auricapillus) – Poções-BA (97)
- João-baiano (Synallaxis whitneyi) – Poções-BA (98)
- Maracanã-verdadeira (Primolius maracana) – Poções-BA (99)
- Tachuri-campainha (Hemitriccus nidipendulus) – Poções-BA (100)
- Formigueiro-do-nordeste (Formicivora iheringi) – Poções-BA (101)
- Fruxu-baiano (Neopelma aurifrons) – Poções-BA (102)
- Viuvinha (Colonia colonus) – Poções-BA (103)

DIA 13
Poções – BA, 6 de setembro de 2016 (Terça-feira)
(Stuck on the Puzzle – Alex Turner)

Hoje foi “Full Day Birding” em Boa Nova.

Saímos cedo de Poções e fomos direto para a Mata do Charme, em Boa Nova. Passamos a manhã passarinhando antes de ir almoçar no restaurante da Pousada dos Pássaros (pousada do Junior e da Carol). Só pela manhã, conseguimos fotografar 12 lifers. Maravilha!

Almoçamos e bateu logo aquela preguiça sobrenatural. Ainda era cedo (13h) e não queríamos voltar logo para passarinhar, tanto pelo sol, mas também porque estávamos cansados. 

Foi aí que o Junior entrou com uma GRANDE ATITUDE, que ficará para sempre em minha memória; ele disponibilizou um quarto, durante duas horas, para que pudéssemos descansar até a nossa passarinhada vespertina. Grande Junior e Carol, meu muitíssimo obrigado! Vocês quebraram um galho grande.

À tarde fomos ao “Lajeado dos Beija-flores”. O local, mesmo se não tivesse beija-flor, valeria a visita. É um visual fantástico. O final de tarde então... infelizmente o beija-flor-vermelho não estava por lá ainda, mas em compensação, conseguimos mais um lifer para o currículo: bico-reto-de-banda-branca (Heliomaster squamosus).

Bem antes do sol se pôr, voltamos para a Mata do Charme para tentar fotografar o narcejão (Gallinago undulata). Chegamos a 1m dele, mas nada dele sair de dentro das moitas. Passamos mais de uma hora tentando, mas, dessa vez, não obtivemos êxito.

Chegamos em Poções quase 21h. Jantamos, contabilizamos as espécies e fomos para nosso quarto.

Chlorostilbon lucidus
Chlorostilbon lucidus
Heliomaster squamosus
Lepidocolaptes squamatus
Attila rufus
Claravis pretiosa
Contopus cinereus
Drymophila ferruginea
Lifers do dia:
- Arapaçu-escamado (Lepidocolaptes squamatus) – Boa Nova-BA (104)
- Arredio-pálido (Cranioleuca pallida) – Boa Nova-BA (105)
- Bico-reto-de-banda-branca (Heliomaster squamosus) – Boa Nova-BA (106)
- Caburé-miudinho (Glaucidium minutissimum) – Boa Nova-BA (107)
- Capitão-de-saíra (Attila rufus) – Boa Nova-BA (108)
- Chororó-cinzento (Cercomacra brasiliana) – Boa Nova-BA (109)
- Olho-falso (Hemitriccus diops) – Boa Nova-BA (110)
- Pararu-azul (Claravis pretiosa) – Boa Nova-BA (111)
- Pica-pau-bufador (Piculus flavigula) – Boa Nova-BA (112)
- Rabo-amarelo (Thripophaga macroura) – Boa Nova-BA (113)
- Tiê-sangue (Ramphocelus bresilius) – Boa Nova-BA (114)
- Trepador-coleira (Anabazenops fuscus) – Boa Nova-BA (115)
- Trovoada (Drymophila ferruginea) – Boa Nova-BA (116)

DIA 14
Macarani – BA, 7 de setembro de 2016 (Quarta-feira)
(Where is my Mind – Placebo)
Acordamos numa hora tranquila para tomar o café da manhã convencional do hotel. Não foi essas coisas todas. Daria para pular esse café da manhã tradicional. 

Chegamos na Mata do Passarinho 13h e já ajeitamos nossas coisas para passarinhar. Não queríamos perder tempo.

Aproveitei para lavar algumas roupas enquanto o Paulo preparava o seu equipamento.

Não ia nem comentar sobre o desastre que aconteceu hoje, mas o Paulo disse que não tinha problema de falar, então:

Estou eu lavando minhas roupas, feliz da vida, escutando as aves cantarolando, quando, de repente, escuto um estalado grande. Foi um estalado bem forte como se algo tivesse caído no telhado da casa, e talvez até quebrado uma telha. Como o problema não era meu, continuei lavando minhas roupas feliz. É quando escuto o Paulo me chamando, pedindo a chave do carro para pegar alguns de seus pertences. Quando estou indo ao seu encontro, O Bil (guarda-parque) me olha com um certo olhar de tristeza (já sabia que tinha alguma coisa muito errada) e fala “Caio, a câmera dele caiu”.

– Aaaah não! Puta merda! – Eu pensei.

Quando olhei, pensei isso mais ainda! A lente PARTIU NO MEIO! No meio!

Só para reforçar mais um pouco: ela partiu no meio!

​Vejam:

Lamentamos muito, e o Paulo até zoou comigo dizendo que queria ir direto para Porto Seguro.

– E aí Paulo? Tudo bem? – eu perguntei ao Paulo quando cheguei no alojamento e ele estava cabisbaixo.

– Quero ir para Porto Seguro agora! Essa viagem perdeu o sentido – ele respondeu.

Meu coração foi a mil.

Não é que ele estava “frescando”. Parece até que é cearense.

Ele pediu para eu colocar aqui o link do primeiro incidente com essa sua lente: http://www.wikiaves.com/1860315&t=b&p=1

Espero que depois desse conserto, a sorte venha junto. E talvez um olho grego embutido na lente seria uma boa.

De qualquer maneira, saímos para passarinhar à tarde. Mesmo sendo à tarde, ainda conseguimos bons lifers. Inclusive, 3 desses estão no meu Top 20 favoritos da viagem com certeza, que são: cuitelão (Jacamaralcyon tridactyla), sabiá-pimenta (Carpornis melanocephala), tiriba-grande (Pyrrhura cruentata).

O jantar estava uma delícia. O sono à noite, mais ainda! Dormir nesse friozinho, isolado, sem barulho de cidade; parece que está no céu. 

Lifers do dia:
- Assanhadinho (Myiobius barbatus) – Macarani-BA (117)
- Cuitelão (Jacamaralcyon tridactyla) – Macarani-BA (118)
- Sabiá-pimenta (Carpornis melanocephala) – Macarani-BA (119)
- Tiriba-de-orelha-branca (Pyrrhura leucotis) – Macarani-BA (120)
- Tiriba-grande (Pyrrhura cruentata) – Macarani-BA (121)
- Zidedê (Terenura maculata) – Macarani-BA (122)

DIA 15
Macarani – BA, 8 de setembro de 2016 (Quinta-feira)
(Dogs – Pink Floyd)

Vou confessar uma coisa aqui: estou cansado “pra caralho”!

Sabe aquela impaciência? Não é por nada não. Acho que só estou precisando de um turno de descanso mesmo. Mas tudo bem, agora só faltam 2 dias. Espero que possamos fotografar mais 20 espécies para completar as 150. Até agora já foram 130! Sei que é um número bem improvável, já que só temos mais 2 tardes e uma manhã de passarinhada, mas não custa sonhar.

Aqui na Mata do Passarinho é muito bom! Uma sensação de calma e tranquilidade sem igual. Como estou guiando, fica um pouco (muito) tenso, mas relevemos este detalhe. O plano depois dessa viagem, é descer para Espírito Santo e Minas Gerais para conhecer novos pontos de passarinhada. Na volta, com certeza vou passar uns 3-4 dias aqui em Macarani para conhecer todas as trilhas e fazer algumas gravações da avifauna local. Nesses dias de prospecção, quero focar bastante nas gravações. Foto só se der muita bobeira ou se for lifer.

Pois bem, hoje tomamos café da manhã às 6 e já saímos para passarinhar do refeitório mesmo. Fizemos a trilha do Jequitibá. Para a quantidade de espécies que tínhamos para pegar e levando em consideração a raridade e dificuldade dos bichos, podemos dizer que foi uma proveitosa passarinhada matinal.

Almoço.

Passarinhada vespertina.

Jantar.

Preguiça de escrever

(Acho que deu para perceber)

​Compenso a falta de escrita com algumas fotos de ontem à tarde e hoje:

Rio de Janeiro Antbird (Cercomacra brasiliana)
Rio de Janeiro Antbird (Cercomacra brasiliana)
Chestnut-backed Antshrike (Thamnophilus palliatus)
Chestnut-backed Antshrike (Thamnophilus palliatus)
Crescent-chested Puffbird (Malacoptila striata)
Crescent-chested Puffbird (Malacoptila striata)
Red-stained Woodpecker (Veniliornis affinis)
Black-billed Sythebill (Campylorhamphus falcularius)
Yellow-green Grosbeak (Caryothraustes canadensis)
Cinnomon-vented Piha (Lipaugus lanioides)
Green-backed Becard (Pachyramphus viridis)
Wing-barred Piprites (Piprites chloris)
Lifers do dia:
- Arapaçu-de-bico-torto (Campylorhamphus falcularius) – Macarani-BA (123)
- Araponga-do-horto (Oxyruncus cristatus) – Macarani-BA (124)
- Choquinha-de-peito-pintado (Dysithamnus stictothorax) – Macarani-BA (125)
- Gavião-pombo-grande (Pseudastur polionotus) – Macarani-BA (126)
- Papa-moscas-estrela (Hemitriccus furcatus) – Macarani-BA (127)
- Papinho-amarelo (Piprites chloris) – Macarani-BA (128)
- Pintadinho (Drymophila squamata) – Macarani-BA (129)
- Tropeiro-da-serra (Lipaugus lanioides) – Macarani-BA (130)
- Choquinha-pequena (Myrmotherula minor) – Macarani-BA (131)

DIA 16
Porto Seguro – BA, 9 de setembro de 2016 (Sexta-feira)
(Perfect Day – Lou Reed)

“Guiadas e suas 1001 surpresas”. 

Com certeza, se eu fosse escrever outro livro, esse seria o título! Não há uma viagem sequer, que não tenha “boas” surpresas. Parece até que eu sou o cara mais experiente e mais vivido. Não é não. Faz pouquíssimo tempo que estou guiando, mas em 100% delas, sempre há surpresas desagradáveis onde temos que nos desdobrar para resolver. E nem sempre conseguimos resolver da maneira que gostaríamos.  Confirmo isso também por causa de todas as histórias que o Ciro já me contou dos trabalhos de guia.

Hoje, depois de um longo dia, quando chego aqui no hotel em Porto Seguro, que, teoricamente (pelo preço) era para ser o melhor hotel da viagem, o problema: não tinham feito a reserva corretamente! Puta que pariu! Desculpe os termos, mas foi exatamente isso que passou pela minha cabeça. Como é que pode? Que porra é essa? Eu reservei a merda desses quartos? Lembrando que tudo isso foi na minha cabeça.

Ao invés de reservarem dois quartos de solteiro, reservaram só um para mim e para o Paulo. Para não fazer um vexame na frente do Paulo, acomodei-o em seu quarto e fiquei aqui fora tentando ver como isso seria resolvido. O pior de tudo é que não tinha mais NEM UM quarto disponível hoje. Que azar! Que sacanagem! Fiquei muito puto. Cinthia desgraçada! (Cinthia foi a responsável pela reserva... pela NÃO reserva).

Paulo foi para o seu quarto e eu fiquei aqui fora, na recepção, fazendo confusão à toa.

Já tinha separado minha roupa e peguei uma toalha na recepção para tomar pelo menos um banho no chuveiro da sauna. Deixei minha mala no carro e já organizei minha “cama” (o banco de trás do carro).

Quando estava indo tomar banho, um anjo sai me aparece (o Paulo):

– Caio, não te preocupas com isso, fica lá no quarto comigo cara – Ele falou.

– Paulo, tem certeza? Não quero te perturbar de jeito nenhum – eu respondi. Acho que meu sorriso já estava de ponta a ponta.

– Claro tchê! Pode ficar lá – Ele confirmou.

Acho que foi um dos momentos altos da viagem. Espero não roncar muito a noite. 

Hoje o café da manhã saiu um pouco mais tarde na Mata do Passarinho, conforme combinamos. Passarinhamos pouco menos de uma hora na mata antes de ir para o refeitório, às 7h. Comemos, arrumamos nossos pertences e saímos da reserva um pouco depois das 8. 

Fomos seguindo o Alexandre até a BR-101 por um caminho que eu ainda não conhecia, indo por Bandeira e Jacinto, em Minas Gerais. Um caminho muito esburacado, mas bem mais curto do que o que eu já conhecia, indo por Macarani mesmo.

Paramos para almoçar em um posto bem grande que fica um pouco antes de Eunápolis. Muito bom esse almoço.

Nos despedimos do Alexandre e fomos direto para a RPPN Estação Veracel para ver o que ainda conseguíamos no dia de hoje.

Chegamos por volta das 2 e ficamos até escurecer.

