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Tour Nordeste - Agosto/Setembro de 2016

15/9/2016

4 Comments

 
DIA 0
Icapuí – CE, 24 de agosto de 2016 (Quarta-feira)
(The Pusher – Steppenwolf)

Início de mais uma grande expedição pelo nordeste brasileiro, agora, com o gaúcho Paulo Fernando Bertagnolli. Paulo é agrônomo, trabalha na EMBRAPA e mora em Passo Fundo-RS. Membro do Wikiaves desde 2012, já viajou por diversas localidades do Brasil em busca de lifers. Agora foi a vez do Nordeste; com mais de 250 possíveis lifers durante o roteiro, vamos ver o que o Paulo conseguirá de novidade. Já está com uma excelente marca de 840 espécies já fotografadas.

Para quem fotografa esses seres alados, sabe do tempo e paciência que é exigido para atingir tal marca.

Boa sorte para mim, boa sorte para o Paulo...

DIA 1
Guaramiranga – CE, 25 de agosto de 2016 (Quinta-feira)
(Bicho do Mato – Som Nosso de Cada Dia)
Para iniciar a viagem, a maré não nos favoreceu muito. A seca máxima seria às 3h40min, ou seja, para pegarmos o restinho de maré seca, tivemos que acordar muito cedo. Acordamos bem cedo e saímos do hotel juntamente com os primeiros raios de sol. Chegamos na praia da Requenguela (praia de Icapuí) já com sol.

Primeiro dia é aquele negócio né? Nervosismo e ansiedade à mil. Quem é guia e se preocupa com os clientes, sabe muito bem do que estou falando.

Para me acalmar de vez, logo no início, tivemos um GRANDE SHOW das saracuras-do-mangue (Aramides mangle). Para mim, isso já é iniciar a viagem com pé direito. “Teremos uma ótima viagem!”, eu pensei. Ao total, apareceram mais de 4 indivíduos bem na beira do mangue, no limpo. Acho que haviam pelo menos 5, mas, ao mesmo tempo, só vi 4. O Paulo fez um baita registro com sua 600mm só para iniciar a viagem. Eu consegui um mero registro, mas já fiquei muito emocionado. Nunca havia tido a possibilidade de fotografá-las tão bem. Eram tantas que houve até foto com dois indivíduos no mesmo quadro. Que maravilha!
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Continuamos passarinhando pelos arredores e conseguimos fotografar também o maçarico-de-bico-torto (Numenius hudsonicus). 

Haviam diversas espécies no local, mas como o Paulo está bem focado em fotografar “lifers”, não perdemos muito tempo com espécies que ele já possui fotografia. Mesmo assim, conseguiu boas fotos de outras espécies também, como a garça-azul (Egretta caerulea). Antes de voltar ao hotel para um delicioso café da manhã, conseguimos garantir uma foto do sabiá-da-praia (Mimus gilvus). No caminho para o hotel, já no asfalto, também fotografou um rapazinho-dos-velhos (Nystalus maculatus), que também era lifer.

Tomamos nosso café da manhã na calma e, durante o café da manhã, decidimos passar na Serra da Aratanha para tentar fotografar a Araponga-do-nordeste (Procnias averano). Originalmente este bicho nem estava na rota devido à dificuldade e grande desvio que teria na viagem. Mas como tinha ido dois dias antes com o amigo Leandro Ribeiro e vimos que elas já estavam cantando, vi que seria possível e então, qualquer possibilidade valeria a tentativa.

Depois do café da manhã, pegamos a estrada...

​No meio do caminho paramos em uma lagoa no município de Aracati, que estava repleto der aves. Todas comuns para a região, mas já foram mais 2 lifers: Balança-rabo-de-chapéu-preto (Polioptila plumbea) e casaca-de-couro (Pseudoseisura cristata). Um corrupião (Icterus jamacaii) passou voando, mas não deu para fotografar. 95% de chance de que o veremos novamente, 90% que o fotografaremos.
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Continuamos por mais meia hora e paramos em outra praia (Parajuru) para tentar mais dois bichinhos que estavam na lista do Paulo: batuíra-bicuda (Charadrius wilsonia) e maçariquinho (Calidris minutilla). Havia ido nessa praia final de semana passado com meu amigo Felipe Braga (Bob) e registramos esses dois bichos, então já sabia que teria uma boa possibilidade de eles estarem por lá.

Quando chegamos no local onde havíamos registrado essas espécies, tomei um susto! Não tinha nada. Contive meus sentimentos e tive confiança e firmeza para continuar tentando achar. Andamos até o outro lado de uma salina desativada às margens do Rio Pirangi e, aos poucos, comecei a ver alguns movimentos na lama. Fomos chegando mais perto e vendo mais bichos. Resumindo, conseguimos as duas espécies! Beleza!

...ainda bem que o Paulo tem uma 600mm, porque os bichos estavam longe viu?

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Seguimos viagem, pois já estava tarde e precisávamos chegar no topo da serra antes do sol baixar muito. Acabou que nem almoçamos nesse primeiro dia para não perder tempo e poder chegar logo.

Chegamos ao local relativamente cedo, por voltas das 16h.

Não gosto de ir à araponga com clientes porque fico EXTREMAMENTE nervoso. É algo muito incerto. Muito mesmo. E como o caminho é muito complicado (só tem acesso com carro 4x4), fica naquela situação de querer muito uma recompensa à altura da dificuldade do caminho. Toquei o som da Araponga e ela demorava muito para responder. Quando respondia era de muito longe! Para ser franco, estava totalmente sem esperança de que ela fosse aparecer. E o local em que eu já a vi pousada não serviria para o Paulo fotografar pois seria muito longe. Eu acho que daria, mas cada um tem seu padrão de qualidade. Depois de quase uma hora esperando e ela cantando bem longe, eu viro as costas e começo a caminhar em direção ao carro. Quando virei para o horizonte novamente, chega aquela coisa branca voando e pousa a menos de 15m de nós. 

- MEU DEUS DO CÉU!

- AI MEU DEUS!

- OLHA!

Eu gritava baixinho para o Paulo. Ele fotografou, eu fotografei.

​Eu fiquei muito emocionado! Extremamente feliz! Nunca havia avistado uma araponga tão de perto! Sensacional! Valeu cada minuto de tensão.
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Chegamos em Guaramiranga e jantamos na Fernanda (Studio 70). Se forem por lá algum dia, digam que mandei um abraço. Pode falar que foi o Caio, filho do Serginho, neto do Major Hugo.

​Nos alojamos. Que amanhã seja um dia repleto de bons pássaros.

Lifers do dia para o Paulo:
- Araponga-do-nordeste (Procnias averano) – Maranguape-CE (1)
- Balança-rabo-de-chapéu-preto (Polioptila plumbea) – Aracati-CE (2)
- Batuíra-bicuda (Charadrius wilsonia) – Parajuru-CE (3)
- Bico-chato-amarelo (Tolmomyias flaviventris) – Maranguape-CE (4)
- Casaca-de-couro (Pseudoseisura cristata) – Aracati-CE (5)
- Chorozinho-de-chapéu-preto (Herpsilochmus atricapillus) – Maranguape-CE (6)
- Maçarico-de-bico-torto (Numenius hudsonicus) – Icapuí-CE (7)
- Maçariquinho (Calidris minutilla) – Parajuru-CE (8)
- Rapazinho-dos-velhos (Nystalus maculatus) – Icapuí-CE (9)
- Sabiá-da-praia (Mimus gilvus) – Icapuí-CE (10)
- Saracura-do-mangue (Aramides mangle) – Icapuí-CE (11)
DIA 2
Guaramiranga – CE, 26 de setembro de 2016 (Sexta-feira)
(E então – Academia da Berlinda)

Fui pegar o Paulo no hotel por volta das 5h30min e já iniciamos o dia com algumas boas aves no espaço do hotel (Alto da Serra), como o tico-tico-de-bico-preto, pica-pau-anão-da-caatinga, rabo-branco-rubro e poiaieiro-de-pata-fina. 

Passarinhamos no Hotel Remanso e voltamos para o Alto da Serra para tomarmos café da manhã antes de irmos para o Parque das Trilhas.

No Parque das Trilhas foi muito bom! Senti falta de alguns bichinhos (que acabamos pegando no outro dia), mas no geral foi ótimo. O Paulo conseguiu até foto da subespécie raríssima de Uru (ssp. plumbeicollis). Não ficou uma “fotaça”, mas para certos bichos, só de ter um registro já é grande coisa. Acabamos pegando também o garrinchão-pai-avô (Pheugopedius genibarbis), beija-flor-vermelho (Chrysolampis mosquitos) e a maria-do-nordeste (Hemitriccus mirandae), além de melhorar algumas fotografias de espécies já registradas.

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Maria-do-nordeste (Hemitriccus mirandae)
Só fomos sair do Parque por volta das 13h e já fomos direto almoçar. Almoçamos lá no bigode. Se forem por lá, digam que o biólogo cabeludo, neto do Major Hugo, mandou um abraço... e um beijo naquele bigode dele.

Descansamos e saímos para passarinhar novamente às 15h. Conseguimos fotografar o assanhadinho-de-cauda-preta (Myiobius atricaudus), canário-do-mato (Myiothlypis flaveola), pica-pau-ocráceo (Celeus ochraceus) e a tão esperada tiriba-de-peito-cinza (Pyrrhura griseipectus), xodozinho da Serra de Baturité. Não pode sair daqui sem fotografar o famoso periquito-de-cara-suja (como a chamamos na região).

Gray-breasted Parakeet (Pyrrhura griseipectus)
Ochre-backed Woodpecker (Celeus ochraceus)
Variable Epaulet (Icterus pyrrhopterus)
Depois da passarinhada vespertina, passamos no Sítio do Seu Edson e esperamos anoitecer para fotografar a Murucututu... Sucesso total!

Jantar novamente na Fernanda.

Lembrando agora, quem deu muita bobeira pra foto hoje foi o "Joãozinho" lá do Alto da Serra:

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Golden-crowned Warbler (Basileuterus culicivorus)
Lifers do dia:
- Assanhadinho-de-cauda-preta (Myiobius atricaudus) – Guaramiranga-CE (12)
- Beija-flor-vermelho (Chrysolampis mosquitus) – Guaramiranga-CE (13)
- Canário-do-mato (Myiothlypis flaveola) – Guaramiranga-CE (14)
- Casaca-de-couro-amarela (Furnarius leucopus) – Guaramiranga-CE (15)
- Garrinchão-pai-avô (Pheugopedius genibarbis) – Guaramiranga-CE (16)
- Maria-do-nordeste (Hemitriccus mirandae) – Guaramiranga-CE (17)
-  Murucututu (Pulsatrix perspicillata) – Guaramiranga-CE (18)
- Pica-pau-anão-da-caatinga (Picumnus limae) – Guaramiranga-CE (19)
- Pica-pau-ocráceo (Celeus ochraceus) – Guaramiranga-CE (20)
- Poiaieiro-de-pata-fina (Zimmerius gracilipes) – Guaramiranga-CE (21)
- Rabo-branco-rubro (Phaethornis ruber) – Guaramiranga-CE (22)
- Tico-tico-de-bico-preto (Arremon taciturnus) – Guaramiranga-CE (23)
- Tiriba-de-peito-cinza (Pyrrhura griseipectus) – Guaramiranga-CE (24)
- Uru (Odontophorus capueira plumbeicollis) – Guaramiranga-CE (25)

DIA 3
Quixadá – CE, 27 de agosto de 2016 (Sábado)
(Cosmos e Damião – Novos Baianos)

Alguns bichos deram trabalho ontem e acabamos não os achando. 

A natureza é assim mesmo: 

- “Se fosse fácil, não teria graça”, como diz nosso amigo André Grassi. 

- “A natureza não é nenhum Shopping Center”, como diz nosso amigo Ciro Albano.

Como ainda tínhamos um tempinho hoje, antes de viajar, decidimos dedicar uma manhã para tentar achar os bichos que só poderíamos pegar aqui, como o arapaçu-rajado-do-nordeste (Xiphorhynchus atlanticus) e garantir outros para ganhar tempo e lifers.

Como sempre, o Parque das Trilhas superando expectativas e salvando nos últimos minutos do segundo tempo. Conseguimos o que precisávamos e um pouco mais: arapaçu-beija-flor (Campylorhamphus trochilirostris), arapaçu-rajado-do-nordeste (Xiphorhynchus atlanticus), cardeal-do-nordeste (Paroaria dominicana), jacucaca (Penelope jacucaca) e saí-canário (Thlypopsis sordida). Para os amigos que vão muito em Guaramiranga ou que andam bastante pelo Nordeste sabem que a Jacucaca não dá mole, então registrar esse bicho, ainda mais com uma BELÍSSIMA foto, é um baita prêmio do acaso! Cris? Já fotografou a Jacucaca? Já foi quantas vezes à serra? Não é mole não ein!? Já vi algumas vezes, mas até hoje não tenho uma boa foto. Parabéns Paulo! Ficou muito boa.

Depois de uma breve caminhada matinal pelo Parque, voltamos para o hotel, tomamos café da manhã, arrumamos nossas malas e pegamos a estrada rumo Quixadá.

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Paramos duas vezes no caminho para tentar fotografar o taperuçu-de-coleira-falha (Streptoprocne biscutata), até conseguir em Caio Prado-CE (se não me engano faz parte do município de Itapiúna).
Biscutate swift (Streptoprocne biscutata)
Biscutate swift (Streptoprocne biscutata)
Biscutate swift (Streptoprocne biscutata)
Almoçamos em Quixadá, no Hotel Pedra dos Ventos (onde passamos a noite) e fomos descansar.

Como é que descansa?

Quando chego no meu quarto o Paulo me diz que tem um bando de periquitos-da-caatinga (Eupsitulla cactorum) e um gaviãozinho (Gampsonyx swainsonii) ao lado da varanda do nosso quarto. Bastou colocar o tripé e clicar até dar uma dor! Até que saiu umas fotos legais:

Pearl Kite (Gampsonyx swainsoni)
Cactus Parakeet (Eupsittula cactorum)
A passarinhada vespertina foi muito fraca, mas, mesmo assim, conseguimos garantir duas espécies, o bacurauzinho-da-caatinga (Hydropsalis hirundinacea) e garrinchão-de-bico-grande (Cantorchilus longirostris). Ainda vimos as Jacucacas novamente. Duas vezes em um dia!? Esse Paulo está com sorte mesmo. Deve estar pensando que essa “galinha” é comum por aqui. Que nem o grupo de americanos que vieram em dezembro de 2015; falamos repetidamente que seria MUITO difícil ver as Jacucacas e acabamos vendo elas umas 3-4 vezes em bandos de pelo menos 3 indivíduos. Que pena que não é sempre assim. Seria bom sempre poder mostrar essa maravilha de “galinha” para os que visitam nossa região. 
Jantamos e fomos descansar

Conheci um casal bem legal no jantar. Até hoje falo com a moça (Ilka), que me manda fotos de aves todos os dias. E pense numas fotos extraordinárias. Valeu Ilka! Prazer imenso conhecer vocês.

Um dos melhores sonos da viagem é aqui. Que pena que dura tão pouco.

​Olha um bichinho que deu uma boa aparecida hoje:

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Lifers do dia:
- Arapaçu-beija-flor (Campylorhamphus trochilirostris) – Guaramiranga-CE (26)
- Arapaçu-rajado-do-nordeste (Xiphorhynchus atlanticus) – Guaramiranga-CE (27)
- Bacurauzinho-da-caatinga (Hydropsalis hirundinacea) – Quixadá-CE (28)
- Cardeal-do-nordeste (Paroaria dominicana) – Guaramiranga-CE (29)
- Garrinchão-de-bico-grande (Cantorchilus longirostris) – Quixadá-CE (30)
- Gralha-cancã (Cyanocorax cyanopogon) – Quixadá-CE (31)
- Jacucaca (Penelope jacucaca) – Guaramiranga-CE (32)
- Saí-canário (Thlypopsis sordida) – Guaramiranga-CE (33)
- Taperuçu-de-coleira-falha (Streptoprocne biscutata) – Caio Prado-CE (34)
DIA 4
Potengi – CE, 28 de agosto de 2016 (Domingo)
(Não Quero Entrar – Adoniran Barbosa)

Saímos para passarinhar antes mesmo do sol nascer.  Em regiões de mata seca, prefiro fazer desta maneira pois o sol esquenta muito logo nas primeiras horas do dia.