Aí foi que aconteceu o grande evento; eu estava morto de cansado, depois de acordar cedo, passar o dia dirigindo e ainda passarinhar à tarde sem nenhum descanso entre um e outro. Sem contar que já percorremos quase 4.000Km nesta viagem. Então o mínimo que eu esperava de um hotel, depois de tudo isso, seria um quarto para mim e um para o Paulo, como eu já havia reservado. Mas não, o hotel mais chique e mais caro da viagem acabou sendo o que me deu a maior dor de cabeça.

Se não fosse pelo Paulo, eu teria dormido no meu carro hoje.

Valeu mais uma vez Paulo. E já deixo aqui as minhas desculpas sinceras.

Lifers do dia:
- Beija-flor-safira (Hylocharis sapphirina) – Santa Cruz Cabrália-BA (132)
- Cambada-de-chaves (Tangara brasiliensis) – Santa Cruz Cabrália-BA (133)
- Maitaca-de-barriga-azul (Pionus reichenowi) – Santa Cruz Cabrália-BA (134)
- Saíra-beija-flor (Cyanerpes cyaneus) – Santa Cruz Cabrália-BA (135)
- Choca-de-sooretama (Thamnophilus ambiguus) – Santa Cruz Cabrália-BA (136)

DIA 17
Porto Seguro – BA, 10 de setembro de 2016 (Sábado)
(Since I’ve Been Loving You – Led Zeppelin)

Último dia de passarinhada. 

Confesso que no início da manhã estava um pouco preocupado com os bichos que apareceriam hoje, mas depois do primeiro lifer (um Glaucis dohrnii paradinho, no limpo, que inclusive esperou o Paulo chegar até o local onde eu estava), os outros vieram com uma naturalidade impressionante.

Picture
Depois veio um fim-fim-grande, que percebi sua presença pelo seu canto bem distinto do fim-fim “original” que conhecemos bem. Quando olhei, não percebi diferença morfológica alguma, mas gravei seu canto só para garantir a veracidade do registro. Um bicho que realmente pode dar muita confusão só pela fotografia. Para os curiosos (como eu), aqui está a gravação que fiz do indivíduo (Gravação).

Andamos mais um pouco e dois Chauás passaram sobrevoando muito pertinho de nós. O Paulo conseguiu uma foto espetacular, já eu? Perdi a oportunidade de uma bela foto. Acho que é porque chegaram tão perto que realmente ficou difícil de focar em um momento que precisava de muita agilidade. O Paulo mandou muito bem. Se não fosse a agilidade dele para garantir a foto desse lifer, não teríamos outra oportunidade. Essa foi a única. Tentamos fazer playback ontem, tentei hoje também e nada delas virem ao nosso encontro. Então fez bem de ter garantido essa logo cedo... e bem.

Só para ver no que ia dar, eu toquei um flautim-marrom, já na certeza de que ele não viria. Não é que ele chegou bem pertinho e conseguimos fazer boas fotos. Jurava que era lifer para o Paulo, mas quando fomos verificar sua lista durante o almoço, vimos que foi engano nosso e que essa espécie ele já tinha fotografado na Amazônia. De qualquer maneira, fica aí o registro. Quem sabe em breve não separam em duas espécies distintas?

Picture
Seguimos para o paraíso dos beija-flores (local que eu mesmo apelidei devido à quantidade impressionante de beija-flores). Nessa paradinha conseguimos fotografar o anambé-de-asa-branca (Xipholena atropurpurea), chorozinho-de-boné (Herpsilochmus pileatus) e tempera-viola (Saltator maximus).

Pegamos o carro e seguimos ainda mais um pouco para conseguir ainda mais um lifer para o Paulão, a saíra-pérola (Tangara cyanomelas). Viemos a melhorar, e muito, o registro dessa espécie no período da tarde, mas pelo menos já deu para garantir durante a manhã.

Foi só o tempo de fotografar essas saíras que já estava na hora de seguirmos caminho para uma das partes mais importantes da viagem: almoço no Portinha!

É até um segredo que compartilharei agora; Porto Seguro só faz parte do roteiro por causa desse almoço. Pelos pássaros não, só pelo almoço. Hehe.

Almoçamos, passamos no hotel para o Paulo organizar as fotografias e já voltamos para o campo. Sem descanso mesmo. Reabasteci nossa garrafinha mágica (garrafa térmica do café) e fomos, já com a ideia de ficarmos até o período noturno e procurar os bichos da noite.

À tarde conseguimos a choquinha-de-rabo-cintado (Myrmotherula urosticta), que foi uma surpresa para mim e à noite conseguimos o bacurau-ocelado (Nyctiphrynus ocellatus), que também foi uma surpresa. Legal!

Chegamos no hotel perto das 9 horas e terminamos de jantar quase às 11. Isso nunca aconteceria se não fosse o último dia.

Preparei uma dedicatória bem legal para o Paulo e dei um livro meu de presente para ele.

Lifers do dia:
- Anambé-de-asa-branca (Xipholena atropurpurea) – Santa Cruz Cabrália-BA (137)
- Bacurau-ocelado (Nyctiphrynus ocellatus) – Santa Cruz Cabrália-BA (138)
- Balança-rabo-canela (Glaucis dohrnii) – Santa Cruz Cabrália-BA (139)
- Chauá (Amazona rhodocorytha) – Santa Cruz Cabrália-BA (140)
- Choquinha-de-rabo-cintado (Myrmotherula urosticta) – Santa Cruz Cabrália-BA (141)
- Chorozinho-de-boné (Herpsilochmus pileatus) – Santa Cruz Cabrália-BA (142)
- Fim-fim-grande (Euphonia xanthogaster) – Santa Cruz Cabrália-BA (143)
- Saíra-pérola (Tangara cyanomelas) – Santa Cruz Cabrália-BA (144)
- Tempera-viola (Saltator maximus) – Santa Cruz Cabrália-BA (145)

​Alguns bichinhos que deram bobeira hoje:

Blue-throated Parakeet (Pyrrhura cruentata)
Blue-throated Parakeet (Pyrrhura cruentata)
Rufous-throated Sapphire (Hylocharis sapphirina)
Rufous-throated Sapphire (Hylocharis sapphirina)
Lifers do dia:
- Anambé-de-asa-branca (Xipholena atropurpurea) – Santa Cruz Cabrália-BA (137)
- Bacurau-ocelado (Nyctiphrynus ocellatus) – Santa Cruz Cabrália-BA (138)
- Balança-rabo-canela (Glaucis dohrnii) – Santa Cruz Cabrália-BA (139)
- Chauá (Amazona rhodocorytha) – Santa Cruz Cabrália-BA (140)
- Choquinha-de-rabo-cintado (Myrmotherula urosticta) – Santa Cruz Cabrália-BA (141)
- Chorozinho-de-boné (Herpsilochmus pileatus) – Santa Cruz Cabrália-BA (142)
- Fim-fim-grande (Euphonia xanthogaster) – Santa Cruz Cabrália-BA (143)
- Saíra-pérola (Tangara cyanomelas) – Santa Cruz Cabrália-BA (144)
- Tempera-viola (Saltator maximus) – Santa Cruz Cabrália-BA (145)

DIA 18
Porto Seguro – BA, 11 de setembro de 2016 (Domingo)
(The End – The Doors)

O combinado seria acordar às 6h, mas acho que eu desliguei o despertador quando ele tocou e só acordamos às 6h45. Que bosta ein!? Mas a verdade é que tínhamos bastante tempo até a hora do voo dele, que só seria às 10.

Tentamos imprimir o papel de check-in na recepção, mas não deu certo. Não sei porque, mas não deu certo.

Ele tomou café da manhã rapidamente, fechou as malas e, antes das 7 e meia, já estávamos partindo para o aeroporto.

Tomei café da manhã na volta, depois de ter cortado minhas unhas e feito a barba. Sempre bom dar uma renovada.

Tomei café da manhã, arrumei minhas malas e fechei a conta.

Agora estou por conta própria. Vamos ver o que vai acontecendo daqui em diante. O futuro é incerto, e quando eu estou envolvido, mais ainda!

Assim que sai do hotel, liguei para a minha mãe e passamos mais de uma hora conversando. Muitas novidades! Muitas mesmo.

Desliguei o telefone e já entrei em contato com o Alexandre para nos encontrarmos em Arraial d’Ajuda.

...

...daqui em diante, já estamos em outra expedição, a “Expedição ES-MG”.
4 Comments

Tour Norte/Nordeste - Março/Abril de 2016

19/7/2016

0 Comments

 
Deixarei que o Bill Simpson conte sobre esta viagem em seu Trip Report.

A seguir, vou colocar o Trip Report (relatório de campo) sobre esta viagem escrito por ele.

Para quem quiser ver outros relatos sobre tours no Nordeste, procure na categoria “Tour Nordeste” na aba à direita da tela.
brazil_march_12th-_april_12th_2016.pdf
File Size: 7845 kb
File Type: pdf
Download File

FOTOS
Fotos realizadas por mim durante a expedição.

Parte I
Icapuí - Pacatuba - Guaramiranga - Quixadá - Potengi - Crato
Guaramiranga-CE
Guira Tanager (Hemithrapis guira)
Red-Cowled Cardinal (Paroaria dominicana)
Masked Water-Tyrant (Fluvicola nengeta)
Palm Tanager (Tangara palmarum)
Burnished-buff Tanager (Tangara cayana)
Red-necked Tanager (Tangara cyanocephala cearensis)
Blue Dacnis (Dacnis cayana)
Gray-breasted Parakeet (Pyrrhura griseipectus)
Gray-breasted Parakeet (Pyrrhura griseipectus)
Quixadá-CE e Potengi-CE
Pygmy Nightjar (Hydropsalis hirundinacea)
Pygmy Nightjar (Hydropsalis hirundinacea)
White-naped Xenopsaris (Xenopsaris albinucha)
White-naped Xenopsaris (Xenopsaris albinucha)
Spotted Piculet (Picumnus pygmaeus)
Spotted Piculet (Picumnus pygmaeus)
Caatinga Antwren (Herpsilochmus sellowi)
Ceara Leaftosser (Sclerurus cearensis)
Burrowing Owl (Athene cunicularia)
Caatinga Cachalote (Pseudoseisura cristata)
Barbalha-CE
Picture
Araripe Manakin (Antilophia bokermanni)
Parte II
João Pessoa - Santa Rita - Areia - Canudos - Lençóis - Mucugê - São Domingos - Palmas - Lagoa da Confusão - Pium

João Pessoa-PB, Santa Rita-PB e Areia-PB
Seven-colored Tanager (Tangara fastuosa)
Rufous Gnateater (Conopophaga lineata)
Canudos-BA
Pectoral Antwren (Herpsilochmus pectoralis)
Bill Simpson e André Grassi fotografando a Arara-azul-de-lear
Lear's Macaw (Anodorhynchus leari)
Chapada Diamantina-BA
Hooded Visorbearer (Augastes lumachella)
San Francisco Sparrow (Arremon franciscanus)
São Domingos-GO
Pfrimer's Parakeet (Pyrrhura pfrimeri)
Helmeted Manakin (Antilophia galeata)
Palmas-TO
Southern Antpipit (Corythopis delalandi)
Bill in the Cerrado
Blue Finch (Porphyrospiza caerulescens)
Russet-crowned Crake (Laterallus viridis)
Bill and the Eared Puffbird (Nystalus chacuru)
Crested Black-Tyrant (Knipolegus lophotes)
Pium-TO
Searching for Kaempfer's Woodpecker
Kaempfer's Woodpecker (Celeus obrieni)
Searching for Kaempfer's Woodpecker
Large-billed Tern (Phaetusa simplex)
Amazonian Tyrannulet (Inezia subflava)
Hoatzin (Opisthocomus hoazin)
Riverside Tyrant (Knipolegus orenocensis)
Araguaia Cardinal (Paroaria baeri)
Black-banded Owl (Strix huhula)
0 Comments

Tour Nordeste - Setembro de 2015

15/7/2016

2 Comments

 
O primeiro trabalho oficial como Guia de Birdwatching a gente nunca esquece...
Picture
Guaramiranga – CE, 20 de setembro de 2015 (Domingo)
(Amor e outras cositas mas – Saulo Duarte e a Unidade)
Do nada, estou aqui em Guaramiranga. Pensando bem, até que foi um pouco previsível. Mas eu poderia estar em qualquer outro lugar desse mundo. Se tivessem me chamado para o Rio Grande do Sul com hospedagem e alimentação inclusos, eu com certeza iria também. Mas essa oportunidade de hospedagem e alimentação inclusos surgiu para outras localidades e aqui estou eu. E não poderia ter sido melhor.

Estou aqui guiando dois japoneses e um americano (Bryan Shirley). O americano é um guia mundial especializado em guiar observadores de aves japoneses. Será que o trabalho do cara poderia ser mais específico? Como ele nunca veio ao nordeste, me contrataram para acompanha-los. Daqui, vou com eles até o Crato e depois Canudos, na Bahia. De lá, eles continuam e eu volto para casa (Fortaleza-CE).

Dizem que as coisas acontecem por um motivo e/ou que depois de algo ruim, vem coisas boas. Sei nem se essas frases são assim mesmo, mas isso aconteceu comigo e tem me deixado mais crente nesses últimos dias.