Quando chegamos ao local, esperamos uns 6 minutos antes de iniciar a passarinhada. Confesso que estava difícil. Tudo MUITO SECO, os bichos respondendo pouquíssimo. Como diz o ditado, tiramos leite de pedra para conseguir fotografar os bichos que fotografamos em Quixadá. Nunca havia passarinhando em Quixadá para estar tão fraco assim. Mesmo fraco, conseguimos o que eu havia imaginado para esta localidade. Um pouco menos, claro, mas as espécies que faltaram podem ser vistas em diversas outras localidades durante a viagem.
Ferruginous Pygmy-Owl (Glaucidium brasilianum)
Eared Dove (Zenaida auriculata)
Caatinga Barred Antshrike (Thamnophilus capistratus)
Saímos do hotel bem na calma, umas 10h, depois de tomar um bom café da manhã.

Nunca tinha parado tanto em lagoas e pequenas poças de água durante uma viagem de Quixadá para Potengi. Mas é porque o Paulo estava destinado a achar os bichinhos de água que ele queria. Resumindo, a única que vale dar uma parada é uma lagoa depois da ponte de Quixelô. Pelo menos no período seco sim. Essa foi a conclusão que chegamos.

Mas é engraçado como as coisas acontecem por acaso, e depende muito da interação entre os envolvidos. Cinco minutos antes, já havíamos parado em uma lagoa bem grande em Quixelô e passamos por volta de meia hora procurando os alvos que ele queria (pato-de-crista, marreca-de-bico-roxo e paturi-preta), sem sucesso. Quando estávamos passando por essa lagoa em que paramos, acho que se eu estivesse só, não pararia, mas quando vi o Paulo esticando o pescoço para olhar, parei o carro e desci para fazer uma varredura.

Passei nada mais que 5 minutos e conclui que não havia nada de importante. Entrei no carro e comecei a seguir viagem, quando vejo um pato escuro, maior que os outros. Parei o carro novamente (100m depois) e coloquei o binoculo no bicho: era uma paturi-preta! 

- Paulo! Paulo! Paturi-preta! Paturi-preta!

Depois que o Paulo começou a fotografar a Paturi-preta...

- Caio! Caio! Marreca-de-bico-roxo! Marreca-de-bico-roxo!

Que maravilha! Dois pombos numa pedrada só, ou melhor, dois patos numa lagoa só.

Com certeza uma lagoa que vale a parada. Se tiver uma luneta então, melhor ainda.

Como minhas fotos ficaram PÉSSIMAS, vou colocar aqui o link para as fotos do Paulo:
- Paturi
- Marreca

Paramos para almoçar por volta das 14h em Iguatu.

Chegamos em Potengi no finalzinho da tarde e fomos direto no Sítio Pau Preto para tentar fotografar o bacurauzinho nos últimos raios de sol. Lá, encontramos com o Jefferson Bob e o Ian Thompson, rapaz que o Bob está guiando aqui na região.

Fizemos algumas fotos mais ou menos e fomos para o hotel para deixar nossas coisas e tomar banho.

Jantamos na casa da mãe do Bob, como sempre faço quando passo pela região. Comida maravilhosa, feita com muito amor e cuidado. Valeu dona Ivete!
Lifers do dia:
- Acauã (Herpetotheres cachinnans) – Assaré-CE (35)
- Asa-de-telha-pálido (Agelaioides fringillarius) – Quixadá-CE (36)
- Bacurauzinho (Chordeiles pusillus) – Potengi-CE (37)
- Choca-barrada-do-nordeste (Thamnophilus capistratus) – Quixadá-CE (38)
- Corrupião (Icterus jamacaii) – Assaré-CE (39)
- Formigueiro-de-barriga-preta (Formicivora melanogaster) – Quixadá-CE (40)
- Golinho (Sporophila albogularis) – Quixadá-CE (41)
- Maria-cavaleira-de-rabo-enferrujado (Myiarchus tyrannulus) – Quixadá-CE (42)
- Marreca-de-bico-roxo (Nomonyx dominica) – Quixelo-CE (43)
- Paturi-preta (Netta erythrophthalma) – Quixelo-CE (44)
- Rolinha-de-asa-canela (Columbina minuta) – Quixadá-CE (45)
- Tico-tico-rei-cinza (Lanio pileatus) – Quixadá-CE (46)
DIA 5
Potengi – CE, 29 de agosto de 2016 (Segunda-feira)
(Whole Lotta Love – Led Zeppelin)

Hoje o dia começou mais tarde para nós. Bom que pudemos tirar um pouquinho o sono atrasado. Além de acordar cedo e passarinhar o dia inteiro, gosto de manter minhas escritas atualizadas, apagar as fotos ruins (quase todas) que fiz durante o dia, passar fotos para o computador e organizá-las etc. Tudo isso acaba fazendo com que eu durma mais tarde. 

Começou mais tarde pois fomos tomar café da manhã às 6h na casa do Jefferson Bob. Ao meu ver é um pouco tarde pois estou acostumado a sair para passarinhar ainda um pouco escuro. 

Uma coisa é certa: confio 100% no Bob. Ele sabe o que está fazendo; foi nascido e criado aqui e conhece os bichos como ninguém. Se ele está falando é porque é assim! Nunca falhou! “Para que ir no escuro se o que as pessoas querem é fotografar”, ele me fala. Acho que estou mais acostumado com apenas observadores de aves e não somente fotógrafos de aves. 

Aqui eu faço do jeito dele, mas nos outros locais vou continuar indo antes do sol nascer. Para quem não gosta de acordar cedo, em 70% da viagem, o bicho pega.

Hoje passamos o dia inteiro passarinhando por Potengi mesmo. O Bob não pôde ir conosco pois estava guiando outro casal, que foram embora hoje. Amanhã ele estará conosco para dar um apoio especial.

​Está MUITO seco, mas ainda assim, deu para fotografar as espécies-alvo que estávamos precisando.

White-browed Antpitta (Hylopezus ochroleucos)
Spotted Nothura (Nothura maculosa)
Sick's Swift (Chaetura meridionalis)
Red-shouldered Spinetail (Synallaxis hellmayri)
Broad-tipped Hermit (Anopetia gounellei)
Least Nighthawk (Chordeiles pusillus)
Café da manhã, almoço e jantar na casa da Dona Ivete (mãe do Bob). Que maravilha! Estou no céu.

Lifers do dia:
- Alegrinho-balança-rabo (Stigmatura budytoides) – Potengi-CE (47)
- Bico-virado-da-caatinga (Megaxenops parnaguae) – Potengi-CE (48)
- Choca-do-nordeste (Sakesphorus cristatus) – Potengi-CE (49)
- João-chique-chique (Synallaxis hellmayri) – Potengi-CE (50)
- Papa-moscas-do-sertão (Stigmatura napensis) – Potengi-CE (51)
- Piu-piu (Myrmorchilus strigilatus) – Potengi-CE (52)
- Uí-pí (Synallaxis albescens) – Potengi-CE (53)
DIA 6
Crato – CE, 30 de agosto de 2016 (Terça-feira)
(Pequeno Perfil de Um Cidadão Comum – Belchior)
Como sempre, o Brejinho não decepciona. Mesmo com tudo seco do jeito que está, a passarinhada foi mais que agradável, com direito a 100% dos alvos garantidos. O único que faltou, mas que posso ver em outras localidades da viagem, foi o tiê-caburé (Compsothraupis loricata). É tanto que vimos um bando de 8 indivíduos na ponte de pedra em Nova Olinda. Infelizmente não conseguimos fotografar, mas ele está por aí. Acredito muito que o veremos em outras localidades da viagem. Estou apostando que o veremos em Boa Nova.

Passarinhamos até umas 10 e pouco e fomos almoçar. No caminho, ainda paramos para fotografar uns andorinhões-do-temporal (Chaetura meridionalis). Não era lifer para ninguém, mas acho que deu para todos nós fazermos boas fotos.

Depois do almoço, fomos para o hotel.

Às 15h30min saímos para passar na ponte de pedra e tentar mais uns bichinhos. Um bichinho bem interessante que vimos foi o bico-virado-carijó (Xenops rutilans). Pode-se dizer que é bem incomum no Ceará.
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Chegamos aqui no hotel às 18h30min, tomamos banho e saímos para comer na rua às 19h.

Como sempre, uma viagem dessas sempre tem “ótimas” surpresas: quando chegamos para comer na praça central, onde tem uns restaurantes legais, estava tendo uma REVOLUÇÃO CATÓLICA! Acho que o nome é novena. Desculpe se ofender alguém, mas acho aquilo muito mal-educado. Não saio por aí com caixas amplificadoras chamando as pessoas para gostarem de pássaros. Acho que essas coisas podem ser feitas de uma maneira mais respeitosa. Enquanto comíamos nossa pizza e fazíamos nossa lista de espécies do dia, mal podíamos conversar. Puta sacanagem! Enfim, não entrarei em mais detalhes.