Foi mais ou menos assim; eu ia para uma consultoria ambiental na Praia da Baleia (litoral cearense), mas, devido a algumas burocracias (nojentas, que não detalharei aqui), eu não fechei contrato com a empresa sob aquelas medidas. Infelizmente, em alguns casos, é assim: ou faz errado ou cai fora.

Caí fora!

(Quer saber? No texto original do meu diário, eu não detalhei, mas vou detalhar, nem que seja um pouco)

A empresa de consultoria ambiental me chamou para esse trabalho e tinha no contrato o seguinte (vou resumir sem citar palavra por palavra): Eu faria 15 dias de campo sem receber nada e teria que fazer um relatório para ser aprovado pelo órgão ambiental. Caso o relatório não fosse aprovado por qualquer motivo, eu não receberia o pagamento nem pelos dias que trabalhei em campo. Caso o relatório fosse reprovado devido a ocorrência de alguma espécie rara ou ameaçada de extinção naquela localidade, eu teria que modificar o relatório (ou seja, dizer que essas espécies não existiam lá) para que o mesmo fosse aprovado e eu pudesse receber meu pagamento integral. Isso é um ABSURDO! Vale ressaltar que as diárias que eu seria pago eram vergonhosas, no limite do RIDÍCULO. Com relatório e tudo incluso. Estou até com medo de estar expondo essas coisas dessa maneira, mas já cansei desse Brasil, que, para todo lado que você olha tem corrupção e coisa errada.

(Eu tentei negociar, e, depois de mais de 20 e-mails trocados, eles insistiram no ABSURDO e no RIDÍCULO)

Caí fora!

Uma bela noite, acho que foi numa terça ou quarta-feira, o Jefferson Bob me liga, perguntando se eu não queria guiar esse pessoal.

– O que? É claro que eu quero né? – Eu respondi sem nem pensar no caso (como faço com 90% das coisas que decido).

Ele me passou o contato e tudo foi resolvido em menos de uma hora. O que não foi resolvido em mais de uma semana (consultoria ambiental), resolvi em menos de uma hora (guiada). Menos complicações, mais divertido, menos trabalho pós-campo, mais bem pago... tenho um leve pressentimento que vou preferir ficar fazendo isso daqui em diante.

Quinta-feira eu subi a serra com uma amiga passarinheira, a Cecília. Fiz isso mais ou menos como uma forma de treino, para verificar quais bichos estariam bons de ver com este grupo que estou agora. Na sexta-feira, passamos o dia passarinhando com o Fábio Nunes, da Aquasis, e descemos no sábado bem cedinho (6h).

Até que deu para ver e fotografar alguns bichinhos legais:
Northern Lesser Woodcreeper (Xiphorhynchus atlanticus)
Rufous-bellied Thrush (Turdus rufiventris)
Sábado, assim que cheguei, fui ao Shopping Iguatemi para comprar algumas coisas que seriam uteis nessa viagem e que eu estava precisando; cabos p2-p2 (sempre quebram, então é sempre bom ter mais de um), carregador para minha caixa de playback e um laser (apontador).

Depois das compras, fui em casa deixar as coisas e sai para almoçar com o Bob e Natalia na casa da Luciana, uma amiga de faculdade. Revi alguns amigos que não via a muito tempo, inclusive a Val, que não via a mais de 5 anos. A Val foi minha professora na UECE.

A casa da Luciana é muito massa, muito aconchegante. E o almoço estava uma delícia! Antes de almoçar, tomamos aquela cerveja e umas doses de cana também. Deu até para ficar meio bêbado. 

Por volta das 4 e meia, a mãe da Natalia foi nos pegar e fomos para a casa dela, ajudar a preparar umas comidas para o “encontro das meninas” que a Natalia estava organizando com amigas do colégio. Demos uma grande agilizada nas coisas e deu para terminar tudo a tempo.

Umas 18h, o irmão do Bob foi nos pegar. Deixou o Bob na casa do George e depois fomos conversando até chegar na minha casa. Queria muito ter ido para a casa do George, mas ainda tinha muita coisa para organizar antes de iniciar esta viagem. Tive que baixar milhares de arquivos de áudio (cantos de aves) para fazer playback e ainda tive que fazer as malas.

Acordei hoje às 5 e só fui acabar de organizar tudo perto das 11. No limite. Ainda bem que deu tudo certo. 

Almocei um pouco mais cedo e sai de casa para encontrar com eles no aeroporto às 12h40. Enquanto esperava, tomei um café.

Assim que eles chegaram, pegamos o carro na locadora e pegamos a estrada para Guaramiranga. Como chegamos ainda de dia, decidi garantir logo o cartão de visita da serra; o periquito-cara-suja (Pyrrhura griseipectus). Foi sucesso! Quando chegamos ao local, os bichos já estavam cantando por perto. Os japoneses viram e conseguiram fotografar. Entre um periquito e outro, ainda fotografaram outras espécies: lavadeira-mascarada (Fluvicola nengeta), bentevizinho-de-penacho-vermelho (Myiozetetes similis), saíra-militar (Tangara cyanocephala cearensis), saí-azul (Dacnis cayana).
Variable Antshrike (Thamnophilus caerulescens cearensis)
Masked Water-Tyrant (Fluvicola nengeta)
Gray-breasted Parakeet (Pyrrhura griseipectus)
Red-cowled Cardinal (Paroaria dominicana)
Quando começou a escurecer, viemos ao hotel Alto da Serra para fazer o nosso Check-in.

Check-in.

Cada um para seu lugar.

Jantar às 19h00.

Encontramos com o Thiago Piloto.

Nota #1: Os japoneses não gostaram da pizza de frango com catupiry (acho (tenho quase certeza) que foi por causa do frango).

Voltamos.

​Sono às 21h30.
Guaramiranga – CE, 22 de setembro de 2015 (Terça-feira)
(Pais e filhos – Tim Maia)
Agora são 4h30. Acordei às 4h10, tomei um banho, dei uma organizada geral nas coisas e estou escrevendo um pouco antes de descer para o café da manhã. Combinamos de sair por volta das 6 e meia para ter tempo de sobra e poder parar no caminho caso apareça algo bacana.

Ontem acordei 4 e meia e escrevi um pouco antes de sair para passarinhar com o pessoal. Às 5 e meia nos encontramos, passarinhamos durante uns 15 minutos em frente aos chalés e fomos para o Hotel Remanso. 

Já decidi: não vou mais no Remanso. Achei muito fraco e que perdemos 2 horas da nossa manhã. Não que lá seja ruim, mas os bichos ficam mais nas copas das árvores, não descendo com facilidade, o que torna a fotografia [deles] bem complicada. Me lembra, um pouco, passarinhar na Amazônia.

O Parque das Trilhas tem todas as espécies que o Remanso tem (com exceção da tovaca-campanhia) e é bem mais fácil de conseguir boas fotos, pois tem mais bordas e as trilhas são mais largas.

Para não ir ao café da manhã “de mãos vazias”, decidi dar uma rápida passada no Parque. Na verdade, ia levar eles no comedouro que fica de frente para os chalés, mas quando cheguei, estava sem frutas, então improvisei e fui para a entrada do parque. Em 20 minutos, vimos por volta de 20 espécies, e os caras fotografaram umas 10.

Acho que nem falei ontem, mas esses japoneses andam “armados” até os dentes: um anda com uma lente de 500mm (talvez seja até uma 800mm) com um conversor e o outro anda com umas 3 câmeras (utiliza uma 300mm para fotografia de aves). 

Umas 8, voltamos ao hotel para tomar café da manhã. Quando estávamos prestes a sair para o Parque novamente, o Thiago Piloto chegou no hotel em que estávamos. Ainda conseguimos ver o chupa-dente-do-nordeste (Conopophaga lineata cearae) bem rápido antes de sair.
Quando chegamos lá, eles já conseguiram fotografar cardeal-do-nordeste (Paroaria dominicana), fim-fim (Euphonia chlorotica) e sanhaço-de-coqueiro (Tangara palmarum) no comedouro dos chalés. A passarinhada no parque foi mais que vantajosa. Muito bicho e, de acordo com o Bryan, vimos todas as espécies-alvo. Só conseguimos sair do Parque, com muito esforço, às 14h00. 

Um dos rapazes é fascinado por piprídeos e, aqui na serra, para ele, o bicho mais importante seria o Guaramiranga (Pipra fasciicauda). Esses caras não só viram o nosso amigo “Pipra fasciicauda”, como faltaram beijar de tão perto que ele chegou de nós. Os dois conseguiram fotos sensacionais! Que maravilha! Ficaram tão felizes que ganhei cerveja a noite.

Almoçamos no K-labar, em Pacoti, e, umas 15h30 fomos para o comedouro que o Thiago nos levou. Consegui algumas boas fotos de Euphonia chlorotica.
Os destaques que registramos na serra:

- Murucututu (Pulsatrix perspicillata);
- Beija-flor-de-garganta-azul (Chlorostilbon notatus);
- Saripoca-de-gouldii (Selenidera gouldii);
- Pica-pau-anão-da-caatinga (Picumnus limae);
- Periquito-cara-suja (Pyrrhura griseipectus);
- Choca-da-mata (Thamnophilus caerulescens cearensis);
- Chupa-dente-do-nordeste (Conopophaga lineata cearae);
- Vira-folha-cearense (Sclerurus cearensis);
- Arapaçu-rajado-do-nordeste (Xiphorhynchus atlanticus);
- João-de-cabeça-cinza (Cranioleuca semicinerea);
- Poiaieiro-de-patas-finas (Zimmerius acer);
- Maria-do-nordeste (Hemitriccus mirandae);
- Enferrujadinho (Lathrotriccus euleri);
- Uirapuru-laranja (Pipra fasciicauda scarlatina);
- Saíra-militar (Tangara cyanocephala cearensis);

Só ficou faltando o pica-pau-ocráceo (Celeus ochraceus), a tovaca e o uru, mas o pica-pau podemos ver em outras localidades e os outros dois, os japoneses não fizeram um pingo de questão de ver, já que são bichos não tão coloridos.

Agora são 5h10 e eu vou descer para pegar uma internet antes de tomar café da manhã. Espero que possamos ver uns bichos aquáticos bem legais hoje.

*** CRATO ***
Chegamos aqui por volta das 18h, depois de quase 10 horas de viagem. Paramos mais de 5 vezes só para ver algumas aves no caminho. A lista de espécies da viagem saiu de 80 para 123 espécies. Muitos bichos associados a água e alguns de caatinga.

* Agora são 21h30 e vou dormir.
** Um pouco puto porque perdi o carregador do meu celular.
*** Encontrei com o Jefferson Bob aqui.
Crato – CE, 23 de setembro de 2015 (Quarta-feira)
(Bleed through – S.O.J.A)
Engraçado, você com “25 anos no couro” acha que já aprendeu tudo nessa vida. Parece que não...
Hoje cometi mais um erro para meu histórico, mas que ficou como aprendizado: xampu e condicionador de hotel é só de enfeite!

Cheguei do campo hoje pensando “hoje vou lavar meu cabelo, já fazem dois dias que não lavo”. Era melhor ter passado 10 dias sem lavar do que ter feito isso! No momento que coloquei o xampu no cabelo, já vi que tinha algo de errado. O arrependimento já começou aí. Instantaneamente meu cabelo ficou duro. Juro por deus. O negócio ficou duro mesmo, e seco. Como já estava ali, continuei. 

– O condicionador vai resolver essa parada – eu pensei – sempre resolve (parece até milagre).

Eu sei que não é milagre, que na verdade são centenas e centenas de testes em animais indefesos, mas que parece milagre, parece. Para quem quiser poupar (proteger) esses animais indefesos, é só utilizar esses xampus e condicionadores de hotel. COM CERTEZA não passam por teste algum. 

Depois de me acalmar um pouco, fiquei até pensando nisso. Será que todo mundo já sabe disso menos eu? Nunca vi ninguém reclamando. Será que sou a única pessoa que conheço que tentei fazer isso? Se sim, porque meus pais não me ensinaram isso. É questão básica de sobrevivência. Enfim.

Pois bem, tirando esse incidente dos cosméticos “pró-vida” do hotel, o dia foi muito bom! Muito bicho legal.

Às 5, nos encontramos no saguão, comemos umas bolachas com café e partimos para Potengi, onde encontramos com o Bob. A passarinhada no Sítio Pau Preto foi muito proveitosa, com direito a muitos lifers e muitas fotos bacanas. Os caras mandaram muito bem, principalmente na foto do farinheiro (Myrmorchilus strigilatus). Iniciamos a passarinhada um pouco tarde, por volta de 7 e pouco, e, mesmo assim, conseguimos registrar 55 espécies. Boas espécies. Destaco: alegrinho-balança-rabo (Stigmatura budytoides gracilis), papa-moscas-do-sertão (Stigmatura napensis bahiae), farinheiro (Myrmorchilus strigilatus), garrinchão-de-bico-grande (Cantorchilus longirostris), azulão (Cyanoloxia brissonii) entre vários outros.
Depois da manhã de passarinhada, passamos na casa do tio do Bob para tomar uma água de pote e ficar debaixo da sombra, antes de ir até a cidade para almoçar na casa de sua mãe. Pense num almoço bom! Vale a visita.
Picture
De lá, seguimos para o soldadinho-do-araripe (Antilophia bokermanni). Saímos 11h de Potengi e chegamos no soldadinho 13h. Não vou contar para ninguém, mas errei o caminho, o que acrescentou 1 hora no percurso! Que vacilo! Ao invés de ir pelo Crato, fui por Juazeiro do Norte. É isso aí, vivendo e aprendendo. Depois dessa, nunca mais! 

Ao chegar no Arajara Park e entrar na trilha, não demoramos nem 5 minutos para achar o nosso alvo... mas era fêmea. Fêmea de piprídeo não vale (não presta/não funciona/não canta/café com leite)! Tem que ser macho.

Com aproximadamente 10 minutos de muita tensão (principalmente para quem está guiando), o macho apareceu! Sem playback, sem nada. Só espera e paciência. Se bem que nem precisa ter tanta paciência para esperar 10 minutos. Tem gente que espera mais naquele trânsito caótico de Fortaleza.

Por volta das 15h, saímos da trilha e fomos para o carro. 

​Porém, antes de irmos embora, uma moça (Dona Fabíola) quis nos mostrar os novos chalés do Arajara que foram concluídos a pouco tempo. Os chalés são fantásticos! Talvez um pouco caro para meros mortais, mas se for pagar em dólar, sai bem no preço.

Antes de chegar no hotel, passamos no centro para eu comprar uma fonte nova para carregar meus equipamentos. Comprei logo duas fontes, só para garantir.

Quando chegamos no hotel (16h30), eles foram para os quartos e eu fui para o saguão pedir um misto quente com cappuccino para aguentar até o jantar. Enquanto esperava, fiquei conversando com a Gerlidiana sobre coisas da vida. Para quem não conhece, Gerlidiana é minha mais nova amiga. Trabalha aqui no hotel. Gente boa.

Agora são 20h40 e eu acabei de jantar com a galera.

Sabe o que eu estava pensando agora? Acho que agora, depois dessa que aconteceu comigo, não vou mais poder doar o meu cabelo... lamentável. Eu sei que pode até ser paranoia minha, talvez até seja mesmo, mas depois que voltei do jantar, percebi uma parte da minha cabeça que está bem sem cabelo. Bem mesmo. Vou aguardar um tempo e, espero muito que seja só paranoia mesmo.

O Bryan chegou no Crato com uma lista de espécies-alvo com 17 espécies. Hoje, vimos 7 e amanhã ele quer as outras 10. As 10 que faltam são: Hylopezus ochroleucos, Picumnus fulvescens, Penelope jacucaca, Megaxenops parnaguae, Thamnophilus capistratus, Hylophilus amaurocephalus, Synallaxis hellmayri, Sakesphorus cristatus, Anopetia gounellei, Herpsilochmus sellowi.

Acho que desses acima, amanhã veremos 70%.

Veremos.
Crato – CE, 24 de setembro de 2015 (Quinta-feira)
(Venus in furs – Velvet Underground)
Pense num santo forte esse que eu tenho. Das espécies-alvo que o Bryan queria ver, vimos 7 delas hoje, ou seja 70%. Acertei na mosca. Vimos Hylopezus ochroleucos, Picumnus fulvescens, Megaxenops parnaguae, Thamnophilus capistratus, Hylophilus amaurocephalus, Sakesphorus cristatus, Herpsilochmus sellowi. O que deu mais mole, com certeza foi a choca-do-nordeste (Sakesphorus cristatus), que rendeu fotos magníficas do Shiga San. E o que deu mais trabalho foi o torom-do-nordeste (Hylopezus ochroleucos).

Saímos hoje do hotel por volta de 5h10, chegando ao ponto da passarinhada às 5h30. Em menos de uma hora, 5 lifers já foram garantidos. Isso já tirou grande parte da pressão. Fomos para outro ponto, do outro lado da pista de asfalto, onde conseguimos o pica-pau-anão-canela (Picumnus fulvescens).

Às 9, saímos em direção ao hotel e tomamos café da manhã assim que chegamos. Tiramos uma hora de intervalo e fomos novamente para o Arajara Park tentar melhorar o registro do soldadinho-do-araripe. Ontem eles conseguiram fotos melhores do que hoje. Passamos duas horas e meia tentando e, 14h, voltamos para o hotel. Comemos um sanduiche e 16h fomos passarinhar. Um pouco fraco, mas o Komori San ficou feliz por ter conseguido uma boa foto da choca-do-nordeste. E ainda teve mais um lifer, a choca-barrada-do-nordeste (Thamnophilus capistratus). Até que ficaram bem contentes. Pelo menos é o que me parece.

Voltamos por volta das 5 e meia.

​Tenho que conferir e organizar as listas que estou fazendo no e-bird. Tentar fazer isso aqui antes do jantar.
Canudos – BA, 25 de setembro de 2015 (Sexta-feira)
(Won’t come easy – Sweeny)
Dia de deslocamento.

Saímos do hotel no Crato às 7h, passando por Pernambuco na BR-116 para chegar até aqui.

A viagem foi tranquila e relativamente rápida, se for comparada com a viagem de Guaramiranga para o Crato. Paramos para almoçar às 12h, depois de Ibó, e chegamos aqui um pouco depois das 13h.

​Descansamos um pouco e saímos para passarinhar às 16h. Vimos 4 bichos novos para a lista da viagem: Falco femoralis, Thectocercus acuticaudatus, Synallaxis hellmayri, Saltatricula atricollis.
Inclusive Thectocercus acuticaudatus e Synallaxis hellmayri foram lifers para mim. 

​Estou sentindo que vou curtir muito essa viagem.

Amanhã o Ciro irá dormir aqui (no Hotel Brasil) com o grupo que ele está guiando. Vai ser legal encontrar com meu mestre em campo.
Canudos – BA, 26 de setembro de 2015 (Sábado)
(Glory Box – Portishead)
Picture
Picture
É... acho que quero ser guia mesmo.

Sabe quando acontece uma situação em nossas vidas que parece que ascendeu uma luz na nossa cabeça (na verdade a luz é sobre a cabeça né? Como nos desenhos). Pois é, isso aconteceu comigo hoje.

Isso já havia acontecido comigo antes, em uma viagem em 2012, com o Ciro Albano e Luciano Lima, pelo Nordeste (Ceará, Maranhão e Piauí), onde, um dia, depois de uma bomba de adrenalina, decidi que seria ornitólogo! Lembro como se fosse antes de ontem, o arrepio ao ver as anhumas sobrevoando acima de nós com aquele canto alto e desengonçado que elas têm. Sensacional! E talvez tenha sido por isso que estou aqui hoje.

E hoje aconteceu algo parecido. Acordei às 3h30 e saímos do hotel às 4 para encontrar com o Dorico, guia-florestal que nos levaria até um dos dormitórios das araras.

Chegamos no dormitório por volta das 5h e a algazarra já estava grande. Você escuta o som e vê centenas de araras “pretas” sobrevoando. À medida que o sol vai saindo, o azul das araras vai aparecendo proporcionalmente. Pense numa cena: centenas de araras-azul-de-lear gritando e sobrevoando a menos de 50m de você. Sensação única! E o arrepio fica ainda maior ao lembrar que a população dessa espécie, um dia, já chegou a aproximadamente 40 indivíduos (contagem realizada por volta de 1978). Realmente ficaram à beira da extinção (para saber mais da história da arara, clique AQUI).

E quando você para e observa a reação das pessoas (dos clientes), chega a ser ainda mais emocionante. Quero poder sentir essa sensação mais vezes, quero ser guia.
Depois de ver as araras, fomos para outra parte do dormitório, onde vimos um Cauré (Falco rufigularis).  Demos mais uma breve passarinhada em frente ao alojamento da Biodiversitas e seguimos para o hotel por volta das 9h. Tomamos café da manhã e, por volta das 13h, almoçamos para passarinhar às 14h.

O correto seria ter dormido entre o almoço e o café da manhã, mas não consegui! Foda. Talvez porque tomei café demais? Não sei. Já que não consegui dormir, lixei uma banda da semente de licuri (Syagrus coronata), que o Dorico me deu, para fazer um colar de lembrança. E enquanto estou aqui escrevendo, estou escutando as aves da chapada diamantina para me familiarizar mais um pouco.

...12h40: me arrumar para almoçar e ir à campo logo em seguida.

Resumindo o restante do dia:

- Passarinhada a tarde (bem produtiva), com dicas preciosas do João da Vila e auxílio do Raimundinho.

- Jantar com a galera na Pizzaria Doce Mel.

​- Cerveja e reunião de negócios com o papai Ciro Albano na Pizzaria Doce Mel.
Lençóis – BA, 27 de setembro de 2015 (Domingo)
(Alucinação – Belchior)

​Feliz é aquele que trabalha com uma coisa que não sabe mais nem que dia é hoje. Aquele trabalho que você não fica anotando os dias, as horas, os minutos e, às vezes, até os segundos para que chegue logo o final de semana. Tem até um programa de rádio em Fortaleza que é com esse intuito (é algo como “fecha tudo e vamos embora”). E o pior é que quando você fica contando os segundos, o tempo parece que passa mais devagar. Tem uma explicação física para isso, mas não sei bem como é que isso funciona. Não sei se está relacionado com a rotação, velocidade e translação da terra. Enfim.

Hoje acordamos em Canudos e já estou aqui em Lençóis, pronto para dar aquela cochilada. Muito doido isso. 

Tomamos café da manhã às 5h30 e pouquinho depois das 6h já iniciamos nossa viagem. Pegamos o caminho por Feira de Santana e conseguimos chegar em 9 horas. Foi bom. Hoje o Bryan se garantiu no volante. Tirando o momento em que ele derramou refrigerante no chão do carro, o resto foi sossegado. Até essa parte do refrigerante foi relativamente sossegada. Digo que foi “relativamente sossegado” porque tenho uma gastura/aflição imensa com coisas grudentas, pegajosas, oleosas (acho herdei essa parte do meu pai). Então, quando a lata derramou, já vi uma cena 10x pior do que realmente foi; imaginando TUDO grudado e como seria para dirigir depois com os pés grudando no tapete etc. Mas consegui me segurar bem e ainda o ajudei a limpar.

Deixamos nossas coisas aqui no hotel e fomos passarinhar no Morro do Pai Inácio. Infelizmente, não conseguimos foto do Augastes lumachella. Conseguimos de dois outros bichos bem legais (Embernagra longicauda e Knipolegus nigerrimus), mas não do Augastes, uma das maiores estrelas da chapada diamantina. Pior que carreguei o equipamento do Komori (uma lente bem pesada de 500mm) até o topo do morro e nada. Estou até com as pernas doendo agora (ácido lático pra caramba).
Picture
É isso, os principais foram esses mesmo. E uma águia-chilena que passou sobrevoando por nós quando estávamos no morro.
Lençóis – BA, 28 de setembro de 2015 (Segunda-feira)
(Revelação – Fagner)
Pense numa noite animada essa de hoje. Saímos para jantar na rua e estava tendo, acho que era um ensaio da banda de um colégio. Umas 50 pessoas de uniforme tocando aquelas músicas de bandinha, que toca em Olinda. Até arrepiei só de lembrar de Olinda, dos bons carnavais que já passei por lá. As risadas, as bebidas, os amigos, as mulheres, o cheiro de mijo no ar, do vômito, das risadas, dos perdidos, enfim, de Olinda. 

Os japoneses gostaram muito (vou chamar eles pelo nome mesmo: Shiga San e Komori San, gostaram muito) e o Bryan também curtiu. Outra coisa que eles curtiram bastante hoje foi a Devassa. Desde quando chegaram aqui, estão tomando Skol e estão amando. Quando falei que não tinha Skol nesse estabelecimento, ficaram até tristes, mas a Devassa deu para agradá-los. A tradução de “Devassa” seria “Naughty Girl” mesmo? Foi assim que traduzi para o Bryan.

Acordamos cedo para sair do hotel às 4h30. Chegamos ao ponto por volta das 5 e 40. A passarinhada foi bem proveitosa, mas senti muita falta de algumas espécies importantes, como Euscarthmus rufomarginatus, Heliactin bilophus, Arremon franciscanus. Mesmo assim, vimos outras espécies legais, como Colibri serrirostris, Thamnophilus torquatus, Picumnus pygmaeus, Anopetia gounellei e Saltator similis.

Ficamos nesse ponto, em Palmeiras, até umas 10 e pouco e voltamos para Lençóis. Abastecemos o carro, passamos no hotel Casa da Geleia para ver como eram os comedouros de passarinho e fomos almoçar no Bode. Na Casa da Geleia, conheci a Lia e conversamos um pouco. Depois do almoço não aguentei, dormi e muito. Ia dormir de uma até duas, mas o cansaço estava muito grande. Hoje foi o dia em que eu estava mais cansado, dando cochilos no banco do passageiro, coisa que raramente faço. Acho que eu nem falei, mas quem está dirigindo durante toda a viagem é o Bryan, então está bem tranquilo para mim em relação a isso.
Picture
Quando o despertador tocou às 2, coloquei mais meia hora para dormir mais um pouco.

A passarinhada da tarde até que foi produtiva. Faltaram algumas espécies-alvo, mas paciência né Caio!? Como diz o Ciro, a natureza não é um Shopping Center, não há previsibilidade. E como diz o André, se fosse fácil, não teria graça. Vimos Lepidocolaptes squamatus, Pyriglena leucoptera, Buteo brachyurus, Trogon surrucura e Synallaxis scutata, que era lifer para o Bryan. Expressou bem sua felicidade no jantar, quando apertou meu braço, arregalando os olhos quando viu que o S. scutata era lifer. Massa!