Voltamos e aqui estou, respondendo e-mails de roteiros a serem fechados, editando algumas fotografias etc.

Dormir aqui, que amanhã o dia é longo.

Lifers do dia:
- Chorozinho-da-caatinga (Herpsilochmus sellowi) – Araripe-CE (54)
- Estrelinha-preta (Synallaxis scutata) – Araripe-CE (55)
- Fruxu-do-cerradão (Neopelma pallescens) – Nova Olinda-CE (56)
- Pica-pau-anão-dourado (Picumnus pygmaeus) – Araripe-CE (57)
- Pica-pau-dourado-escuro (Piculus chrysochloros) – Araripe-CE (58)
- Rabo-branco-de-cauda-larga (Anopetia gounellei) – Araripe-CE (59)
- Torom-do-nordeste (Hylopezus ochroleucus) – Araripe-CE (60)
- Vira-folha-cearense (Sclerurus cearensis) – Araripe-CE (61)
- Vite-vite-de-olho-cinza (Hylophilus amaurocephalus) – Araripe-CE (62)

DIA 7
Canudos – BA, 31 de agosto de 2016 (Quarta-feira)
(Roadhouse Blues – The Doors)
Quando levantei da cama e sai do quarto, o Paulo já estava no bosque do hotel fotografando andorinhões-do-buriti (Tachornis squamata) que estavam sobrevoando. Me juntei a ele e fiz algumas fotografias também. Deu para melhorar um pouco o registro.

Depois de ficarmos tontos de tanto tentar fotografar os andorinhões, fomos para uma trilha que tem no próprio hotel. Assim que saímos do portão, ficamos observando o céu para tentar avistar algum dos rapinantes que o Paulo está precisando fotografar durante a viagem. Não tivemos nenhum dos que ele estava precisando, mas, na minha opinião, tivemos algo melhor: gavião-preto (Urubitinga urubitinga). Para o Paulo, nem tanto, mas para o Ceará, muito bom! Haviam apenas dois locais de registro com fotografia até hoje (no Ceará). Agora 3.

Entramos na trilha com o pica-pau-anão-acanelado (Picumnus fulvescens) como principal objetivo, mas não obtivemos êxito. Em compensação, o Paulo conseguiu ótimas fotos do tico-tico-rei-cinza (Lanio pileatus) e eu consegui fotografar o tico-tico-de-bico-preto (Arremon taciturnus).

Pectoral Sparrow (Arremon taciturnus)
Fork-tailed Palm-swift (Tachornis squamata)
Tomamos café da manhã, arrumamos nossas malas e partimos em direção à Canudos, com parada estratégica no soldadinho-do-araripe (Antilophia bokermanni). No Arajara Park, conseguimos inclusive mais dois lifers além do soldadinho: pica-pau-anão-canela (Picumnus fulvescens) e rabo-branco-acanelado (Phaethornis pretrei).
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Seguimos viagem e paramos em Salgueiro-PE para almoçar.

Na estrada entre Salgueiro e Cabrobró ainda vimos um gavião-asa-de-telha (Parabuteo unicinctus). Sempre muito bom vê-lo pelo aqui Nordeste. 

Depois de dobrar à esquerda, saindo da BR-116 em direção a Canudos, tivemos um prêmio extra para o nosso dia. Na estrada mesmo, fizemos uma bela fotografia do bico-de-pimenta (Saltatricula atricollis).

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Decidimos não sair para jantar hoje à noite então só passamos na rua para comprar algumas besteiras no mercadinho e depois fomos ao alojamento da Reserva Biológica de Canudos.

Revisamos as espécies que havíamos registrados hoje e as localidades em que foram fotografadas, eu jantei uvas e macarrão instantâneo cru e fui dormir às 20h. Essa é uma das vantagens de não ter energia e internet no alojamento: é mais saudável. Se tivesse energia e internet, com certeza eu só iria dormir depois das dez. 

Lifers do dia:
- Pica-pau-anão-canela (Picumnus fulvescens) – Barbalha-CE (63)
- Rabo-branco-acanelado (Phaethornis pretrei) – Barbalha-CE (64)
- Soldadinho-do-araripe (Antilophia bokermanni) – Barbalha-CE (65)
- Bico-de-pimenta (Saltatricula atricollis) – Canudos-BA (66)

DIA 8
Lençóis – BA, 1 de setembro de 2016 (Quinta-feira)
(Child in Time – Deep Purple)

Acordamos às 4h20min e saímos do alojamento às 4 e meia. Passamos na casa do Cabôco, no caminho e chegamos ao buraco às 5h10, pouquíssimos minutos antes dos primeiros gritos das araras.

Esse é um dos momentos mais fantásticos da viagem: escutar as primeiras “gritarias” e, alguns minutos depois, ver os primeiros pontinhos pretos sobrevoando, sempre aos pares (quase sempre).

Para fotógrafos, é sempre um pouco mais tenso porque ficam ansiosos de conseguir logo uma foto (ou melhor, uma boa foto). Sempre digo a mesma coisa: 

– Relaxa que é IMPOSSÍVEL você sair daqui sem uma excelente foto! Tenha paciência, curta o momento.

Mas sempre parece que eu estou falando grego, ou qualquer outra língua que não é compreendida de maneira alguma. Essa ansiedade e tensão acaba passando um pouco para mim, mas no final dá tudo certo... mais que certo.

​Como havia sido esperado: o Paulo conseguiu EXCELENTES fotografias das araras. As fotos estão demais Paulo. Parabéns!

Além das araras, o cauré (Falco rufigularis) também deu um belo show, chegando a menos de 3 metros de nós, o que possibilitou fotos beirando a perfeição.

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Saímos do buraco às 8 e fomos tomar um dos melhores cafés da manhã da viagem no alojamento. Iniciamos nossa viagem para a Chapada Diamantina às 10h e ainda paramos para fotografar o joão-chique-chique (Synallaxis hellmayri), um dos bichos que eu mais não gosto quando estou guiando. Com certeza está entre os Top 5 que não gosto de mostrar, principalmente para fotógrafos. É um bicho muito arisco e que dificilmente sai do emaranhado dos galhos secos da mata seca esturricada da caatinga nordestina. Um milésimo de segundo para focar faz a diferença no momento da foto. Nos últimos minutos do segundo tempo, conseguimos fotografar esta espécie, antes de seguir caminho para a chapada diamantina, onde mais lifers nos esperam. Que venham mais espécies... que venham mais raridades desse nosso Nordeste.

Na estrada ainda cruzamos por uma codorna-do-nordeste (Nothura boraquira), mas não saímos do carro a tempo para conseguir fotografá-la.

Fotografamos alguns bichinhos em uma lagoa no caminho situada em Itaberaba.

Chegamos na Chapada por volta das sete, bati um rápido papo com a Lia e com o Zé Carlos (donos da pousada em que ficaremos) tomando uma cerveja (fazia tempo que não bebia) e saímos para jantar.

Lifers do dia:
- Arara-azul-de-lear (Anodorhynchus leari) – Canudos-BA (67)
- Aratinga-de-testa-azul (Thectocercus acuticaudatus) – Canudos-BA (68)
- João-chique-chique (Synallaxis hellmayri) – Canudos-BA (69)

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DIA 9
Lençóis – BA, 2 de setembro de 2016 (Sexta-feira)
(Brasileiramente Linda – Belchior)

Não acordamos tão cedo quanto estou acostumado aqui na Chapada pois o foco são as fotografias. Tomamos café da manhã apenas às 5 para sair às 5 e meia.

Primeira espécie do dia: tico-tico-do-são-francisco (Arremon franciscanus). Mais um que com certeza está entre o Top 5. Um bicho bem arisco e que muitas vezes não dá bobeira.

Depois que conseguimos fotografar o tico-tico-do-são-francisco e um azulão macho pousou bem em minha frente para que eu pudesse tirar uma boa fotografia, partimos para uma área de cerrado arbustivo mais à frente. Nessa localidade conseguimos muitos bichos e passamos a manhã inteira lá. Foi sensacional! Chapada Diamantina nunca decepcionando...