Foi mais ou menos isso. Amanhã fazer uma passarinhada matinal antes de partir para tentar as espécies que ainda faltam.
Gravações dos bichos gravados nesse dia:

- Pyriglena leucoptera;

- Trogon surrucura;

- Synallaxis scutata.
Boa Nova – BA, 29 de setembro de 2015 (Terça-feira)
(Tunnel of Love – Dire Straits)
O cansaço está grande, mas vou fazer um rápido resumo.

Como o Ciro sempre fala, mas ninguém quer acreditar: “rapadura é doce, mas não é mole não”. Muito bom esse negócio de guiar, mas cansa muito também. É muita pressão. Não é apenas uma passarinhada que se faz com amigos, sem muito compromisso, sem tensão, sem pressão, só por diversão. Afinal, você está trabalhando né?

Pois bem, eu já estava bem decepcionado com o nosso desempenho na chapada diamantina. Até que pegamos alguns bichos, mas senti que os principais estavam ficando de fora, como, por exemplo, o Augastes lumachella e o Formicivora grantsaui.

Hoje de manhã, decidimos tentar esse e outros bichinhos mais uma vez antes de irmos embora, então saímos da pousada 5h00 e chegamos no ponto às 5 e meia. Chegando ao ponto, estava me sentindo bem, como se fosse conseguir tudo e um pouco mais. Depois de 10 minutos, esse sentimento foi mudando. O tempo estava nublado e NENHUM bicho estava respondendo ao playback (puta merda!). Tentei umas 6 espécies-alvo e NADA! Vimos outros bichos, claro, mas espécie-alvo, que é bom, nada. Bichos até bem legais, mas como não havia visto nem UM dos alvos, NADA tinha graça. Por que é assim? Não sei, mas é assim. Se tiver UM bicho que é o mais importante e não conseguir o ver, TODOS os outros se tornam sem graça, mesmo sendo muito importantes também.

Mais 10 minutos se passaram...

E eu cada vez mais ansioso né!? Qualquer coisa que eu ouvia cantando de dentro de um arbusto, pensava que era o Formicivora grantsaui ou um Polystictus superciliaris ou um Euscarthmus rufomarginatus.

Quando ia ver: Zonotrichia capensis. 

Qualquer coisa que passava voando, pensava que era o Augastes. Na maioria das vezes, nem ave era. Apenas uma abelha. E assim segui, mais longos 6 minutos, quando, de repente, vejo um Formicivora pulando nos arbustos. Antes de gritar alguma coisa e ter a possibilidade de ser um alarme falso, me certifiquei da espécie com meu binóculo e depois chamei o Bryan, o Komori e o Shiga.

Conseguimos boa foto.
Picture
Senti um leve ar de felicidade após esse momento fantástico que tivemos. Ainda mais, depois de um soco carinhoso de “parabéns” que o Bryan me deu no braço. Que sentimento bom! Como diz o Ciro, “É assim Cabrito, do inferno ao céu, em questões de segundos”. Vai vendo.

Continuamos andando pela trilha e encontrando algumas espécies que ainda não haviam entrado na lista geral da viagem. Enquanto andávamos, não parei de tentar “chamar” o gravatinha (Augastes lumachella).

Com certeza tentei mais de 80 vezes. Sério mesmo, mais de 80 com toda certeza. Quando deu 7 e meia, decidimos voltar para não chegar muito tarde no hotel. Eu já havia desistido de tentar qualquer coisa (desliguei as duas caixas de playback), quando, de repente, o Bryan sussurra bem alto para mim – “right there, right by you/bem ai, bem do teu lado”. Quando virei para a direita: O GRAVATINHA!

Passamos, pelo menos, uns 10 minutos fotografando e observando, enquanto ele fazia o mesmo (nos observava). Deveria estar pensando “lá vem aqueles malucos de novo”. Ele “ascendeu” pouco, mas mesmo assim, deu um show. E o Komori San ainda conseguiu uma foto dele aceso, então está tudo beleza. Depois disso, foi só sorriso na cara e risadas frouxas. Tudo que fazia ou falava, era um sorriso na cara. E já falavam as coisas lá em japonês rindo. Não entendia nada do que falavam, mas devia ser algo bom.

O que UMA espécie não faz com uma pessoa né? Com 4 nesse caso.

Voltamos para o hotel, tomamos café da manhã e saímos 10 e pouquinho.

Chegamos aqui em Boa Nova por volta das 18h. Agilizei algumas coisas e saímos para jantar. Entre as “algumas coisas” que agilizei, uma delas foi para passar mais um dia aqui. Ao invés de ir para Estância no dia 1º, vamos somente no dia 2. Assim, teremos dois dias para passarinhar aqui em Boa Nova.

É lifer demais meu sinhô!

Ansiedade demais também.

Estou um pouco mais aliviado pelo fato do Josafá (guia local) estar no comando amanhã e depois. Estava precisando dessa folga mental. Tenho que me acostumar, eu sei, mas que essa folga vai ser boa, vai.

Boa Nova – BA, 30 de setembro de 2015 (Quarta-feira)
(Kody – Matchbox 20)
Nunca fui uma pessoa muito competitiva. Alguns podem pensar que sim, pois tenho minhas centenas de listas para ter uma noção de todos os números que passam pela minha vida. Mas a verdade é que não gosto de competição intraespecífica. A única competição que levo é comigo mesmo, uma competição intrapessoal. Um bom exemplo disso é que as minhas metas nunca dependem do desempenho do próximo, por exemplo; minha meta desse ano é “observar 800 aves em 2015”, e não “observar mais aves que o Joãozinho”. Outro bom exemplo: quando era mais novo e jogava videogames, às vezes, deixava a outra pessoa ganhar de propósito só para ela não ficar triste. É sério. Claro que, às vezes, eu nem precisava deixar (a pessoa ganhava por mérito mesmo). Enfim, quando pinta uma situação de competição, tento amenizar ao máximo. Se a vitória é tão importante para o próximo, e não for crucial para mim, então deixa...

Para os que não sabem, desde 2012, planejo em ser guia de Birdwatching, como o Ciro Albano, e, desde então, venho estudando para realizar esse sonho/plano. E hoje, praticamente 3 anos depois, acho que este momento está mais perto do que longe. Estou no 11º dia de expedição (Tour) com dois japoneses e um norte-americano, e estou gostando. Muito a aprender, muito a estudar, obviamente, mas está indo muito bem. Eles estão gostando, eu estou gostando.

Como não conheço essa região (Boa Nova) muito bem e como, a princípio, não vinha com eles até aqui, um guia local foi contratado, o Josafá. O cara é gente boa sabe? Só acho que ele está um pouco desconfiado. Acho que ele está me vendo como uma competição! Puta merda, só o que me faltava. A passarinhada de hoje foi muito boa, só achei que ele não sabe lidar com pessoas muito bem. Sabe dos pássaros, mas não é muito bom com gente talvez. Pode ser apenas impressão minha também. Quem me conhece sabe que sou meio estranho mesmo. Mas sei lá, é como se ele estivesse fazendo um favor para nós, como se não estivesse sendo pago para isso. Deixa isso para lá. 

Só sei de uma coisa; próximo grupo que eu trouxer, EU vou guiar. Eu vou saber como tratar meus clientes.

Pois é... mas hoje foi muito bom. 

Acho que tive aproximadamente 10 lifers.
Boa Nova – BA, 01 de outubro de 2015 (Quinta-feira)
(Meds – Placebo)
Perder a meia em campo é foda! Até hoje, isso nunca tinha acontecido comigo, mas sempre tem uma “primeira vez” para tudo né? Espero que seja a última também. Sei que não será, mas não custa sonhar.

“Como é que uma pessoa perde uma meia em campo”, muitos podem se perguntar. Perder a meia em casa, no dia-a-dia, é normal. Perdemos pelo menos uma meia do par a cada mês. Incrível isso... ninguém sabe para onde vão, apenas somem. Mas até que isso é normal, é comum. Mas a pessoa perder a meia em campo, durante uma passarinhada, uma caminhada? 

Vou explicar como foi o meu dia até esse momento para que possam compreender a situação.

Acordamos, ao meu ver, tarde, pois só saímos às 6h. Como estávamos sob o comando do guia local, quem estava ditando as regras era ele. Eu já estava um pouco impaciente com o sujeito, pois, no meu ponto de vista novamente, ele não estava tratando os meus clientes da maneira que eu julgo correta. Os clientes queriam ir para uma área nova, ele ignorava o pedido. O cliente queria ficar mais tempo fotografando um bicho, ele ignorava. O cliente queria qualquer coisa, ele ignorava, ou até pior, fazia o contrário. Na boa, o cara se fazia de doido! Não entrarei em detalhes de personalidade, ego, egoísmo, medo, ganância, ignorância etc.

Quer saber, não entrarei em detalhes, mas resumirei aos fatos; hoje de manhã fomos para a mata atrás de um bichinho (Anopetia gounellei) que ele nem sabia se queríamos e ainda é um bicho que não tem como garantir, pelo menos não nessa época do ano. Enfim, ele poderia ter tentado isso ontem. Acho que ele estava tentando enrolar no tempo. Mas beleza, passamos umas 2 horas na mata seca e, quando os japoneses finalmente estavam felizes com o bicho que estavam fotografando (Rhopornis ardesiacus), ele ficou perturbando, dizendo que já estava na hora de ir. Logo em seguida, fomos em direção à mata úmida (mata atlântica). Quando fui ver, paramos no MESMO EXATO LOCAL que ontem. Isso, depois de ter dito umas 4 vezes (no mínimo) que queríamos um local diferente. Aí é sacanagem né meu camarada!

Assim que chegamos nesse local, os clientes mesmo pediram para que voltássemos para casa e deixássemos o guia local na casa dele. Essa parte foi especialmente difícil para mim: ser o mediador dessa situação delicadíssima. Foi difícil, mas fui em frente e fiz. Ele ficou puto e também não vou entrar em mais detalhes, mas quer saber? Ô alívio! Foi a melhor decisão que fizemos. Mesmo eu não sabendo de muita coisa dessa região, os japoneses queriam que eu os guiasse. E não poderia ter dado mais certo. Ficaram muito felizes com o dia de hoje (depois que ficamos sozinhos). Por que não fizemos isso antes? Última coisa, juro: depois que eu disse que ia deixa-lo na cidade (o guia local), ele não queria ir não viu!? Foi relutante.

Está bem, parei. 

Pois é, o dia de hoje foi bem massa. É legal, cada piprídeo que eu mostro (desde o primeiro dia), o Komori San me agradece com um aperto de mão, um “Tank you” e vários sorrisos e risos frouxos. Principalmente se conseguisse uma boa foto. “Tank you very much Caio San”. Hoje isso aconteceu umas 3 vezes. Apesar de vermos menos espécies do que se estivéssemos com o guia local, pelo menos deu para curtir o momento, fotografar e, se quiser, fazer mais fotografias do mesmo bicho.
Mas é isso, hoje foi muito bom. Ontem foi bom porque tiveram alguns lifers e hoje porque passarinhamos sem pressão.

Na volta para casa, ainda tentamos o Gallinago undulata, mas não encontramos, mas encontramos o bacurau-rabo-de-tesoura (Hydropsalis torquata) e o Komori San tirou uma foto muito boa. Ele ficou bem feliz com essa foto. Se estivéssemos com o guia local, com certeza já estaríamos em casa nessa hora. Pronto, parei. Juro que não falo mais desse sujeito. É porque traumatizou mesmo. Sou um menino sensível.

Chegamos no hotel.

Banho.

Jantar no gravatazeiro (restaurante do hotel).

Fechamos e pagamos a conta de consumo.

Voltamos para a pousada.

Escritas

Tentar arrumar as malas daqui a pouco.

22h31min.
​Estância – SE, 02 de outubro de 2015 (Sexta-feira)
(Saw U leave – Lil Sad)
​Nada a declarar.

Último dia da viagem. Uma viagem memorável. Ficará para sempre na memória, ainda mais agora, com lembranças escritas: Minha primeira Tour Oficial (15 dias).

Agora são 21h21 e vou logo dormir pois amanhã acordo 4h30, vou passarinhar com a galera até umas 10, tomaremos banho, arrumaremos nossas coisas para almoçar em Aracaju e chegar no aeroporto por volta das 14h. Daí, deixo eles e pegarei a estrada para Campina Grande (uns 700Km de viagem). Devo chegar por lá quase meia noite. De boa. Tranquilo.

Hoje foi dia de deslocamento.

Teve almoço na estrada (fiquei na paranoia com um possível feijão estragado que TODOS nós comemos).

Teve passarinhada vespertina, com direito a 3 psitacídeos que não estavam na lista da viagem (Aratinga jandaya (híbridos), Diopsittaca nobilis, Aratinga aurea).

Jantar

Gorjeta de 400 pila (Ai meu deus do céu, tou rico pai!).

Sono.
Picture
2 Comments

Expedição Rio Madeira 2015

23/6/2016

0 Comments

 
Fortaleza – CE, 24 outubro de 2015 (Sábado)
(Folsom Prison Blues – Johnny Cash)
Hoje iniciou-se a “Expedição Rio Madeira” em Rondônia, próximo a Porto Velho. As “passarinhadas” (o trabalho) só inicia amanhã, mas a viagem já começa hoje. É uma convenção internacional de viajantes: o deslocamento faz parte do processo.