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O clima estava um pouco complicado, mas ao mesmo tempo estava muito bom para fotografia. Passou a manhã inteira nublada e vez por outra dava uma boa chuviscada. Assim, foi ainda mais fácil conseguir ficar passarinhando confortavelmente até 11h.

Depois do tico-tico, conseguimos a aracuã-de-barriga-branca (Ortalis araucuan) e o tiê-caburé (Compsothraupis loricata) no caminho para a área aberta e lá conseguimos fotografar a bandoleta (Cypsnagra hirundinacea), beija-flor-de-orelha-violeta (Colibri serrirostris), bico-de-veludo (Schistochlamys ruficapillus), campainha-azul (Porphyrospiza caerulescens), choca-de-asa-vermelha (Thamnophilus torquatus), cigarra-do-campo (Neothraupis fasciata), Guaracava-de-topete-uniforme (Elaenia cristata), maria-corruíra (Euscarthmus rufomarginatus), papa-formiga-vermelho (Formicivora rufa). Está bom né? Para mim, não poderia ter sido melhor. Uma manhã muito bem aproveitada. Acho que o clima realmente ajudou.

Chegamos em Lençóis por volta de meio dia e meio e fomos direto ao “Bode” almoçar. Almoço infalível meus amigos! Quem vier aqui, pode ir lá que não tem erro. Gosto e qualidade garantido sempre.

Descansamos até 14h30 e fomos para o Morro do Pai Inácio, atrás do “dito cujo”, da “estrela da Chapada”, do “gravatinha”, seja lá o que você quiser chamar. 

E para nossa felicidade (acho que principalmente a minha), o beija-flor-de-gravata-vermelha (Augastes lumachella) não só apareceu, mas deu show!

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Lá no morro também conseguimos mais dois lifers além do Augastes, o canário-rasteiro (Sicalis citrina) e o rabo-mole-da-serra (Embernagra longicauda).

Devido ao cansaço, nem saímos para jantar. Fui na rua e trouxe dois sanduíches para comermos aqui mesmo na pousada.

Quase não consegui tomar banho de tão cansado que estava, mas hoje não foi o dia de vender o banho. Tomei meu banho e capotei em cima da cama sem precisar contar até 10 para adormecer e cair num sono profundo.

Lifers do dia:
- Aracuã-de-barriga-branca (Ortalis araucuan) – Palmeiras-BA (70)
- Bandoleta (Cypsnagra hirundinacea) – Palmeiras-BA (71)
- Beija-flor-de-gravata-vermelha (Augastes lumachella) – Palmeiras-BA (72)
- Beija-flor-de-orelha-violeta (Colibri serrirostris) – Palmeiras-BA (73)
- Bico-de-veludo (Schistochlamys ruficapillus) – Palmeiras-BA (74)
- Campainha-azul (Porphyrospiza caerulescens) – Palmeiras-BA (75)
- Canário-rasteiro (Sicalis citrina) – Palmeiras-BA (76)
- Choca-de-asa-vermelha (Thamnophilus torquatus) – Palmeiras-BA (77)
- Cigarra-do-campo (Neothraupis fasciata) – Palmeiras-BA (78)
- Guaracava-de-topete-uniforme (Elaenia cristata) – Palmeiras-BA (79)
- Maria-corruíra (Euscarthmus rufomarginatus) – Palmeiras-BA (80)
- Papa-formiga-vermelho (Formicivora rufa) – Palmeiras-BA (81)
- Rabo-mole-da-serra (Embernagra longicauda) – Palmeiras-BA (82)
- Tico-tico-do-são-francisco (Arremon franciscanus) – Palmeiras-BA (83)
- Tiê-caburé (Compsothraupis loricata) – Palmeiras-BA (84)

DIA 10
Lençóis – BA, 3 de setembro de 2016 (Sábado)
(The Unforgiven – Metallica)

Hoje tomamos café da manhã ainda mais tarde (5 e meia), mas mesmo assim, não adiantou nada! Passou a manhã chovendo. Quando eu digo “passou a manhã chovendo”, é no sentido literal mesmo: passou a manhã chovendo. Ainda fui na fé até o ponto de passarinhada com a esperança de que a chuva parasse pouco tempo depois, mas não foi isso que aconteceu. 

Voltamos para a pousada e ficamos trabalhando no computador. O Paulo revezava entre computador e fotografar os bichos no comedouro daqui da casa da geleia. Conseguiu belíssimas imagens.

Íamos almoçar no Bode novamente, mas fomos convidados pela Lia para almoçar com eles uma moela no molho do Suriname. Ficou bom ein Lia?

Logo depois do almoço, por volta das 13h30, o céu abriu e aproveitamos a oportunidade para passarinhar. Para não pegar um sol muito quente no campo rupestre, antes passamos em uma mata úmida aqui perto da cidade mesmo. Não vimos nenhum lifer para o Paulo, mas ele conseguiu boas fotografias do tangará-falso (Chiroxiphia pareola) e do surucuá-variado (Trogon surrucura aurantius), que é uma subespécie diferente.

Por volta das 3 saímos em direção ao campo rupestre, atrás de uma das últimas raridades da Chapada Diamantina, o papa-formiga-do-sincorá (Formicivora grantsaui).

Conseguimos ele e um pouco mais. 

Quando chegamos no hotel, o Paulo ficou em seu quarto organizando algumas fotos e eu fiquei tomando uma cerveja e conversando com a Lia sobre coisas da vida. Um ótimo e importante diálogo. 

Conversa vai, conversa vem, fomos convidados também para o jantar, que não poderia ter sido melhor. Ela fez uma farofa deliciosa com pedaços de carnes fritas. Comemos isso com bananas. Ficou muito bom!

Valeu por toda sua bondade de hoje e sempre Lia. Com certeza o local em que me sinto melhor durante toda a viagem.

Lifers do dia:
- Gavião-bombachinha-grande (Accipiter bicolor) – Lençóis-BA (85)
-  Papa-formiga-do-sincorá (Formicivora grantsaui) – Lençóis-BA (86)
- Patativa (Sporophila plumbea) – Lençóis-BA (87)
- Saíra-douradinha (Tangara cyanoventris) – Lençóis-BA (88)
- Tapaculo-de-colarinho (Melanopareia torquata) – Lençóis-BA (89)

DIA 11
Poções – BA, 4 de setembro de 2016 (Domingo)
(No Morro da Casa Verde – Adoniran Barbosa)

Hoje foi dia de deslocamento. Sem muita pressa e agonia, ficamos na Casa da Geleia de manhã, até o café da manhã sair, por volta das 7 e meia. Um dos melhores cafés da manhã da minha vida. Não me arrependo nada de ter investido esse tempo para o café da manhã.

Saímos do hotel às 8 e meia e fomos até a estrada de terra que liga Palmeiras à Mucugê, passando por Guiné, onde fizemos nossa primeira parada para tentar fotografar o formigueiro-do-nordeste. Sem sucesso.

Seguimos caminho fazendo algumas paradas para tentar algumas espécies que ainda não havíamos conseguido achar. Só nessa brincadeira, conseguimos o chifre-de-ouro (Heliactin bilophus), tapaculo-da-chapada-diamantina (Scytalopus diamantinensis) e o papa-capim-de-costas-cinzas (Sporophila ardesiaca).

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Pegamos estrada de terra no início da viagem e nos últimos 120Km. Seria tranquilo demais, se meu carro não estivesse com um problema de vedação. As estradas estavam ótimas, mas entrou muita poeira. Nossas malas ficaram cobertas de poeira e tivemos que ir o caminho de terra com vidros abertos para não ficarmos sufocados. Tenho que ver isso o quanto antes. Acho que vou deixar para ver isso só em Espírito Santo, talvez lá as pessoas sejam mais honestas.

Chegamos em Poções já à noite e saímos para comer uma pizza.

Deixamos tudo combinado com o Mateus para amanhã.

Lifers do dia:
- Chifre-de-ouro (Heliactin bilophus) – Palmeiras-BA (90)
- Gavião-de-rabo-barrado (Buteo albonotatus) – Ibicoara-BA (91)
- Papa-capim-de-costas-cinzas (Sporophila ardesiaca) – Palmeiras-BA (92)
- Tapaculo-da-chapada-diamantina (Scytalopus diamantinensis) – Ibicoara-BA (93)

DIA 12
Poções – BA, 5 de setembro de 2016 (Segunda-feira)
(Balada da Calma – Lula Cortês)

Hoje foi o dia de tortura com o Mateus Gonçalves. Pense num pique que o menino tem. Não vou falar pelo Paulo, mas me botou para sofrer. Não tenho biótipo de gordo, mas a mentalidade com certeza. Não costumo fazer longas caminhadas. Até aguento sabe? Mas não tenho esse costume. Tudo na vida é costume/condicionamento.

Saímos por volta das 6 para pegar o Mateus em casa e fomos para a “Serra do Arrepio”. Quase morro da subida. Brincadeiras à parte, foi uma passarinhada muito proveitosa, com direito a lifers para mim e tudo. O grande lifer foi o fruxu-baiano (Neopelma aurifrons). Não consegui fotografar, mas valeu a pena a visualização com o binóculo. Muito bom! E melhor ainda: o Paulo conseguiu uma grande foto.

Passamos a manhã por lá. O tempo não estava nada bom, com alguns momentos de chuva. Inclusive, em um momento, tivemos que tirar minha capa de chuva para passar 10min esperando a chuva passar. Foi difícil, mas deu tudo certo, conseguimos ótimos e difíceis lifers. Alguns escaparam por pouquíssimo, como o piolhinho-serrano (Phyllomyias griseocapilla) e o inhambu-chororó (Crypturellus parvirostris). O piolhinho passou uns 15 minutos cantando no topo de uma árvore do outro lado do vale enquanto o Paulo estava fotografando o gravatazeiro (Rhopornis ardesiacus) e nada de se aproximar. E o inhambu saiu no limpo, de frente para nós, mas não passou mais que um segundo e já disparou num voo explosivo para dentro dos arbustos.

Em compensação, pegamos outros bichos bem chatinhos, como o formigueiro-assobiador (Myrmoderus loricatus). Paulão que o diga. Chatinho até demais. Chegamos a desistir dele duas vezes antes de, finalmente, conseguir a foto. Não ficou essas coisas todas, mas está lá o registro.

Quando chegamos no pé da serra do arrepio novamente, já havia passado da hora do almoço. Decidimos pular o almoço para ir direto em outra área. Chegamos bem cedo e com o sol ainda quente, por voltas das 13h. Começamos a passarinhado tentando ir ao máximo pela sombra e já garantindo algumas espécies, como o tachuri-campainha (Hemitriccus nidipendulus), nossa primeira espécie fotografada no período da tarde. Uma das aves mais fofinhas que existe, juntamente com os “Todirostrum” (Teque-teque, ferreirinho-relógio etc.). 

Nesse período da tarde é que o Mateus finalizou a tortura. Sem brincadeiras, hoje andamos mais de 8Km, entre subidas e descidas muito íngremes. Foi difícil, mas valeu o esforço.

Voltamos para a cidade no finalzinho da tarde, já no escuro.

Deixamos o Mateus em casa, onde conheci rapidamente os seus pais e fomos para o hotel, depois de passar por um posto de gasolina e abastecer o carro.

Jantamos pela pousada mesmo, enquanto listamos as espécies fotografadas hoje.

Amanhã, em Boa Nova, vou dar uma boa incrementada nas espécies que faltaram hoje. Mas hoje foi muito bom porque pegamos muitas espécies difíceis, incertas e chatas de fotografar.

Pedi um filé à parmegiana, que estava uma delícia. Disso não podemos reclamar do hotel. Dos quartos sim, mas da comida...

Lifers do dia:
- Anambezinho (Iodopleura pipra) – Poções-BA (94)
- Formigueiro-assobiador (Myrmoderus loricatus) – Poções-BA (95)
- Gravatazeiro (Rhopornis ardesiacus) – Poções-BA (96)
- Jandaia-de-testa-vermelha (Aratinga auricapillus) – Poções-BA (97)
- João-baiano (Synallaxis whitneyi) – Poções-BA (98)
- Maracanã-verdadeira (Primolius maracana) – Poções-BA (99)
- Tachuri-campainha (Hemitriccus nidipendulus) – Poções-BA (100)
- Formigueiro-do-nordeste (Formicivora iheringi) – Poções-BA (101)
- Fruxu-baiano (Neopelma aurifrons) – Poções-BA (102)
- Viuvinha (Colonia colonus) – Poções-BA (103)

DIA 13
Poções – BA, 6 de setembro de 2016 (Terça-feira)
(Stuck on the Puzzle – Alex Turner)

Hoje foi “Full Day Birding” em Boa Nova.

Saímos cedo de Poções e fomos direto para a Mata do Charme, em Boa Nova. Passamos a manhã passarinhando antes de ir almoçar no restaurante da Pousada dos Pássaros (pousada do Junior e da Carol). Só pela manhã, conseguimos fotografar 12 lifers. Maravilha!

Almoçamos e bateu logo aquela preguiça sobrenatural. Ainda era cedo (13h) e não queríamos voltar logo para passarinhar, tanto pelo sol, mas também porque estávamos cansados. 

Foi aí que o Junior entrou com uma GRANDE ATITUDE, que ficará para sempre em minha memória; ele disponibilizou um quarto, durante duas horas, para que pudéssemos descansar até a nossa passarinhada vespertina. Grande Junior e Carol, meu muitíssimo obrigado! Vocês quebraram um galho grande.

À tarde fomos ao “Lajeado dos Beija-flores”. O local, mesmo se não tivesse beija-flor, valeria a visita. É um visual fantástico. O final de tarde então... infelizmente o beija-flor-vermelho não estava por lá ainda, mas em compensação, conseguimos mais um lifer para o currículo: bico-reto-de-banda-branca (Heliomaster squamosus).

Bem antes do sol se pôr, voltamos para a Mata do Charme para tentar fotografar o narcejão (Gallinago undulata). Chegamos a 1m dele, mas nada dele sair de dentro das moitas. Passamos mais de uma hora tentando, mas, dessa vez, não obtivemos êxito.

Chegamos em Poções quase 21h. Jantamos, contabilizamos as espécies e fomos para nosso quarto.

Chlorostilbon lucidus
Chlorostilbon lucidus
Heliomaster squamosus
Lepidocolaptes squamatus
Attila rufus
Claravis pretiosa
Contopus cinereus
Drymophila ferruginea
Lifers do dia:
- Arapaçu-escamado (Lepidocolaptes squamatus) – Boa Nova-BA (104)
- Arredio-pálido (Cranioleuca pallida) – Boa Nova-BA (105)
- Bico-reto-de-banda-branca (Heliomaster squamosus) – Boa Nova-BA (106)
- Caburé-miudinho (Glaucidium minutissimum) – Boa Nova-BA (107)
- Capitão-de-saíra (Attila rufus) – Boa Nova-BA (108)
- Chororó-cinzento (Cercomacra brasiliana) – Boa Nova-BA (109)
- Olho-falso (Hemitriccus diops) – Boa Nova-BA (110)
- Pararu-azul (Claravis pretiosa) – Boa Nova-BA (111)
- Pica-pau-bufador (Piculus flavigula) – Boa Nova-BA (112)
- Rabo-amarelo (Thripophaga macroura) – Boa Nova-BA (113)
- Tiê-sangue (Ramphocelus bresilius) – Boa Nova-BA (114)
- Trepador-coleira (Anabazenops fuscus) – Boa Nova-BA (115)
- Trovoada (Drymophila ferruginea) – Boa Nova-BA (116)

DIA 14
Macarani – BA, 7 de setembro de 2016 (Quarta-feira)
(Where is my Mind – Placebo)
Acordamos numa hora tranquila para tomar o café da manhã convencional do hotel. Não foi essas coisas todas. Daria para pular esse café da manhã tradicional. 

Chegamos na Mata do Passarinho 13h e já ajeitamos nossas coisas para passarinhar. Não queríamos perder tempo.

Aproveitei para lavar algumas roupas enquanto o Paulo preparava o seu equipamento.

Não ia nem comentar sobre o desastre que aconteceu hoje, mas o Paulo disse que não tinha problema de falar, então:

Estou eu lavando minhas roupas, feliz da vida, escutando as aves cantarolando, quando, de repente, escuto um estalado grande. Foi um estalado bem forte como se algo tivesse caído no telhado da casa, e talvez até quebrado uma telha. Como o problema não era meu, continuei lavando minhas roupas feliz. É quando escuto o Paulo me chamando, pedindo a chave do carro para pegar alguns de seus pertences. Quando estou indo ao seu encontro, O Bil (guarda-parque) me olha com um certo olhar de tristeza (já sabia que tinha alguma coisa muito errada) e fala “Caio, a câmera dele caiu”.

– Aaaah não! Puta merda! – Eu pensei.