Nos próximos 16 dias, estarei acompanhado do amigo Felipe Arantes (Xilipe), um excelente profissional, com especialidade na Amazônia Rondoniense e Mata Atlântica do Sudeste do Brasil. Além de excelente profissional, uma ótima companhia durante esses dias de trabalho.

Como eu já havia dito antes, eu recebi essa proposta de trabalho no dia 17 deste mês e no e-mail que eu recebi estava escrito assim: “Olá Caio Brito, você poderia fazer um campo na Amazônia iniciando dia 18? ”. 

Engraçado né? Essa galera parece que está comendo maconha estragada. Quando eu vi o e-mail eu estava em Guaraciaba do Norte, na Serra Grande, Ceará, com o Wylde, em uma expedição de coleta de Hemitriccus mirandae (maria-do-nordeste) para a pesquisa de seu mestrado. Fiquei super empolgado com a ideia, obviamente, mas, tão obvio quanto isso, é que eu não iria no dia seguinte. Além dessa questão, envolveu também algumas questões éticas (“Ética Caio Brito”, que para muita gente é besteira, ou melhor ainda: NOIA).

Eu sabia que quem fazia esse trabalho há mais de quatro anos era um grande amigo. “O que será que aconteceu com ele? Por que que ele não iria nessa campanha? “, eu me indaguei. Entrei em contato com ele para descobrir o motivo, e não poderia ter um motivo melhor, ele seria pai em breve e queria curtir esse momento, desde o nascimento do pequeno. 

Ele me deu o maior apoio para que eu fosse nessa campanha. Fiquei mais empolgado ainda, mas ainda veio a terceira questão: não sou o maior especialista em aves amazônicas. Beleza, já fui para Rondônia duas vezes, já fui para a Floresta de Carajás e passei alguns dias em Manaus, mas, mesmo assim, eu não sei se eu seria a melhor pessoa para essa situação. Ah, tinha esquecido do empecilho nº 4, ou já é o 5º? São tantos... minha câmera estava no conserto e o cara só a entregaria no dia 30. Sem câmera na Amazônia não rola! Resolvendo esse empecilho e o nº 2 já estando resolvido, o 3º poderia ser resolvido também! 

Liguei para o rapaz da câmera e ele disse que poderia me entregar antes. Nesse mesmo dia, segunda-feira, dia 19, a moça do trabalho me avisou que daria para adiar a viagem até sexta (hoje). Já estava estudando, mas a partir do momento em que confirmaram a minha ida, redobrei a atenção e os estudos. Desde segunda-feira venho estudando de 8 a 12 horas por dia. Não é a solução e nem questão de milagre, mas já ajuda bastante. 

O dia em que mais estudei foi sexta: 12 horas! Acordado desde as 4h da matina. 
E nesse exato momento, a mais ou menos meia hora de Belém (dentro do avião) estou aqui escutando as vozes das aves da região no meu Ipod (acabou de tocar aqui o Celeus torquatus occidentalis). Será que o verei?

Agora é só ficar de boa, relaxar e curtir essa Amazônia espetacular (o pouco que ainda resta de Amazônia).

FOTOGRAFIAS da NATUREZA
A Amazônia pode chegar a ser um pouco complicada quando o assunto é fauna e flora. Há muitas espécies e muitos endemismos. Confesso que, depois de organizar algumas fotografias, gravações e escritas, ficaria um pouco difícil eu organizar todas elas nos respectivos dias em que elas foram feitas. Por este motivo, colocarei aqui, tudo de uma só vez, algumas das espécies que vi (e fotografei) durante esta expedição. Algumas delas, as mais marcantes, aparecerão mais adiante nos dias em que elas foram realmente feitas. Assim como alguns links de listas de espécies e gravações sonoras.
AS AVES
Broad-winged Hawk (Buteo platypterus) - Gavião-de-asa-larga
Red-necked Woodpecker (Campephilus rubricollis) - Pica-pau-de-barriga-vermelha
Amazonian Umbrellabird (Cephalopterus ornatus) - Anambé-preto
Amazonian Umbrellabird (Cephalopterus ornatus) - Anambé-preto
Red-headed Manakin (Ceratopipra rubrocapilla) - Cabeça-encarnada
Red-headed Manakin (Ceratopipra rubrocapilla) - Cabeça-encarnada
Ringed Antpipit (Corythopis torquatus) - Estalador-do-norte
Ringed Antpipit (Corythopis torquatus) - Estalador-do-norte
Green-and-rufous Kingfisher (Chloroceryle inda) - Martim-pescador-da-mata
Variegated Tinamou (Crypturellus variegatus) - Inhambu-anhangá
Black Caracara (Daptrius ater) - Gavião-de-anta
Madeira Stipple-throated Antwren (Epinecrophylla amazonica) - Choquinha-do-madeira
White-throated Antbird (Gymnopithys salvini) - Mãe-de-taoca-de-cauda-barrada
Double-toothed Kite (Harpagus bidentatus) - Gavião-ripina
Dot-backed Antbird (Hylophylax punctulatus) - Guarda-várzea
Peruvian Warbling-Antbird (Hypocnemis peruviana) - Cantador-sinaleiro
White-browed Hawk (Leucopternis kuhli) - Gavião-vaqueiro
White-browed Hawk (Leucopternis kuhli) - Gavião-vaqueiro
Ocellated Crake (Micropygia schomburgkii) - Maxalalagá
Short-crested Flycatcher (Myiarchus ferox) - Maria-cavaleira
Razor-billed Curassow (Pauxi tuberosa) - Mutum-cavalo
Short-tailed Pygmy-Tyrant (Myiornis ecaudatus) - Caçula
Buff-cheeked Tody-Flycatcher (Poecilotriccus senex) - Maria-do-madeira
Buff-cheeked Tody-Flycatcher (Poecilotriccus senex) - Maria-do-madeira
Madeira Parakeet (Pyrrhura snethlageae) - Tiriba-do-madeira
Madeira Parakeet (Pyrrhura snethlageae) - Tiriba-do-madeira
Long-tailed Potoo (Nyctibius aethereus) - Mãe-da-lua-parda
Green-tailed Goldenthroat (Polytmus theresiae) - Beija-flor-verde
White-breasted Antbird (Rhegmatorhina hoffmannsi) - Mãe-de-taoca-papuda
White-breasted Antbird (Rhegmatorhina hoffmannsi) - Mãe-de-taoca-papuda
Rufous-faced Antbird (Myrmelastes rufifacies) - Formigueiro-de-cara-ruiva
Rufous-faced Antbird (Myrmelastes rufifacies) - Formigueiro-de-cara-ruiva
Eastern White-bellied Antbird (Sciaphlylax pallens) - Formigueiro-de-cauda-baia
Ruddy-tailed Flycatcher (Terenotriccus erythrurus) - Papa-moscas-uirapuru
Rufescent Tiger-Heron (Tigrisoma lineatum) - Socó-boi
Rufescent Tiger-Heron (Tigrisoma lineatum) - Socó-boi
Cinereous Antshrike (Thamnomanes caesius) - Ipecuá
White-throated Tinamou (Tinamus guttatus) - Inhambu-galinha
Solitary Sandpiper (Tringa solitaria) - Maçarico-solitário
Dwarf Tyrant-Manakin (Tyranneutes stolzmanni) - Uirapuruzinho
Common Scale-backed Antbird (Willisornis poecilinotus) - Rendadinho
Spotted Puffbird (Bucco tamatia) - Rapazinho-carijó
OUTROS ANIMAIS
Tayra (Eira barbara) - Irara
Black Agouti (Dasyprocta fuliginosa) - Cutia
Tayra (Eira barbara) - Irara
White-lipped Pecary (Tayassu pecari) - Queixada
Amazon Red Squirrel (Sciurus sp.) - Esquilo-vermelho-da-amazônia
Peruvian Spider-Monkey (Ateles chamek) - Macaco-aranha-peruano
Butterfly
Butterfly
Butterfly
Nova Mutum, Porto Velho – RO, 25 de outubro de 2015 (Domingo)
(Wild Horse – Rolling Stones)
Na Amazônia... quem diria!

E no primeiro dia de passarinhada aquela mistura de sentimentos; uma alegria imensa de estar aqui, uma empolgação extraordinária por estar escutando bichos incomuns para a minha realidade, mas, ao mesmo tempo, uma grande frustação por não saber alguns bichos que estavam cantando. É uma sensação muito ruim não saber o que está ao seu redor. Quem é passarinheiro sabe bem do que estou falando. Às vezes, chega até a doer no peito de tanta angustia. Para amenizar essa sensação, estava gravando TUDO que escutava ao meu redor, até os bichos que eu já sabia. Vez por outra, alguma novidade acaba cantando no fundo da gravação do bicho conhecido. 

Em geral, o primeiro dia já foi sensacional e sinto que as coisas melhorarão. Vamos passarinhar alguns dias a tarde e em nossos dias de folga. Passarinhadas sem compromisso rendem bastante. Às vezes rendem até mais do que as que tem algum compromisso (metodologia, objetivos, alvo etc.). Hoje só não fomos passarinhar porque estávamos mortos de cansado de ontem e queríamos descansar. 

Depois do almoço descansamos até umas 16h00 e, a partir daí, começamos a planilhar os dados (listas) que coletamos (fizemos) hoje. Enquanto isso, o Felipe foi me ajudando com as gravações não identificadas. Ficamos fazendo isso até umas 20h00 e fomos jantar. Comi um açaí na tigela e uma tapioca com manteiga. Bom demais o açaí daqui. A parada é consistente mesmo. 

Depois que cheguei, terminei de planilhar os dados e agora vou dormir que amanhã acordo as 03h30. 

​(Agora são 22h00)

Nova Mutum, Porto Velho – RO, 26 de outubro de 2015 (Segunda-feira)
(Gimme Shelter – Rolling Stones)
Segundo dia de campo e já estava demorando para acontecer algo comigo. Não foi maribondo, não foi abelha, mas inchou! Estava voltando do primeiro ponto de escuta hoje de manhã e me segurei num galho para me apoiar. Quando menos espero, uma pontada na parte de dentro do dedo indicador esquerdo. Olhei calmamente e vi que era uma formiga vermelha. Olhei por mais ou menos meio segundo antes de a retirar. 

1x0 para Amazônia. 

Para ser bem sincero, eu nem me incomodo muito com essas coisas. Contanto que a glote não feche, a dor a gente aguenta. 

Hoje de manhã, saímos pouco antes das 4h00 pois iriamos atravessar o Rio Madeira, e aí já é uma logística mais trabalhosa, que envolve atravessar de voadeira (barquinho). Esse negócio de rios extensos/antigos na Amazônia é uma loucura! Uma margem possui certas espécies enquanto a outra margem possui as espécies irmãs (ou próximo disso). Um bom exemplo é que ontem eu vi o Lepidothrix nattereri na margem direita e hoje eu vi seu “irmão”, o Lepidothrix coronata. Bichos que foram separados a milhões de anos e acabaram se especiando*.  Esse é um dos motivos pelo qual essa região que estamos estudando possui mais de 600 espécies registradas em uma área relativamente pequena.

Além de L. coronata, que foi um puto lifer para mim, e ainda deu para ver ele bem (o macho) e fazer algumas gravações, tive outros lifers simpáticos nos primeiros momentos da manhã: Pachyramphus minor, Selenidera reinwardtii, Myiozetetes luteiventris, dentre outros.

Depois do campo, almoçamos e viemos para casa “relaxar o esqueleto”, como diz o amigo Xilipe. Identificamos as gravações que fiz essa manhã, tomamos um café da tarde e fomos para uma mata aqui perto passarinhar sem compromisso (uma passarinhada despretensiosa). Para uma passarinhada despretensiosa de quase duas horas, até que rendemos bem, chegando a fazer uma singela lista de 50 espécies.

Vou marcar aqui no meu guia alguns bichos que vi hoje e vou já dormir.

Hora: 21h17min.
Nova Mutum, Porto Velho – RO, 28 de outubro de 2015 (Quarta-feira)
(Spectrum – Florence and The Machine)
Hoje foi nosso dia de folga (um dos nossos dias de folga). Ao total teremos quatro dias de folga nesses 15 dias de campo. É uma folga a cada três dias de campo. Acho que toda consultoria ambiental deveria ser assim. Não falo isso por preguiça nem nada, é tanto que hoje, mesmo sendo nosso dia de folga, acordamos de madrugada para passarinhar. Falo isso pois acho vantajoso em diversos aspectos: 

1. Temos a oportunidade de descansar o esqueleto que, querendo ou não, faz com que a gente vá a campo com mais gás nos dias de trabalho. Mais descansados; 

2. Nos dá mais tempo de planilhar os dados coletados nos censos; 

3. Temos a oportunidade de identificar as gravações duvidosas realizadas em campo; 

4. Podemos conhecer novas áreas durante as passarinhadas despretensiosas; 

5. E, para quem gosta, podemos tomar uma cervejinha de leve para amolecer os músculos. Querendo ou não, acaba sendo melhor do que tomar outras drogas como Dorflex©, Neosaldina©, etc.