Quando olhei, pensei isso mais ainda! A lente PARTIU NO MEIO! No meio!

Só para reforçar mais um pouco: ela partiu no meio!

​Vejam:

Lamentamos muito, e o Paulo até zoou comigo dizendo que queria ir direto para Porto Seguro.

– E aí Paulo? Tudo bem? – eu perguntei ao Paulo quando cheguei no alojamento e ele estava cabisbaixo.

– Quero ir para Porto Seguro agora! Essa viagem perdeu o sentido – ele respondeu.

Meu coração foi a mil.

Não é que ele estava “frescando”. Parece até que é cearense.

Ele pediu para eu colocar aqui o link do primeiro incidente com essa sua lente: http://www.wikiaves.com/1860315&t=b&p=1

Espero que depois desse conserto, a sorte venha junto. E talvez um olho grego embutido na lente seria uma boa.

De qualquer maneira, saímos para passarinhar à tarde. Mesmo sendo à tarde, ainda conseguimos bons lifers. Inclusive, 3 desses estão no meu Top 20 favoritos da viagem com certeza, que são: cuitelão (Jacamaralcyon tridactyla), sabiá-pimenta (Carpornis melanocephala), tiriba-grande (Pyrrhura cruentata).

O jantar estava uma delícia. O sono à noite, mais ainda! Dormir nesse friozinho, isolado, sem barulho de cidade; parece que está no céu. 

Lifers do dia:
- Assanhadinho (Myiobius barbatus) – Macarani-BA (117)
- Cuitelão (Jacamaralcyon tridactyla) – Macarani-BA (118)
- Sabiá-pimenta (Carpornis melanocephala) – Macarani-BA (119)
- Tiriba-de-orelha-branca (Pyrrhura leucotis) – Macarani-BA (120)
- Tiriba-grande (Pyrrhura cruentata) – Macarani-BA (121)
- Zidedê (Terenura maculata) – Macarani-BA (122)

DIA 15
Macarani – BA, 8 de setembro de 2016 (Quinta-feira)
(Dogs – Pink Floyd)

Vou confessar uma coisa aqui: estou cansado “pra caralho”!

Sabe aquela impaciência? Não é por nada não. Acho que só estou precisando de um turno de descanso mesmo. Mas tudo bem, agora só faltam 2 dias. Espero que possamos fotografar mais 20 espécies para completar as 150. Até agora já foram 130! Sei que é um número bem improvável, já que só temos mais 2 tardes e uma manhã de passarinhada, mas não custa sonhar.

Aqui na Mata do Passarinho é muito bom! Uma sensação de calma e tranquilidade sem igual. Como estou guiando, fica um pouco (muito) tenso, mas relevemos este detalhe. O plano depois dessa viagem, é descer para Espírito Santo e Minas Gerais para conhecer novos pontos de passarinhada. Na volta, com certeza vou passar uns 3-4 dias aqui em Macarani para conhecer todas as trilhas e fazer algumas gravações da avifauna local. Nesses dias de prospecção, quero focar bastante nas gravações. Foto só se der muita bobeira ou se for lifer.

Pois bem, hoje tomamos café da manhã às 6 e já saímos para passarinhar do refeitório mesmo. Fizemos a trilha do Jequitibá. Para a quantidade de espécies que tínhamos para pegar e levando em consideração a raridade e dificuldade dos bichos, podemos dizer que foi uma proveitosa passarinhada matinal.

Almoço.

Passarinhada vespertina.

Jantar.

Preguiça de escrever

(Acho que deu para perceber)

​Compenso a falta de escrita com algumas fotos de ontem à tarde e hoje:

Rio de Janeiro Antbird (Cercomacra brasiliana)
Rio de Janeiro Antbird (Cercomacra brasiliana)
Chestnut-backed Antshrike (Thamnophilus palliatus)
Chestnut-backed Antshrike (Thamnophilus palliatus)
Crescent-chested Puffbird (Malacoptila striata)
Crescent-chested Puffbird (Malacoptila striata)
Red-stained Woodpecker (Veniliornis affinis)
Black-billed Sythebill (Campylorhamphus falcularius)
Yellow-green Grosbeak (Caryothraustes canadensis)
Cinnomon-vented Piha (Lipaugus lanioides)
Green-backed Becard (Pachyramphus viridis)
Wing-barred Piprites (Piprites chloris)
Lifers do dia:
- Arapaçu-de-bico-torto (Campylorhamphus falcularius) – Macarani-BA (123)
- Araponga-do-horto (Oxyruncus cristatus) – Macarani-BA (124)
- Choquinha-de-peito-pintado (Dysithamnus stictothorax) – Macarani-BA (125)
- Gavião-pombo-grande (Pseudastur polionotus) – Macarani-BA (126)
- Papa-moscas-estrela (Hemitriccus furcatus) – Macarani-BA (127)
- Papinho-amarelo (Piprites chloris) – Macarani-BA (128)
- Pintadinho (Drymophila squamata) – Macarani-BA (129)
- Tropeiro-da-serra (Lipaugus lanioides) – Macarani-BA (130)
- Choquinha-pequena (Myrmotherula minor) – Macarani-BA (131)

DIA 16
Porto Seguro – BA, 9 de setembro de 2016 (Sexta-feira)
(Perfect Day – Lou Reed)

“Guiadas e suas 1001 surpresas”. 

Com certeza, se eu fosse escrever outro livro, esse seria o título! Não há uma viagem sequer, que não tenha “boas” surpresas. Parece até que eu sou o cara mais experiente e mais vivido. Não é não. Faz pouquíssimo tempo que estou guiando, mas em 100% delas, sempre há surpresas desagradáveis onde temos que nos desdobrar para resolver. E nem sempre conseguimos resolver da maneira que gostaríamos.  Confirmo isso também por causa de todas as histórias que o Ciro já me contou dos trabalhos de guia.

Hoje, depois de um longo dia, quando chego aqui no hotel em Porto Seguro, que, teoricamente (pelo preço) era para ser o melhor hotel da viagem, o problema: não tinham feito a reserva corretamente! Puta que pariu! Desculpe os termos, mas foi exatamente isso que passou pela minha cabeça. Como é que pode? Que porra é essa? Eu reservei a merda desses quartos? Lembrando que tudo isso foi na minha cabeça.

Ao invés de reservarem dois quartos de solteiro, reservaram só um para mim e para o Paulo. Para não fazer um vexame na frente do Paulo, acomodei-o em seu quarto e fiquei aqui fora tentando ver como isso seria resolvido. O pior de tudo é que não tinha mais NEM UM quarto disponível hoje. Que azar! Que sacanagem! Fiquei muito puto. Cinthia desgraçada! (Cinthia foi a responsável pela reserva... pela NÃO reserva).

Paulo foi para o seu quarto e eu fiquei aqui fora, na recepção, fazendo confusão à toa.

Já tinha separado minha roupa e peguei uma toalha na recepção para tomar pelo menos um banho no chuveiro da sauna. Deixei minha mala no carro e já organizei minha “cama” (o banco de trás do carro).

Quando estava indo tomar banho, um anjo sai me aparece (o Paulo):

– Caio, não te preocupas com isso, fica lá no quarto comigo cara – Ele falou.

– Paulo, tem certeza? Não quero te perturbar de jeito nenhum – eu respondi. Acho que meu sorriso já estava de ponta a ponta.

– Claro tchê! Pode ficar lá – Ele confirmou.

Acho que foi um dos momentos altos da viagem. Espero não roncar muito a noite. 

Hoje o café da manhã saiu um pouco mais tarde na Mata do Passarinho, conforme combinamos. Passarinhamos pouco menos de uma hora na mata antes de ir para o refeitório, às 7h. Comemos, arrumamos nossos pertences e saímos da reserva um pouco depois das 8. 

Fomos seguindo o Alexandre até a BR-101 por um caminho que eu ainda não conhecia, indo por Bandeira e Jacinto, em Minas Gerais. Um caminho muito esburacado, mas bem mais curto do que o que eu já conhecia, indo por Macarani mesmo.

Paramos para almoçar em um posto bem grande que fica um pouco antes de Eunápolis. Muito bom esse almoço.

Nos despedimos do Alexandre e fomos direto para a RPPN Estação Veracel para ver o que ainda conseguíamos no dia de hoje.

Chegamos por volta das 2 e ficamos até escurecer.