E foi exatamente isso que fizemos ontem; tomamos umas cervejas de leve...

Ontem foi como um dia de campo qualquer. Saímos por volta das 4h, pegamos os auxiliares (Isac e Antônio) e fomos à luta. 

​Mas como qualquer bom ornitólogo de campo sabe: um dia de campo NUNCA é igual ao outro.

E assim foi: vi, pela primeira vez na minha vida, o Anambé-preto (Cephalopterus ornatus). Momento fantástico! O bicho é gigante! Pelo menos, bem maior do que eu via no guia de campo e do que eu imaginava. 
Picture
Estava no segundo ponto de escuta observando um bando de mais ou menos quatro Anambés-pombo (Gymnoderus foetidus), que já é um bicho, desculpe os termos, foda, quando, sem querer, vi o Anambé-preto! Estava lá, os observando com meu binóculo, quando, de repente, bato os olhos em um Anambé-pombo maior que o normal, e, ainda por cima, com o olho brancão. “Esse Gymnoderus ta estranho” eu pensei... “Esse Gymnoderus é Cephalopterus!!”, eu pensei dois milésimos depois. Putz meu irmão! Tenho que fotografar esse bicho... ninguém vai acreditar em mim se eu falar. Nesse momento minha câmera estava guardada dentro da mochila por causa da longa caminhada que fizemos para chegar ao ponto antes do sol nascer. Por incrível que pareça ainda deu tempo de tirar a máquina da mochila e fotografar a espécie. No momento em que tirei a máquina, o bicho voou, mas fiz um playback e ele voltou. Macho e fêmea pousaram bem próximos um do outro. Bom demais! Pena que minha máquina está com o foco quebrado.
Picture
Fiz o restante dos pontos e encontrei com o Felipe na estrada de terra onde cruza a estrada de ferro Madeira-Mamoré. Cheguei no ponto de encontro um pouco depois dele pois ainda tive que andar uns 3km do último ponto até chegar lá, na estrada.

Almoçamos.

Descansamos.

Acordamos.

Tomamos tereré enquanto identificamos as minhas gravações matinais e, por volta de 16h30 fomos passarinhar despretensiosamente na mata do Polo. Lista de espécies dessa passarinhada.

Voltamos para casa, tomamos um banho e fomos jantar. Tomamos uma cerveja na estação de trem (eu, ele e Lissa).

Entre os vários assuntos abordados o que mais marcou foi sobre a “Energia Limpa” dessas hidrelétricas, que não poderia ser mais SUJA; corrupção, ganancia, crueldade e desumanidade dessas obras e das “pessoas” que estão por trás. 

Esses assuntos me afetam de tal maneira, que passo dias remoendo. Às vezes é melhor nem saber... 

Depois do jantar, voltamos para casa, deixamos a Lissa e fomos para um bar tomar a "saideira" e jogar sinuca (2x1 para mim).

Fomos dormir 2h00 da manhã e acordamos hoje ás 05h00. Gravei um Troglodytes musculus clarus aqui em frente ao alojamento enquanto tomava aquele cafezinho para acordar.

Passarinhamos de 6h30 até umas 9h30 e voltamos para casa. Descansamos até a hora do almoço. Lista de espécies dessa passarinhada.

E agora, 16h30, já planilhei todas as minhas listas e gravações.

Ave do dia: Cephalopterus ornatus.
Nova Mutum, Porto Velho – RO, 29 de outubro de 2015 (Quinta-feira)
(Terral - Ednardo e o Pessoal do Ceará)
Nem tudo é sempre do jeito que queremos né? Se pudesse escolher, eu passarinharia todo dia e toda hora enquanto estivesse por aqui, mas como o universo não funciona assim, seria difícil de se concretizar.

​Que enrolação da porra para dizer: Hoje choveu!

Saímos aqui da base na maior chuva do mundo, mas, mesmo assim, fomos até o ponto na esperança de que lá não estivesse chovendo. E na verdade não é tão difícil quanto parece disso acontecer [está chovendo aqui e lá não] já que são quase 80 km de estrada para chegar. Depois de mais de uma hora de viagem chegamos na beira do Rio Madeira e, por incrível que pareça, não estava chovendo, não tinha chovido, e parecia que não choveria mais. Sendo assim, continuamos com a logística de cruzar o Madeira de barquinho e pegar o carro do outro lado. Encurtando a conversa: mal acabei o primeiro ponto de escuta e a chuva iniciou (eram 06h15). Ela começou fininha, mas foi engrossando e até 06h25, ela já estava com força total. Ainda no início, saquei minha capa de chuva e guardei todos os equipamentos na mochila. Coloquei a mochila e cobri tudo com minha capa. Deixei só minha cabeça do lado de fora do capuz para sentir a água fria amazônica no rosto. Emprestei minha outra capa de chuva para o Seu Antônio. 

Ficamos na trilha esperando o Felipe por uns 10 minutos, mas pense nuns 10 minutos bem aproveitados: relaxando na chuva da Amazônia Rondoniense (1ª vez que faço isso esse ano... até porque a última vez que vim à Rondônia foi em 2013). 

Depois que o Xilipe chegou, ainda esperamos quase 2h na margem esquerda para ver se a chuva passava para passarinharmos. O certo era voltar logo para casa, mas o verme de passarinhar é sempre maior.

A chuva não parou. 

Voltamos para casa. 

Cochilo antes do almoço.

Tombamento de gravações/planilhamento de dados.

Passarinhada vespertina.

Casa.

Mag-Nutre. 

Casa / Banho / Sono. 

Listas no E-bird:
1
2 
Nova Mutum, Porto Velho – RO, 30 de outubro de 2015 (Sexta-feira)
“Tem que rir enquanto tem dente...” frase que Xilipe falou na Estação de Trem (restaurante) hoje durante uma longa conversa que tivemos sobre a vida. 

Algo a se pensar... pensar com muita calma.

​Vou dormir que amanhã acordamos as 3h20 novamente.
Nova Mutum, Porto Velho – RO, 01 de novembro de 2015 (Domingo)
(Do I Wanna Know – Arctic Monkeys)
Acabei de receber um e-mail da minha mãe, respondendo um que eu havia enviado de manhã. O motivo do e-mail foi para explicar que passarei 7 dias sem comunicação com o mundo... 7 dias sem internet e sem celular. 

Neste e-mail que ela mandou, chamou atenção à minha obsessão por números: “Você está o verdadeiro homem que calculava! No bilhete, a vida se resume a números”. Talvez ela esteja certa, acho que sou muito ligado a números e contagens, mas com certeza, minha vida não se resume a isso. Há um pouco de sentimento entre um número e outro. Às vezes até uma reflexão acontece entre essas inúmeras contagens. Mas para ser bem sincero, muitas vezes, prefiro nem pensar. Pensar dói, refletir dói! Quanto mais eu conheço/aprendo/sei, mais nojo tenho dos seres humanos! A cada dia tenho mais nojo! Pensar que estão dispostos a colocar milhões/milhares de outras pessoas na miséria para ter mais dinheiro, mais poder! E aqui, em Nova Mutum, estou tendo uma pequena visão disto. Para quem não sabe, Nova Mutum foi construída pois a outra Mutum [Velha Mutum] está debaixo d’água. Está debaixo d’água por causa de usinas hidrelétricas, aquelas que geram energia limpa sabe? Só não sei o que significa esse “limpa”. Milhares de hectares de floresta amazônica de terra firme inundados, o extermínio de espécimes de espécies dependentes de várzea, igapó e terra firme, o bloqueio de percursos de espécies aquáticas (influenciando assim no ciclo de vida de algumas delas), o impacto social, o impacto ambiental, o impacto socioambiental, etc. Se esses e muitos outros impactos forem considerados “limpos”, então é isso mesmo. Usina hidrelétrica Jirau e Santo Antônio: a energia limpa do Brasil. 

Não vou prolongar este assunto agora pois pretendo falar sobre tudo isso com mais detalhes depois. Lembrar de falar também: 
- Como Nova Mutum vai ser uma cidade fantasma;
- Como as pessoas são tratadas como peças de uma grande máquina que, quando estiverem com defeito ou problema são jogadas fora e/ou trocadas. Se a peça “quebrar”, dá no mesmo; troca também e depois de meia hora a máquina já está funcionando novamente.

“Quebrar” que eu digo é “morrer” mesmo. Meia hora depois, tudo volta ao normal...

Me distrai um pouco. Acho que o assunto de uns dias atrás ainda está remoendo.

Hoje foi nosso dia de folga e acordamos um pouco mais tarde. A ressaca me pegou de jeito. Quem mandou tomar mais de meio litro de “Old César”? Começamos a tomar umas aqui em casa e depois fomos para um “piseiro” em Jaci-Paraná. Encurtando a história, o Xilipe foi ameaçado de morte e uns 10 minutos depois eu também fui ameaçado. A melhor opção seria voltar para casa mesmo. Se passamos uma hora foi muito. 

​No mais, é isso... daqui a pouco iremos para outro alojamento em Abunã. Como já falei, lá não terei internet nem rede de telefone. Talvez uma oportunidade para escrever mais?
Abunã, Porto Velho – RO, 02 de novembro de 2015 (Segunda-feira)
(Shine on You Crazy Diamond – Pink Floyd)
Engraçado, nem parece que amanhã é meu aniversário. Acho que era para eu estar um pouco chateado por não estar em casa com meus amigos e minha família. Mas a verdade é que eu estou bem tranquilo por aqui mesmo. Estou feliz por estar aqui, onde não tenho que dar satisfação a ninguém. Um lugar onde quem implora por “satisfação” sou eu... com os pássaros. Todo dia vou dormir pedindo para que o “amanhã” seja repleto de acasos e encontros. 

Falar em “encontros e desencontros”, hoje, eu e o Felipe fomos passarinhar despretensiosamente á tarde e vimos um dos bichos que eu mais queria ver por aqui, a “Maria-do-Madeira” (Poecilotriccus senex)! Com certeza está entre os “Top 5” bichos da viagem. Se duvidar, talvez o que tive a maior satisfação em ver e gravar.
Picture
Para quem não entende, certamente verá um bicho pálido, sem graça e sem sal, mas para mim é (era) um dos bichos mais esperados do oeste amazônico (da “Amazônia ocidental”). Além de ter o visto, consegui gravar seu canto e chamado e ainda consegui uma fotografia mais ou menos. Acredito que o chamado que gravei ainda não era conhecido, pelo menos não publicamente. 

Gravação 1
Gravação 2
Gravação 3

Vou tentar descrever este sentimento fazendo uma analogia: é como se fosse a Disney para uma criança de 10-12 anos, ou ir para o show daquela sua banda favorita, ou conseguir “ficar” com aquela menina que você desejava a algum tempo, e por aí vai. 

​Sim, pois é, acho que meu aniversário aqui vai ser tranquilo. No dia seguinte temos folga, então vamos ver o que pode acontecer. Por enquanto vou “escovar o marfim” (como diz o Xilipe) e me preparar para dormir.

São 21h45min.

Outra coisa boa que esqueci de dizer é que vou estar sem internet e sem sinal de celular por pelo menos mais cinco dias, ou seja, no dia do meu aniversário, estarei incomunicável. 

Que beleza...

Ave do dia [e da viagem]: Poecilotriccus senex.
Picture
​Abunã, Porto Velho – RO, 03 de novembro de 2015 (Terça-feira)
(Machine Head – Bush)
Às vezes fico na dúvida se afinal tenho sangue ruim ou se meu sangue é bom. Geralmente quando vou a campo com colegas, muitos, se não todos, pegam carrapato e eu muitas vezes saio limpinho ou, no máximo com um ou dois. Hoje já catei o segundo da viagem, então espero que seja o último. O engraçado é que o Felipe não pegou nada, ou seja, o cara é pior do que eu! Um tirei do quadril enquanto planilhava os dados de campo no computador e o outro tirei hoje, no banho, enquanto passava sabonete nas costas. 

Hoje, enquanto apagava as fotos que tirei em campo pela manhã, perdi um pouco a paciência com a câmera. Tirei 879 fotos desde a recarga de ontem e tenho que optar entre a foto ruim e a menos ruim. Faz algum tempo que estou tendo problemas técnicos com ela, acho que desde que comprei o corpo novo (Canon 7D Mark II).  Acredito muito que ela veio com defeito de fábrica. Não importa o que a pessoa faça, a câmera não “fecha o foco”. Vários amigos já testaram e concordam. Dessa vez não é problema com “a peça que está atrás da câmera”. 

Enquanto apagava as fotos ruins (quase todas), decidi, por vez, escrever uma carta para a Canon. Agora ela já está escrita e só vou esperar um local com internet para enviar (depois da minha mãe dar aquela velha revisada no texto, é claro). Geralmente os gringos respeitam bem o consumidor. Não é essa palhaçada do Brasil que, se a câmera vier com defeito, o problema é do cliente. Mas também tem a questão dos consumidores gringos não serem “espertinhos”. Enfim, deixa isso para lá. Até agora já passei por mais de 20 situações no Brasil onde “perdi” em todas! E já passei por umas três nos EUA onde resolveram tudo da melhor maneira possível. 

Ah, deixa isso quieto, vamos esperar para ver no que vai dá (acredito muito que tudo será resolvido da melhor maneira possível).

Amanhã é meu aniversário. 