Aí foi que aconteceu o grande evento; eu estava morto de cansado, depois de acordar cedo, passar o dia dirigindo e ainda passarinhar à tarde sem nenhum descanso entre um e outro. Sem contar que já percorremos quase 4.000Km nesta viagem. Então o mínimo que eu esperava de um hotel, depois de tudo isso, seria um quarto para mim e um para o Paulo, como eu já havia reservado. Mas não, o hotel mais chique e mais caro da viagem acabou sendo o que me deu a maior dor de cabeça.

Se não fosse pelo Paulo, eu teria dormido no meu carro hoje.

Valeu mais uma vez Paulo. E já deixo aqui as minhas desculpas sinceras.

Lifers do dia:
- Beija-flor-safira (Hylocharis sapphirina) – Santa Cruz Cabrália-BA (132)
- Cambada-de-chaves (Tangara brasiliensis) – Santa Cruz Cabrália-BA (133)
- Maitaca-de-barriga-azul (Pionus reichenowi) – Santa Cruz Cabrália-BA (134)
- Saíra-beija-flor (Cyanerpes cyaneus) – Santa Cruz Cabrália-BA (135)
- Choca-de-sooretama (Thamnophilus ambiguus) – Santa Cruz Cabrália-BA (136)

DIA 17
Porto Seguro – BA, 10 de setembro de 2016 (Sábado)
(Since I’ve Been Loving You – Led Zeppelin)

Último dia de passarinhada. 

Confesso que no início da manhã estava um pouco preocupado com os bichos que apareceriam hoje, mas depois do primeiro lifer (um Glaucis dohrnii paradinho, no limpo, que inclusive esperou o Paulo chegar até o local onde eu estava), os outros vieram com uma naturalidade impressionante.

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Depois veio um fim-fim-grande, que percebi sua presença pelo seu canto bem distinto do fim-fim “original” que conhecemos bem. Quando olhei, não percebi diferença morfológica alguma, mas gravei seu canto só para garantir a veracidade do registro. Um bicho que realmente pode dar muita confusão só pela fotografia. Para os curiosos (como eu), aqui está a gravação que fiz do indivíduo (Gravação).

Andamos mais um pouco e dois Chauás passaram sobrevoando muito pertinho de nós. O Paulo conseguiu uma foto espetacular, já eu? Perdi a oportunidade de uma bela foto. Acho que é porque chegaram tão perto que realmente ficou difícil de focar em um momento que precisava de muita agilidade. O Paulo mandou muito bem. Se não fosse a agilidade dele para garantir a foto desse lifer, não teríamos outra oportunidade. Essa foi a única. Tentamos fazer playback ontem, tentei hoje também e nada delas virem ao nosso encontro. Então fez bem de ter garantido essa logo cedo... e bem.

Só para ver no que ia dar, eu toquei um flautim-marrom, já na certeza de que ele não viria. Não é que ele chegou bem pertinho e conseguimos fazer boas fotos. Jurava que era lifer para o Paulo, mas quando fomos verificar sua lista durante o almoço, vimos que foi engano nosso e que essa espécie ele já tinha fotografado na Amazônia. De qualquer maneira, fica aí o registro. Quem sabe em breve não separam em duas espécies distintas?

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Seguimos para o paraíso dos beija-flores (local que eu mesmo apelidei devido à quantidade impressionante de beija-flores). Nessa paradinha conseguimos fotografar o anambé-de-asa-branca (Xipholena atropurpurea), chorozinho-de-boné (Herpsilochmus pileatus) e tempera-viola (Saltator maximus).

Pegamos o carro e seguimos ainda mais um pouco para conseguir ainda mais um lifer para o Paulão, a saíra-pérola (Tangara cyanomelas). Viemos a melhorar, e muito, o registro dessa espécie no período da tarde, mas pelo menos já deu para garantir durante a manhã.

Foi só o tempo de fotografar essas saíras que já estava na hora de seguirmos caminho para uma das partes mais importantes da viagem: almoço no Portinha!

É até um segredo que compartilharei agora; Porto Seguro só faz parte do roteiro por causa desse almoço. Pelos pássaros não, só pelo almoço. Hehe.

Almoçamos, passamos no hotel para o Paulo organizar as fotografias e já voltamos para o campo. Sem descanso mesmo. Reabasteci nossa garrafinha mágica (garrafa térmica do café) e fomos, já com a ideia de ficarmos até o período noturno e procurar os bichos da noite.

À tarde conseguimos a choquinha-de-rabo-cintado (Myrmotherula urosticta), que foi uma surpresa para mim e à noite conseguimos o bacurau-ocelado (Nyctiphrynus ocellatus), que também foi uma surpresa. Legal!

Chegamos no hotel perto das 9 horas e terminamos de jantar quase às 11. Isso nunca aconteceria se não fosse o último dia.

Preparei uma dedicatória bem legal para o Paulo e dei um livro meu de presente para ele.

Lifers do dia:
- Anambé-de-asa-branca (Xipholena atropurpurea) – Santa Cruz Cabrália-BA (137)
- Bacurau-ocelado (Nyctiphrynus ocellatus) – Santa Cruz Cabrália-BA (138)
- Balança-rabo-canela (Glaucis dohrnii) – Santa Cruz Cabrália-BA (139)
- Chauá (Amazona rhodocorytha) – Santa Cruz Cabrália-BA (140)
- Choquinha-de-rabo-cintado (Myrmotherula urosticta) – Santa Cruz Cabrália-BA (141)
- Chorozinho-de-boné (Herpsilochmus pileatus) – Santa Cruz Cabrália-BA (142)
- Fim-fim-grande (Euphonia xanthogaster) – Santa Cruz Cabrália-BA (143)
- Saíra-pérola (Tangara cyanomelas) – Santa Cruz Cabrália-BA (144)
- Tempera-viola (Saltator maximus) – Santa Cruz Cabrália-BA (145)

​Alguns bichinhos que deram bobeira hoje:

Blue-throated Parakeet (Pyrrhura cruentata)
Blue-throated Parakeet (Pyrrhura cruentata)
Rufous-throated Sapphire (Hylocharis sapphirina)
Rufous-throated Sapphire (Hylocharis sapphirina)
Lifers do dia:
- Anambé-de-asa-branca (Xipholena atropurpurea) – Santa Cruz Cabrália-BA (137)
- Bacurau-ocelado (Nyctiphrynus ocellatus) – Santa Cruz Cabrália-BA (138)
- Balança-rabo-canela (Glaucis dohrnii) – Santa Cruz Cabrália-BA (139)
- Chauá (Amazona rhodocorytha) – Santa Cruz Cabrália-BA (140)
- Choquinha-de-rabo-cintado (Myrmotherula urosticta) – Santa Cruz Cabrália-BA (141)
- Chorozinho-de-boné (Herpsilochmus pileatus) – Santa Cruz Cabrália-BA (142)
- Fim-fim-grande (Euphonia xanthogaster) – Santa Cruz Cabrália-BA (143)
- Saíra-pérola (Tangara cyanomelas) – Santa Cruz Cabrália-BA (144)
- Tempera-viola (Saltator maximus) – Santa Cruz Cabrália-BA (145)

DIA 18
Porto Seguro – BA, 11 de setembro de 2016 (Domingo)
(The End – The Doors)

O combinado seria acordar às 6h, mas acho que eu desliguei o despertador quando ele tocou e só acordamos às 6h45. Que bosta ein!? Mas a verdade é que tínhamos bastante tempo até a hora do voo dele, que só seria às 10.

Tentamos imprimir o papel de check-in na recepção, mas não deu certo. Não sei porque, mas não deu certo.

Ele tomou café da manhã rapidamente, fechou as malas e, antes das 7 e meia, já estávamos partindo para o aeroporto.

Tomei café da manhã na volta, depois de ter cortado minhas unhas e feito a barba. Sempre bom dar uma renovada.

Tomei café da manhã, arrumei minhas malas e fechei a conta.

Agora estou por conta própria. Vamos ver o que vai acontecendo daqui em diante. O futuro é incerto, e quando eu estou envolvido, mais ainda!

Assim que sai do hotel, liguei para a minha mãe e passamos mais de uma hora conversando. Muitas novidades! Muitas mesmo.

Desliguei o telefone e já entrei em contato com o Alexandre para nos encontrarmos em Arraial d’Ajuda.

...

...daqui em diante, já estamos em outra expedição, a “Expedição ES-MG”.
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    Caio Brito

    Ornitólogo, escritor e aventureiro. Mestre em Zoologia e aprendiz da vida.

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