Ave do dia: Ceratopipra rubrocapilla. 

Picture
Abunã, Porto Velho – RO, 04 de novembro de 2015 (Quarta-feira)
(Time – Pink Floyd)
São 23h, hoje ainda é meu aniversário (grande coisa) e amanhã acordarei ás 5h para irmos passarinhar na fazenda Santa Carmem (uma mata de terra firme bruta que fomos averiguar hoje). Amanhã é nosso dia de folga e, por isso, vamos passarinhar nesse local. Levarei meus equipamentos como de praxe, mas, sinceramente? A minha vontade era de deixar a minha máquina fotográfica aqui no alojamento. Hoje ela conseguiu me tirar do sério de verdade! Na verdade, ela e o cabo do meu gravador me tiraram do sério, mas com certeza ela foi o motivo principal. 

Hoje o dia foi um pouco mais puxado que os outros: acordamos as 3h30 para podermos fazer tudo, sair de casa as 4h07 e estar no ponto as 4h50. Fizemos isso, pois hoje queríamos começar pelo final do transecto. Ao invés de fazer como sempre, começar em 50m e acabar os pontos de escuta perto dos 2250m, fizemos de outra maneira. Chegamos no início do transecto uma hora antes para poder andar até o 4000m ainda no escuro e começar os pontos de escuta de lá. Em outras palavras fiz um “cooper” na Amazônia de pelo menos, 8km. Estou bem! 

Geralmente, as pessoas só veriam coisas negativas em tudo isso que falei: 
1. Acordar cedo (acordar muito cedo); 
2. Andar pra caramba; 
3. Tudo isso num calor dos infernos (se é que o inferno chega a ser tão úmido assim). 

Mas a verdade é que SEMPRE há recompensas nisso tudo. Se não fosse difícil, não teria graça! 

Hoje tive como recompensa e presente de aniversário, ainda no escuro, as 5h15, um TATU-CANASTRA!!! Acho que dispensa qualquer explicação né? O bicho é gigante! Nunca parei para imaginar. Pense num susto grande. Enquanto estávamos andando (eu e Lalá) numa passada rápida para chegarmos aos 4000m antes de clarear, um vulto grande sai do mato para dentro da trilha. Quando joguei a luz da lanterna, era o bicho! Fantástico! Quando essas coisas acontecem comigo, fico pensando um monte de coisas: quantas pessoas na face da terra já viram um bicho desses em vida livre? Quando será que verei um bicho desses novamente? Será que um dia vejo esse bicho de novo? Às vezes penso que nunca mais. A verdade é que não tem como saber. O Felipe já veio para essa região mais de 15 vezes, ou seja, já passou, pelo menos, 230 dias em campo nesta região e nunca viu. 

Não sei se um dia o verei novamente, mas por enquanto prefiro pensar que foi um presente de aniversário. Agradeço ao acaso pelo presente. 

Por outro lado, também tive alguns contratempos no meu aniversário. Basicamente relacionados aos meus equipamentos de trabalho. A algum tempo ando insatisfeito com o meu equipamento fotográfico. Como já falei, ele não está “fechando o foco” no assunto. Não foca, não crava, não espoca! Para resolver esse problema levei-a para um cara em Fortaleza para consertar. O foda é que depois que a peguei, além dela continuar com o mesmo problema, agora, vez por outra, enquanto eu estou tentando focar ela trava! E hoje apareceu uma novidade só para acrescentar mais problemas; apareceu uma mensagem que nunca havia visto antes: “Err 01: Comunicação entre câmera e objetiva incorreta. Limpar contatos objetiva”. O pior é que isso aconteceu umas 3 vezes só hoje! Me tirou do sério para caramba. E como se isso já não bastasse, nas cinco últimas gravações que fiz, começou a dar mal contato no cabo do microfone. Fiquei muito puto quando juntou tudo isso. Vou até parar de falar disso para não lembrar...

Mesmo assim, a vontade é nem levar a máquina amanhã.

Bicho do dia: Tatu-canastra (Priodontes maximus).

Almoço porreta!

Cochilo maciço.

Gravações tombadas.

Passarinhada na fazenda Santa Carmem!

Compra de cervejas no Mota!

Jantar na dona Rute (Dona Roots).

Birita em casa.

Dormi: 23h40.
Abunã, Porto Velho – RO, 05 de novembro de 2015 (Quinta-feira)
Hoje foi o dia dos mamíferos! 

Impressionante como nós, ornitólogos/observadores de aves “temos sorte” para ver os mamíferos em campo. E na minha opinião, não podíamos registrar de maneira melhor (de maneira mais completa/efetiva): sempre que possível, fotografamos o máximo possível, e se o bicho estiver vocalizando, aproveitamos para fazer umas gravações, além de observar o comportamento do animal com binóculo. 

​Na passarinhada dessa manhã, além das mais de 60 espécies de aves observadas, registramos dois mamíferos, com fotografias e gravações; a Queixada (Tayassu pecari) e o Macaco-aranha aqui da região (Ateles chamek). Fiz umas quatro gravações de mais de 3min de um filhote de Macaco-prego que estava chamando pelos pais em uma árvore isolada. Sei que eram os pais pois o Felipe conseguiu boas fotografias dos dois adultos que estavam em outra árvore. Sei que era um macho e uma fêmea pois um tinha pênis e outro tinha as mamas mais desenvolvidas. E sei que eram os pais por causa do olhar de preocupação que só um pai e uma mãe tem pela cria. Juntando as fotos do Felipe com minhas gravações, o registro não poderia ter ficado mais completo (na minha opinião, isso vale ainda mais que uma coleta).
Na volta para o carro nos deparamos com um bando de, pelo menos, umas 100 queixadas. Naturalmente registramos com fotos e gravações. Fiz uma foto e duas gravações, uma de 3min e outra de quase 7min, onde é possível escutar os “estalos” que elas fazem e dá para ouvir grunhidos e o barulho que eles fazem correndo pelo mato, quebrando tudo pela frente. 

Quando finalmente conseguimos sair do mato, já eram quase 13h. O Felipe ainda parou no caminho, ainda dentro da fazenda Santa Carmem, para dar um mergulho rápido num córrego de água limpa. Para ter uma noção do tamanho desta fazenda, depois que entramos na porteira principal ainda andamos mais de meia hora de carro para chegar onde queríamos passarinhar, numa área de manejo de retirada de madeira legalizada. Essa área tem mais ou menos 12km de “fundura” e pelo menos quatro vezes maior em comprimento. É uma área gigantesca de floresta Amazônica de terra firme. E é isso que os bichos que encontramos lá nos indicam (Ex: Rhegmatorhina hoffmannsi). 

Antes de sair da fazenda, falamos com o Sandro, o rapaz que cuida da propriedade e que nos deixou (permitiu) entrar. Agradecemos e aproveitamos para mostrar um mutum que havíamos fotografado no início da trilha. (Quando chegamos hoje bem cedo ele falou meio num tom de desafio: “quero ver uma foto de mutum, viu”).

Chegamos em Abunã, almoçamos e cochilamos até o final da tarde, aproveitando bem o nosso dia de folga. Eu acordei as 16h10 e o Felipe mais ou menos meia hora depois. 

Passamos o resto do dia tomando tereré, planilhando dados, conversando e escutando músicas.

Bicho do dia: Tayassu pecari.

Para muita gente teria sido o macaco-aranha. Para mim também seria, mas é porque a situação, o momento com as queixadas foi tão forte. Além de ver uma fêmea com uns 3 filhotes por mais de um minuto, deu para sentir o cheiro fortíssimo do bando passando bem perto de nós e teve o “boom” de adrenalina que senti. O medo que já tenho de porco selvagem... e eles poderiam ter corrido em nossa direção e sem querer ter nos atropelado. No final da segunda gravação talvez dê para sentir isso um pouco. 

Abunã, Porto Velho – RO, 06 de novembro de 2015 (Sexta-feira)
(Ain’t no Sunshine – Bill Withers)
De todos os dias de campo, talvez hoje tenha sido o dia mais improdutivo por causa do tempo. Estava aquele famoso “chove e não molha”. Não estava chovendo o suficiente para encerrar a metodologia, mas também não estava no tempo ideal para tirar o microfone da mochila para fazer algumas gravações. É tanto que hoje, infelizmente, não fiz nenhuma gravação. Mas mesmo tendo sido um dia “improdutivo”, vi algumas espécies que ainda não tinha visto nessa campanha, e também vi uma que nunca havia registrado antes; o Martinho-pescador-do-mato (Chloroceryle inda). Além de ter visto e fotografado ele, consegui ver e fotografar pela primeira vez, o Inhambú-anhangá (Crypturellus variegatus). 
Não fomos passarinhar a tarde porque desde a hora do almoço até mais ou menos umas 15h, não parou de chover. Dormi de 12h10 até umas 14h30, planilhei os dados do campo de hoje, escrevi um pouco e comecei a organizar umas gravações que fiz em Rondônia em 2013, quando vim para a Amazônia pela primeira vez com o Arnaldo. Já estava na hora de dedicar um tempinho para elas. O Felipe está me ajudando para caramba com isso. Para se ter uma noção tem bicho que gravei que eu nem sabia que um dia tinha chegado tão perto, como o Gavião-miudinho (Accipiter superciliosus) e o Saurá-de-pescoço-preto (Phoenicircus nigricollis), que, na época, gravei pensando que era algum papagaio. Foi muito massa (legal) “descobrir” essas novidades. 

Organizei mais de 80 gravações hoje. E acabei tomando umas cervejas também. O tereré não bastou para essa quantidade de trabalho.

Jantei na Sorveteria da Dona Roots e vou anotar aqui os lifers que consegui fotografar até agora.

1.    Tyrannopsis sulphurea
2.    Hypocnemis peruviana
3.    Myiozetetes luteiventris
4.    Bucco tamatia
5.    Corythopis torquatus
6.    Notharchus tectus
7.    Polytmus theresiae
8.    Philydor sp.
9.    Poecilotriccus senex
10.    Rhytipterna immunda
11.    Gymnopithys salvini
12.    Drymophila devillei
13.    Myrmeciza hemimelaena pallens
14.    Crypturellus variegatus
15.    Gymnoderus foetidus
16.    Selenidera reinwardtii
17.    Cephalopterus ornatus
18.    Attila citriniventris
19.    Schistocichla rufifacies
20.    Cyanerpes nitidus
21.    Heliomaster longirostris
22.    Galbula cyanescens
23.    Myrmotherula menetriesii
24.    Campephilus rubricollis
25.    Epinecrophylla haematonota amazonum 
26.    Mitu tuberosum
27.    Chloroceryle inda

​
Ave do dia: Crypturellus variegatus.
Picture
Abunã, Porto Velho – RO, 08 de novembro de 2015 (Domingo)
Último dia em Abunã e o último dia de campo. 

O último dia de todas as expedições são assim, principalmente quando é em um local ermo desse mundo, como as terras remotas da Amazônia rondoniense. É uma mistura de saudade (de casa, da Dona Roots, do sorvete da Dona Roots, dos pássaros) com alívio de estar voltando para casa, para a família, para a mamãe, para o papai, para a Liz, para o Otto. 

Ontem não escrevi para mostrar que eu conseguiria ficar sem planilhar e sem escrever por um dia! Confesso que não fiquei muito bem. É tanto que demorei bem mais para adormecer. Demorei por volta de 6–8min. Mas eu tenho que treinar essas coisas: “ficar mais de boa”, como diria o meu amigo Bob.

Como hoje foi meu dia de despedida, eu e o Felipe estamos bebendo até agora (23h20) para comemorar os dias de campo, as aves e os momentos.

Amanhã acordarei as 5h00 para passarinhar em algum canto, afinal estou na Amazônia meu amigo! Espero fazer pelo menos umas 10 gravações amanhã. Se uma ficar boa, está ótimo! 
Tentamos passarinhar na fazenda Santa Carmem, mas não conseguimos falar com o Sandro. 

Lifers restantes: 

28.    Synallaxis rutilans 
29.    Tinamus guttatus 
30.    Heliornis fulica 
31.    Nyctibius aethereus
32.    Terenotriccus erythrurus
33.    Micropygia schomburgkii
34.    Buteo platypterus
35.    Myrmotherula sp. 
36.    Sciaphylax hemimelaena
37.    Hydropsalis nigrescens
38.    Trogon melanurus
39.    Tangara velia
40.    Tringa solitaria
41.    Leucopternis kuhli 
42.    Pyrrhura snethlageae

0 Comments
<<Previous

    Caio Brito

    Ornitólogo, escritor e aventureiro. Mestre em Zoologia e aprendiz da vida.

    Categories

    All
    América Do Norte
    Apresentação
    Caderno De Anotação
    Consultoria Ambiental
    Em Apuros
    Expedição Carnaval
    Fotografia
    Informação
    MAPA DO BLOG
    Natureza
    No Mato
    Plantas
    Política
    Tour Nordeste
    Tour Nordeste 2015
    Tour Nordeste 2016
    Viagens

    Archives

    November 2016
    September 2016
    July 2016
    June 2016
    May 2016
    April 2016
    February 2016
    January 2016
    November 2015
    October 2015
    September 2015
    June 2015
    May 2015
    April 2015
    March 2015

    RSS Feed

Powered by Create your own unique website with customizable templates.